Minas Gerais, com destaque para Belo Horizonte, reúne diversos casos de sucesso de startups que passaram pelas rodadas de aceleração do Seed (Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development). Considerado um dos maiores da América Latina, o programa do Governo mineiro foi criado para fomentar negócios de tecnologia e inovação no estado. Ideias gestadas neste ambiente criaram musculatura, alcançaram êxito e crescimento em ritmo forte.
Diante da avalanche de informações que todos os dias invadem a internet, abriu-se espaço para o surgimento de startups que simplificam a vida do cidadão no momento de comparar e adquirir algo disponível no mercado. De olho nesse segmento, o Seed investiu, até o momento, R$ 20,9 milhões em cinco rodadas de aceleração de novos empreendimentos.
Com esses estímulos, Minas Gerais se transformou em polo de inovação e celeiro de startups para atender a um mercado de consumo sem limite de crescimento, com a oferta diária de novos produtos e serviços. Entre as centenas que se sobressaem e crescem oferecendo negócios ancorados na tecnologia, algumas despontam como exemplos bem sucedidos do Seed.
Um guia dos planos de telefonia
A startup Melhor Plano é uma delas. Surgiu em 2015 para ajudar o consumidor a economizar nas suas contas de telefonia fixa e celular. Agora, já se prepara a expansão dos seus serviços para planos de saúde, cartão de crédito, contas bancárias, consórcios, entre outros.
Segundo o sócio-fundador, Pedro Israel, o público-alvo é abrangente e, por isso, ele acredita que há espaço para crescer. Ao mesmo tempo, espera ver um dia todos os consumidores inquietos com as contas por acharem caras e, a partir daí, procurar o Melhor Plano para buscar algo mais barato.
O empreendedor relata que a ideia nasceu de uma necessidade familiar – sua e do seu sócio, Felipe Byrro -, de buscar redução de preço e melhoria no serviço de telefonia celular, uma realidade de muitas famílias no país. A partir daí, os dois desenvolveram o projeto e o apresentaram na Startup Chile, onde foi desenvolvida a primeira versão do Melhor Plano.
Em 2016, os empreendedores participaram da rodada de aceleração do Seed, que ajudou na visibilidade e credibilidade das soluções tecnológicas oferecidas.
“Foi um período muito especial, crescemos três vezes em seis meses, nos envolvemos com a comunidade e fizemos parcerias com outras startups, entre elas a Monetus, com a qual dividimos experiências e o andar do prédio onde estamos instalados. A ajuda financeira do Governo Estadual nos permitiu crescer o time e arriscar mais”, ressalta Pedro Israel.
Com concorrentes no mercado, a empresa mineira lidera esse trabalho de comparação de preços, oferecendo, com tecnologia, a simplificação no processo de escolha para o consumidor.
“Cerca de 500 mil pessoas consultam a plataforma melhorplano.net todos os meses. Nosso modelo de negócio é ajudar o usuário a encontrar algo melhor, uma vez que ele escolhe o plano na nossa plataforma. Lá, colocamos as duas partes em contato e o parceiro finaliza o processo com o cliente. A nossa receita é gerada com essas parcerias”, observa Israel.
Hoje, a Melhor Plano tem 25 colaboradores, entre funcionários, estagiários e freelancers. A maioria está ligada ao escritório principal em Belo Horizonte, mas há aqueles que trabalham em São Paulo, Rio de Janeiro e Poços de Caldas, além de colaboradores na Região Metropolitana de BH.
Pedro Israel acredita que o momento de crise econômica no país gera oportunidade para as pequenas empresas. “De um lado, os consumidores precisam economizar e a nossa plataforma ajuda muito. Do outro estão os nossos parceiros comerciais que precisam otimizar as vendas para cortar custos”, avalia. “A expectativa é dobrar a receita em relação a 2017 e, para 2019, triplicar o faturamento com os novos projetos”, conclui.
Apoio a empresas de e-commerce
Em 2014, nasceu em Florianópolis (SC) a Lett Digital, startup criada com a ideia de auxiliar as pessoas a economizarem em suas compras de supermercado, uma plataforma parecida com a “Buscapé”.
No entanto, em 2015, o negócio deixou de ser um comparador de preços dos supermercados para se transformar em produto de trade marketing digital focado no atendimento a empresas de bens de consumo e varejo do Brasil. O objetivo é ajudar as marcas a melhorar a exposição dos seus produtos na internet, por meio do e-commerce.
Ainda em 2015, a Lett Digital se mudou para Belo Horizonte e concentrou as operações comerciais em São Paulo, onde está a maioria dos seus clientes. Naquele ano, a startup conquistou, como cliente, a Nestlé – maior empresa de bens de consumo do mundo.
De lá para cá, a startup cresceu, atraiu outras grandes marcas e se internacionalizou, passando a operar também no México, Colômbia, Chile e Argentina. A estrutura de colaboradores chega a 30, o que representa crescimento de 30% no último trimestre.
Para o diretor de Marketing da Lett Digital, Rodrigo Carvalho, a participação na rodada de aceleração do Seed foi importante para o desenvolvimento. Primeiro, pela capacitação oferecida aos fundadores, engenheiros de formação e com background mais técnico.
“Quando você cria uma empresa, precisa desenvolver outras habilidades como gestão, marketing, recursos humanos, vendas, entre outros. O Seed trouxe empreendedores para relatar experiências, erros que cometeram e o que fizeram para dar a volta por cima. Os mentores também nos deram dicas de como lidar com situações que enfrentaríamos adiante. Foi muito positivo”, diz Carvalho.
Outra vantagem crucial do programa, na opinião do diretor da Lett Digital, é o investimento do Governo do Estado nas startups, praticamente a “fundo perdido”. Para essa empresa, o recurso foi destinado à tecnologia, desenvolvimento de produto e atração de clientes.
Em 2017, a startup apresentou um crescimento de 500% em relação ao ano anterior. E, ao final de 2018, a expectativa é de chegar a 300% em comparação a 2017, resultado considerado muito bom pela direção da Lett Digital.
Para os próximos anos, espera-se um crescimento no Brasil e nos demais países da América Latina, com o lançamento de novos produtos. A empresa pretende conquistar mercados considerados mais maduros, como o europeu, o norte-americano e o asiático.
Cotação de moedas estrangeiras
Com inovação e empreendedorismo na veia, a capital mineira abriga também o Melhor Câmbio (MC). Trata-se do maior site de comparação de moedas de toda a América Latina, com presença em 300 cidades e atendimento a mais de 2 milhões de usuários mensalmente.
Fundado em 2015 por dois engenheiros, o MC é um marketplace (lugar de fazer negócios) que une pessoas e casas de câmbio interessadas em comprar e vender moedas estrangeiras. Os usuários têm acesso às cotações em tempo real e ainda podem negociar, por meio de um sistema de lances on-line, o quanto estão dispostos a pagar. São 1.000 casas de câmbio integradas à plataforma mineira.
Segundo o diretor de Marketing do Melhor Câmbio, Alexandre Monteiro, participar da terceira rodada de aceleração do Seed foi importante para desenvolver diversas áreas da empresa, como Marketing e Departamento Comercial. “Tivemos a oportunidade de trocar experiências com outras startups e nos conectar com importantes profissionais do mercado”, afirma.
Monteiro ratifica que o Melhor Câmbio é o site que trabalha com o maior número de corretoras e correspondentes cambiais e possui as taxas mais atualizadas entre os seus concorrentes.Além disso, o empreendedor diz que a startup tem superado as metas de crescimento estabelecidas desde a sua criação.
“Como o nosso negócio está relacionado à economia para os usuários que desejam comprar moeda estrangeira, a nossa ferramenta é muito útil”, analisa. A média anual de crescimento tem sido 120%, mas, para 2018, a perspectiva é mais otimista: 150% em relação a 2017.
Reconhecimento
Os investimentos do Governo mineiro no segmento de startups têm o objetivo de inserir o estado, definitivamente, no modal dos avanços tecnológicos. Nesse contexto, Minas Gerais – que até então era tido quase exclusivamente como produtor de commodities agrícolas e minerais – ampliou sua vocação e passou a ser um estado reconhecido, nacional e internacionalmente, pela criação de soluções tecnológicas, por meio das suas startups.
O capital investido no Seed pelo Governo do Estado tem origem na Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sedectes) e na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Há, ainda, o San Pedro Valley, uma das maiores comunidades de startups do Brasil, que também ajuda no fomento às iniciativas, compartilhando conhecimento e promovendo o desenvolvimento empreendedor em Belo Horizonte.
“Acho importante ressaltar que o Seed deu certo. Nosso principal objetivo é fomentar projetos de base tecnológica e promover o empreendedorismo. Hoje, vemos diversos projetos e movimentos sendo criados, não apenas em BH, mas em outras regiões do estado e do país. Agora, temos densidade e estamos prontos para dar o próximo passo”, ressalta o coordenador-geral do programa, Daniel Oliveira.
Segundo Oliveira, o programa chegou a um nível mais alto de maturidade, criando oportunidades para novos empreendedores, ajudando na construção de projetos de sucesso. Por isso, “o Seed tem se mostrado imprescindível ao crescimento da inovação e do empreendedorismo”, enfatiza.
O programa de aceleração de startups para empreendedores interessados em desenvolver seus negócios em Minas Gerais foi lançado em 2013 e reformulado na atual gestão. Em 2016, ganhou novo formato, instalado em uma sede mais adequada para receber um número maior de interessados. Após cinco rodadas, o Seed posicionou Minas Gerais e Belo Horizonte, especialmente, como um dos principais polos de inovação do Brasil, com reconhecimento mundial.
Mais quatro dezenas de startups
Para a quinta e atual rodada de aceleração – iniciada em 30 de julho e com prazo para terminar em 30 de janeiro de 2019 -, foram inscritos 1.073 brasileiros e estrangeiros. Desse total, o Seed selecionou 40 startups, seguindo os critérios definidos pelo programa.
O perfil das empresas é heterogêneo, desde fintechs (área financeira), edutec (educação), economia compartilhada por meio de aplicativo para carona ou moradia, entre outros.
Os investimentos do Governo do Estado nessa etapa chegam a R$ 3,5 milhões para acelerar as startups escolhidas. Além dos seis meses de formação, cada empresa recebe de R$ 68 mil a R$ 80 mil de capital semente. Desse total, R$ 44 mil são direcionados ao desenvolvimento de projetos, como a contratação de pessoal e serviços de terceiros.
O restante do recurso é direcionado para a permanência dos empreendedores no estado, com o repasse de uma bolsa mensal de R$ 2 mil durante os seis meses. O programa permite que até três pessoas de uma startup participe da rodada, o que representa R$ 12 mil por empreendedor e R$ 36 mil no total.
De acordo com Daniel Oliveira, o Seed foi criado para estimular a cultura empreendedora e a inovação no estado. Uma das suas características é a concessão de incentivo financeiro à pessoa física, nacional ou estrangeira, que esteja pronta a desenvolver negócios de base tecnológica em Minas Gerais.
O sistema é equity free, ou seja, o Governo mineiro não se tornará sócio, apesar do recurso empregado. Essa é a principal diferença das aceleradoras privadas, que se tornam sócias das startups contempladas com recursos.
A startup contemplada não precisa ter CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), apenas o CPF (Cadastro de Pessoa Física) do empreendedor. “Além do incentivo financeiro, toda a estrutura do programa é fundamental para auxiliar no desenvolvimento dos projetos e aumentar suas chances de sucesso no mercado.”, argumenta o coordenador-geral do Seed.
Em sua nova fase, o programa mudou de local e agora funciona no Hub Minas Digital, que fica no Circuito Liberdade, no prédio conhecido como Rainha da Sucata. O ambiente é propício à inovação, com universidades no entorno, e que abriga, ainda, o Meu Primeiro Negócio, programa também conduzido pelo Governo do Estado e direcionado aos jovens.