Tivemos o primeiro capítulo da votação nas Eleições 2018. E neste primeiro ato verificamos que muita coisa mudou desde as últimas eleições.
Constatamos uma tímida renovação (bem menos do que se esperava). No entanto, o perfil dessa renovação foi interessante. O que se via normalmente com o caráter familiar (de pais para filhos… avôs/avós para netos), passou a seguir 3 tendências: pessoas ligadas à segurança pública, empresários e evangélicos.[pro_ad_display_adzone id=”44899″ align=”right”]
No Poder Legislativo:
O que chamou bastante atenção em todo território nacional foi o perfil conservador dos candidatos eleitos.
No Senado Federal, a configuração mudou bastante: de 15 partidos presentes passamos para 21. O PT foi o partido que sofreu maior perda: de 13 cadeiras passou para 6. Ademais, PCdoB e Psol ficaram sem representantes no Senado.
Na Câmara Federal, os partidos MDB e PSDB haverem encolhido (de 51 e 49 cadeiras para 33 e 29, respectivamente), outros partidos ganharam bastante força. Um exemplo foi o PSL de Bolsonaro (que antes tinha 8 vagas na Câmara e agora conta com 52).
Aqui em nossas terras: dos 77 Deputados atuais, 64 se candidataram a reeleição, dos quais 51 foram eleitos. 26 foi o número de novos Deputados. O número de partidos também se alterou bastante: de 19 para 27. O partido que perdeu maior número de cadeiras foi o MDB que saiu de 14 para 7 vagas.
No Poder Executivo Estadual:
Nas nossas Minas Gerais o eleitor não manda Recado. Ele decide: o atual Governador sequer foi para o 2º Turno. O que reflete a franca insatisfação com o governo Petista.
Romeu Zema, do Partido Novo, foi o mais votado. Merece, ainda maior destaque, o fato de que o Partido Novo não utiliza do Fundo Eleitoral (recursos públicos destinados aos Partidos para que façam suas campanhas eleitorais). A título de exemplo, Fernando Pimentel (PT) utilizou-se dos mais de 212 milhões destinados ao PT para sua campanha. Dinheiro que poderia ter sido empregado em saúde, educação e segurança.
Teremos 2º Turno. No dia 28/10 Minas Gerais, pela primeira vez, será marcada pela disputa real entre a “Velha Política” contra a “Nova Política”.
No Poder Executivo Nacional:
Também teremos 2º Turno (foi por pouco que não foi decidido logo no 1º Turno). Jair Bolsonaro liderou disparadamente os votos. Em todas as regiões do país ele conseguiu votação expressiva. Apenas no Nordeste foi vencido pelo candidato Haddad.
Estaremos diante da maior polarização dos últimos 20 anos: de um lado um candidato marcado por posições polêmicas e de outro candidato vinculado ao partido responsável pelo maior escândalo de corrupção verificado na história da humanidade.
Haddad é o candidato escolhido pelo ex-Presidente Lula para concorrer em seu lugar (Lula não concorreu por haver sido condenado em 2ª Instância na Operação Lava Jato e está preso). Foi o prefeito de São Paulo com governança marcada pela humanização das relações. Por muitos foi tido como o pior prefeito da história de SP. Particularmente, entendo que não foi uma gestão primorosa, mas também não foi negativa a este ponto.
Fernando Haddad participa ativamente do governo Petista com destaque:
- Em 2003 integrou o Ministério do Planejamento;
- Em 2005 assumiu o cargo de Ministro da Educação;
- Em 2012 foi eleito prefeito de São Paulo (principal cidade do país);
Destaco os bons trabalhos realizados à frente do Ministério da Educação. Nesta pasta fomentou o acesso ao ensino superior por meio de crédito e buscou implementar novas políticas públicas.
Bolsonaro, filiado ao nanico PSL, frequenta o conhecido “baixo clero” da Câmara Federal pelo sétimo mandato seguido. Ficou conhecido nacionalmente por adotar posições populistas e por não primar pelo diálogo. No campo econômico, apresenta posicionamento desenvolvimentista. Já votou em apoio a Fernando Henrique e Lula em diversos temas econômicos.
Muito se diz sobre o fraco desempenho de Bolsonaro durante sua participação no Congresso. Segundo o Portal da Câmara dos Deputados, ele apresentou 643 Projetos de Lei. Dentre os quais alguns me chamam mais atenção:
- Nova política de registro, posse e comercialização de arma de fogo e munição. (PL 10539/2018).
- Autorização ao uso de Fosfoetanolamina Sintética para pacientes com câncer e inclusão deste medicamento no rol fornecido pela Rede Pública de Saúde (PL 4510/2016).
- Tornar crimes hediondos: todos aqueles praticados com emprego de arma de fogo (PL 4730/2016), inclusive roubo de veículos (PL 106/2007).
- Determinação de bloqueadores de celulares e radiotransmissores em presídios e penitenciárias (PL 1281/2015).
- Obrigatoriedade de revista pessoal aos visitantes em estabelecimentos prisionais (PL 860/2015).
- Isenção de impostos a quem seja portador de: Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (PL 7473/2014), Lupus (PL 5481/2009).
- Aumento de pena para crime de estupro (PL 5398/2013).
- Garantia de 50% das vagas para Deputados Federais às populações negras e pardas (PL 354/2006).
- Autoriza órgãos de segurança publica a utilizar armas e munições apreendidas ou encontradas (PL 6163/2005).
Vejam que os exemplos acima, pelo menos inicialmente, se apresentam como bons Projetos. No entanto, vários deles não foram aprovados. Talvez, até mesmo pela baixa influência de seu partido na Câmara dos Deputados. Ali, andorinha sozinha não faz verão e é necessário o bom relacionamento. E isso, Bolsonaro não tem.
Porém agora é diferente, a maioria da câmara dos Deputados e do Senado eleitos são apoiadores diretos e/ou indiretos de Bolsonaro.
Curiosidade/Perplexidade
Um ponto que causou bastante estranheza foi o número de abstenções, votos Brancos e Nulos.
- 20,32% deixaram de comparecer. Ou seja, 1 a cada 5 brasileiros não votaram. É o maior número de faltantes desde 1998.
- Mais de 8% de todos os que compareceram às eleições votaram Branco (2,65%) ou Nulo (6,14%).
Portanto, foram mais de 40 MILHÕES de votos jogados fora. Para ser mais exato: 40.250.453 votos. Veja que o segundo colocado nas eleições presidenciais recebeu 31 milhões de votos.
Ou seja, praticamente, 1/3 de nossa população apta a votar deixou de manifestar sua vontade para o futuro do país. Como diria Lewis Carroll por meio do Gato de Alice no País das Maravilhas:
Para quem não sabe onde vai, qualquer caminho serve.
Acredito que não é bem assim e que não pode ser assim. Devemos participar. Devemos nos fazer ouvidos. Devemos compartilhar ideias e discutir sobre os futuros de nosso país. O voto consciente é o produto de todo um processo de envolvimento político.
Que país você quer?