O tráfico e uso de drogas nas escolas mineiras é um desafio diário para as autoridades. A cada 24 horas, pelo menos um crime do tipo é registrado no interior das unidades de ensino. Na tentativa de reduzir as ocorrências, ontem, a Polícia Civil deflagrou operação que terminou com 51 pessoas detidas, sendo 27 adolescentes, em todo o Estado.
O aliciamento dos estudantes preocupa. “Normalmente, eles (traficantes) atuam vendendo nas imediações e fazem contato com os alunos para revender dentro das escolas”, frisou o superintendente de Investigação e Polícia Judiciária, Carlos Capristrano.
Até mesmo familiares podem estar usando meninos e meninas para a atividade ilícita nos colégios. É o que acredita a chefe da Divisão Especializada em Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente, Isabella Franca Oliveira. A delegada contou que, em outubro, uma criança de apenas 7 anos foi flagrada com crack em sala de aula. Ao ser questionada, ela disse que a droga era do irmão adolescente.
Acompanhamento
Isabella Franca destaca, ainda, a importância da participação dos pais para evitar que os filhos sejam aliciados por bandidos. “Os traficantes se aproveitam de que os jovens estão em uma fase de descobertas. As famílias precisam acompanhar os estudantes para até impedir o primeiro contato deles com as drogas”.
Atitudes também devem ser tomadas pela direção da escola, destaca Luís Flávio Sapori, coordenador do Centro de Estudos em Segurança Pública da PUC Minas. “Quanto mais permissiva for a instituição de ensino, maior será a atuação de criminosos dentro dela”.
O especialista ressalta que, hoje, tanto o consumo quanto a venda de entorpecente nesses locais viraram casos de polícia. “No entanto, o uso deveria ser corrigido internamente, por meio de regras disciplinares”, diz.
Em nota, a Secretaria de Estado de Educação (SEE) informou orientar os educadores a acionar a polícia quando detectado qualquer crime nas dependências das instituições. Ainda segundo a pasta, está em fase de implantação um sistema de registro de situações que permitirá “o planejamento e a execução de políticas públicas mais pontuais para a prevenção e redução da violências no ambiente escolar”.
De acordo com o Sindicato das Escolas Particulares de Minas (Sinep), não existem ações unificadas neste sentido, mas frequentemente a entidade realiza cursos e palestras para que a instituição se informe quanto aos temas relevantes e preocupantes do ambiente escolar. “Acreditamos que o diálogo e a conscientização são as melhores formas de combate ao tráfico e consumo de drogas”, ressaltou, em nota.
A operação da Polícia Civil terminou na noite de ontem. Doze unidades de ensino foram visitadas e 88 mandados de busca e apreensão, cumpridos.
Denúncias
A participação da comunidade é essencial na identificação das ocorrências de tráfico de drogas no ambiente escolar. É o que afirma a chefe da Sala de Imprensa da Polícia Militar mineira, capitão Danúbia Lopes. “Temos o patrulhamento escolar, cujos policiais visitam as escolas em determinados horários, mesmo tendo registro ou não de problemas. Essa aproximação, inclusive, gera confiança, o que permite à direção da instituição de ensino relatar os casos nos espaços”.
O Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), desenvolvido desde 1998 em escolas mineiras, é outra aposta da corporação para evitar o uso e tráfico de entorpecentes nesses locais. Segundo a capitão, após a operação realizada ontem pela Polícia Civil, é possível que a PM reforce o monitoramento em áreas onde houve prisão de suspeitos.
No país
Coordenada pelo Ministério da Segurança Pública, a operação Anjos da Lei foi realizada nos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. Ao todo, 8 mil policiais participaram da ação, que cumpriu mandados de busca e apreensão e de prisão dentro e no entorno de escolas. Até o fechamento desta edição, ao menos 166 pessoas já tinham sido detidas.
Segundo o ministro da Segurança Pública, Raul Jugmann, o objetivo é evitar que os jovens sejam capturados pelo tráfico. “Nós sabemos que, infelizmente, o tráfico ronda as nossas escolas, ronda os estudantes e busca sobretudo desde idade tenra levar jovens e estudantes a usarem drogas”, disse.