O atual vice-governador de Minas Gerais, Antonio Andrade (MDB), preso em um desdobramento da Operação ‘Lava Jato’ na manhã desta sexta-feira (9), teria recebido pelo menos R$ 15 milhões pagos em propinas repassadas a outros parlamentares mineiros, em um suposto esquema de corrupção investigado pela Polícia Federal no Ministério da Agricultura, durante o governo de Dilma Rousseff (PT). [pro_ad_display_adzone id=”44899″ align=”right”]
Segundo as investigações da Polícia Federal, enquanto era ministro da Agricultura, entre 2013 e 2014, Andrade recebeu R$ 15 milhões em propina, tendo repassado parte do dinheiro a candidaturas de deputados estaduais e federais de Minas Gerais, durante as eleições de 2014. O responsável por transferir o dinheiro a Andrade teria sido o deputado federal Eduardo Cunha (MDB), que usou outros R$ 15 milhões de propina para financiar sua própria campanha vitoriosa à Presidência da Câmara dos Deputados, segundo as investigações.
O principal objetivo do suposto esquema seria privilegiar no mercado internacional e nacional a empresa JBS, do empresário Joesley Batista, preso nesta sexta-feira na mesma operação, batizada de Capitu. A PF ainda trabalha para identificar todos os parlamentares mineiros que teriam sido beneficiados no esquema de corrupção.
Preso em uma fazenda em Vazante, no Noroeste de Minas, o vice-governador de Minas foi encaminhado para o Presídio Professor Jacy de Assis, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, onde ficará preso em uma cela especial.
Para favorecer a JBS, uma das propinas, no valor de R$ 2 milhões, teve o objetivo de impedir que frigoríficos de menor porte pudessem exportar despojos — partes de carnes bovinas não consumidas no Brasil, mas com mercado consumidor na Ásia, de acordo com a PF. Outros R$ 5 milhões serviriam para que o Ministério da Agricultura barrasse o uso do medicamento ivermectina, usado em combate de parasitas de longa duração de gados bovinos, após reclamações de empresários americanos sobre a qualidade da carne exportada ao país pela JBS.
Em outra frente da investigação, o vice-prefeito de João Pessoa, Manoel Junior (MDB), é acusado de receber R$ 50 mil em propinas para manipular a Medida Provisória (MP) 653/2014 em favor da JBS, quando ainda era deputado federal. Apesar de dispor sobre regulações para o setor farmacêutico, a MP recebeu uma cláusula fora de seu objetivo regulatório, que obrigava as inspeções frigoríficas a serem realizadas apenas pelo Ministério da Agricultura, beneficiando a JBS.
Segundo a Polícia Federal, as investigações provaram que parte dos valores pagos como propina a políticos foram transportados em malas e até mesmo em caixas de sabão em pó.
Mensalinho
Também no âmbito das investigações, a Polícia Federal identificou que o sucessor de Antonio Andrade à frente do Ministério da Agricultura, o deputado federal eleito pelo PP do Mato Grosso, Neri Geller, recebia um “mensalinho” no valor de R$ 250 mil mensais para favorecer a JBS enquanto foi ministro da pasta, entre março de 2014 e dezembro de 2015. Outros funcionários do Ministério da Agricultura também são investigados por supostamente receberem propinas mensais com o mesmo objetivo.
Financiamento ilegal de campanha
Durante as investigações, a Polícia Federal também identificou que duas redes de supermercados de Belo Horizonte foram usadas para realizar doações de campanha “com roupagem de legalidade”. Durante a campanha eleitoral de 2014, diversas doações eleitorais foram feitas pelos supermercados, mas com dinheiro de propina da JBS, repassado a candidaturas do MDB.