POR AGÊNCIA EFE
O governo da Nicarágua afirmou que o país assistiu a uma tentativa de golpe de Estado por parte de grupos políticos disfarçados de organizações não governamentais (ONGs), associados ao crime organizado e financiados a partir do exterior.
“Elas (as ONGs) executaram sequestros, torturas, extorsões, assassinatos, saques, obstrução de vias públicas, destruição e incêndios de edifícios públicos. (…) Esta tentativa de golpe de Estado atentou contra a paz, a segurança, a estabilidade e a economia do povo da Nicarágua”, denunciou o Ministério das Relações Exteriores em um comunicado. [pro_ad_display_adzone id=”44899″ align=”right”]
Na semana passada, em discurso, o presidente Daniel Ortega, já havia acusado organizações não-governamentais dos Estados Unidos e da União Europeia (UE) de serem cúmplices dos “crimes” ocorridos durante os protestos contra seu governo desde o último mês de abril e que deixaram centenas de mortos.
“Eles são cúmplices destes crimes e eles também deveriam pagar por estes crimes”, afirmou o presidente nicaraguense em discurso na Praça da Revolução, em Manágua, na presença de representantes do conselho de ministros e chanceleres da Aliança Bolivariana para os Povos da América (ALBA), na última quinta-feira (8).
Segundo Ortega, as centenas de mortes provocadas pela crise na Nicarágua foram provocadas pelos seus opositores no país, “treinados por ONGs dos Estados Unidos e da Europa”, que não identificou.
O mesmo tom foi adotado no documento do Ministério.
“As ações terroristas e os crimes cometidos deixaram como resultado 198 pessoas mortas (o governo reconhece 199), das quais 22 eram membros da Polícia Nacional, 1.240 pessoas feridas, das quais 401 são oficiais das forças de segurança”, afirmou o relatório.
Segundo o documento, 252 edifícios públicos foram vandalizados, 209 quilômetros de ruas e estradas destruídos. Além disso, 278 máquinas pesadas e 389 veículos foram inutilizados nos protestos.
A Chancelaria nicaraguense ainda afirma que as autoridades do país trabalharam para identificar os responsáveis pelos crimes e que, até o início do mês, 273 pessoas foram presas no país.
O relatório também destaca que o governo de Ortega segue comprometido com a reconciliação e com a paz no país.
A Nicarágua vive uma crise social e política que provocou uma série de protestos contra o presidente do país. Segundo organizações de direitos humanos locais e estrangeiras, entre 325 e 535 pessoas morreram desde abril. O governo só reconhece 199 vítimas.
Em julho, a estudante brasileira Raynéia Gabrielle Lima foi morta a tiros no país.
O Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Acnudh) e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) responsabilizaram o governo por mais de 300 mortes. Além disso, as duas organizações acusaram o país de promover execuções extrajudiciais, torturas, obstrução ao atendimento médico, prisões arbitrárias, sequestros e violência sexual.
Ortega negou as acusações e afirmou que foi vítima de uma tentativa de golpe de Estado por parte da oposição.
Prejuízos e desemprego
O Ministério de Relações Exteriores da Nicarágua diz que os protestos provocaram perdas de US$ 961,4 milhões e deixaram quase 120 mil pessoas sem emprego.
“Os danos ocasionados à economia foram calculados em US$ 205,4 milhões em destruições no setor público, US$ 231 milhões em perdas no setor turístico e US$ 525 milhões no transporte”, disse o ministério em um relatório divulgado nesta segunda-feira.