No imaginário infantil, as cores têm um significado importante. Colorir é abrir espaço para a criatividade e a imaginação. Ultimamente, porém, tem crescido o número de crianças interessadas em outro tipo de pintura: a maquiagem. Entre diferentes opiniões de especialistas, fica para os pais a grande questão: as crianças podem ou não usar maquiagem e esmalte?
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Brasil é um dos maiores mercados mundiais de cosméticos infantis. De olho na segurança dos pequenos, o órgão criou uma cartilha para definir regras sobre os produtos destinados a eles.
O documento diz que criança deve usar produtos específicos para a faixa etária, que são elaborados de acordo com as características da pele dela. Para a maquiagem, a Anvisa define como quesitos essenciais baixo poder de fixação, fácil remoção dos produtos com água, além de testes em diferentes tonalidades do produto para avaliar o potencial de irritação, sensibilização e toxicidade oral. Ainda é permitido, nesses itens, o uso de substâncias que tenham o gosto ruim, para evitar que as crianças levem à boca.
Para os esmaltes, ficou definido que os permitidos são aqueles à base de água, que podem ser removidos sem uso de acetona. A Anvisa ainda alerta que maquiagens para boneca e as comercializadas como brinquedos não podem ser aplicadas nos pequenos, pois não são formuladas com ingredientes próprios para a pele infantil nem propiciam a segurança necessária.
Cuidados e riscos
Para a psicóloga Jeane Moreira, de fato, é importante observar qual é a função e o significado desses produtos para as crianças. Ela explica que os pequenos se identificam com os adultos — um processo de imitação de comportamento natural e esperado. Muitas vezes, elas querem fazer uma maquiagem para ficar igual à mãe.
Jeane ressalta que, neste contexto de criação, brincadeira e faz de conta, o uso de cosméticos pode ser explorado, contanto que haja a mediação dos pais. Ainda assim, a psicóloga alerta para os riscos. “Precisamos pensar que a criança, da mesma forma que os adultos, é influenciada pelo que acontece à sua volta, e tudo isso é um estímulo para o comportamento dela. A nossa sociedade prega um padrão de beleza e isso pode influenciar a criança, gerando nela ansiedade e insegurança. É preciso cuidar para que não haja uma adultização e a criança pule etapas do desenvolvimento.”
O que dizem especialistas?
Não há consenso sobre a idade mínima para o uso dos cosméticos, mas o médico alergista Hermínio de Paula lembra que a pele da criança tem uma estrutura diferente, por isso todo cuidado deve ser redobrado. “A pele é mais sensível, a espessura é menor e diversos mecanismos de defesa ainda não estão amadurecidos durante a infância, favorecendo irritações e infecções”, justifica.
Hermínio ainda explica que o uso de maquiagem e esmalte não é recomendado para crianças e que os principais perigos são a exposição aos diversos agentes potencialmente tóxicos — metais, como o níquel, e conservantes, como o parabeno, que podem ser inalados ou ingeridos.
Além disso, ele lembra que o contato desses compostos com a pele pode causar irritação e doenças como dermatite ou urticária de contato, que levam a dor e desconforto e podem causar lesões tanto superficiais quanto profundas, com possibilidade de cicatrizes.
A dermatologista Thaís Bittencourt explica que, do ponto de vista dermatológico, o ideal é evitar o uso de qualquer tipo de produto. Essa é uma forma de diminuir a chance de a criança ficar exposta a uma dermatite de contato ou a uma alteração do eixo endócrino metabólico. Para ela, a maquiagem deveria ser permitida após a puberdade e, ainda assim, com muito cuidado. “Se for aplicada em crianças abaixo dos 12 anos, é muito importante que tenha atenção ao selo da Anvisa, porque ela regulamenta e determina os produtos permitidos. E, mesmo assim, não ser um uso rotineiro, tem que ser esporádico e lúdico, em tom de brincadeira.”
Depois da brincadeira, Thaís explica que é indispensável higienizar a pele com sabonetes adequados, que não produzam tanta espuma e que sejam específicos para a pele sensível.