O Globo
ISTAMBUL — A Procuradoria de Istambul afirmou nesta quarta-feira que o jornalista saudita Jamal Khashoggi foi estrangulado pouco depois de entrar no consulado da Arábia Saudita na cidade, no dia 2 de outubro. O órgão confirmou que a vítima teve o corpo desmembrado como parte de um plano “premeditado” de homicídio. Foi a primeira vez que autoridades turcas descreveram explicitamente como a morte do jornalista ocorreu, embora detalhes da investigação tivessem sido vazados antes para a imprensa local e estrangeira. [pro_ad_display_adzone id=”44899″ align=”right”]
No mesmo comunicado, a Procuradoria informou que não houve “resultados concretos” nas conversas ocorridas nesta semana entre o procurador chefe Irfan Fidan e o seu colega saudita Saud al-Mojeb, que esteve em Istambul.
O comunicado diz que “o corpo da vítima foi desmembrado e destruído após a morte por sufocamento”. Trata-se do mais claro posicionamento das autoridades turcas sobre o destino de Khashoggi desde o assassinato, em 2 de outubro.
A Turquia pediu a extradição das 18 pessoas detidas pelas autoridades sauditas como parte da investigação sobre a morte do jornalista, mas a solicitação foi rejeitada por Riad. Khashoggi, um jornalista crítico do regime de Riad, compareceu ao consulado no dia da sua morte para cumprir trâmites administrativos para seu casamento com uma cidadã turca. Um dublê do profissional deixou o prédio com roupas semelhantes às suas, para despistar o crime.
A Arábia Saudita demorou a reconhecer que o jornalista havia morrido no consulado. Depois, atribuiu o caso a uma briga no local. Pressionado pela Turquia, cujas investigações indicaram que Khashoggi havia sido morto, o país apresentou narrativas contraditórias para o sumiço dele. A admissão saudita só veio após a diretora da CIA Gina Haspel, que esteve na Turquia para levantar informações sobre a morte, escutar uma gravação de áudio do assassinato obtida pela polícia turca.
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan declarou que o jornalista foi assassinado durante uma operação planejada e executada por um comando de 15 agentes sauditas. Mais de três semanas após o assassinato, os investigadores ainda não encontraram o corpo de Khashoggi . Erdogan exigiu que as autoridades sauditas revelassem para onde o cadáver foi levado.
Depois de afirmar que o jornalista de 59 anos havia deixado o consulado, Riad reconheceu a morte, mas divulgou versões contraditórias: primeiro afirmou que uma briga provocou a morte e depois que Kashoggi foi assassinado em uma operação “não autorizada” e da qual as autoridades máximas, começando pelo príncipe herdeiro Mohamed bin Salman, “não estavam informadas”.
A imprensa turca apontou que várias pessoas do entorno de Bin Salman estão entre os 15 agentes que teriam sido enviados a Istambul com a missão de eliminar Khashoggi.