Estado de Minas
Superar obstáculos, pedra sobre pedra, até alcançar a vitória. A diversão na parede de escalada, na verdade, anuncia um projeto de vida para a estudante Maria Júlia Mendonça, de 16 anos, de Bauru, no interior de São Paulo. A jovem não está de brincadeira e, desde cedo, mantém o foco em seus objetivos. A parede de escalada em questão é na sede do escritório do Google em Belo Horizonte, o único na América Latina voltado para engenharia, que abriu as portas para 80 meninas do Brasil inteiro, como forma de incentivá-las a seguir carreira na área de exatas, território ocupado massivamente por homens. De acordo com dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), as engenheiras correspondem a apenas 14,3% dos profissionais da área. Do total de 1,4 milhão, 204 mil são mulheres.
[pro_ad_display_adzone id=”44899″ align=”left”]Em sua segunda edição, o projeto Mind the Gap, da multinacional de serviços on-line e softwares, apresentou o universo da tecnologia para alunas do 2º ano do ensino médio de escolas públicas e particulares bem classificadas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). E nada melhor do que romper barreiras num ambiente de inovações mundiais. É no escritório de BH que são desenvolvidas, por exemplo, ferramentas do sistema de busca usado no mundo todo. Além de passar um dia imersas na empresa, as meninas foram em outra data ao Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
“As mulheres têm menor interesse em exatas por uma construção cultural que tem tudo a ver com o machismo. Em geral, as mulheres escolhem profissões em que vão ajudar as pessoas”, comenta a cientista da computação Izabella Maffra, de 27, voluntária do projeto. Há três anos e meio trabalhando no Google, ela afirma que a ideia do projeto é dar impulso e liberdade às meninas nas escolhas de carreira. “Estamos quebrando estereótipos e queremos pelo menos que elas se perguntem se vão fazer computação”, ressalta.
Aluna do 2º ano do Colégio Técnico de Bauru, interior de São Paulo, Maria Júlia Mendonça, uma das alunas selecionadas para participar do programa, não vai fazer computação, mas fez uma descoberta e tanto com a experiência, ao ampliar seus horizontes em relação às ciências médicas. Ela quer unir a habilidade em eletrônica, ênfase de seu curso técnico, com a formação em medicina, que pretende cursar. “Descobri o inesperado. Posso fazer neurologia, que eu amo, e ajudar na parte de tecnologia”, disse, empolgada.
Também de Bauru, Maria Eduarda Garcia, de 16, que cursa a escola técnica de informática, encontrou nas engenheiras do Google um espelho e incentivo. “Independentemente de ser mulher, pela minha capacidade, posso ser uma grande cientista da computação”, diz. Ela estava em dúvida e chegou a cogitar fazer o curso de direito. “Mas vi que mesmo nas exatas posso me envolver com projetos de inclusão e diversidade”, anima-se.
PRESENÇA FEMININA Engenheira da computação do Google, Camila Matsubara, de 30, explica que o Mind the Gap surgiu em 2008, em Israel. “Tentamos inspirá-las e mostrar essa carreira como possibilidade”, explica. A própria empresa ilustra essa discrepância e tenta mudar o cenário. Enquanto as mulheres ocupam 30,9% do total de postos de trabalho na multinacional, se considerada a área de tecnologia, elas correspondem a apenas 21,4% dos empregados. No ano passado, eram 17,4% envolvidas em computação e programação.
Ganhadora de três olimpíadas de matemática e uma de física, Camila Rondelli, de 16, tem fome de conhecimento. Se possível fosse, encheria uma mão inteira de diplomas: química, biotecnologia, engenharia aeroespacial, matemática, português. A confiança não a deixa ter receio de alcançar seus ideais, mesmo que sejam em áreas em que elas historicamente têm participação menor, como a de ciências exatas. “Se a pessoa for dedicada, ela consegue superar todos os obstáculos”, afirma. E parece que é por esse caminho que ela vai mesmo seguir: “Sinto-me realizada: conhecer o Google era um sonho que mudou a minha vida”.