Minas vai perder metade dos profissionais que atuam no Mais Médicos. Exatos 608 cubanos, conforme dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES), estão prestes a deixar o programa, após decisão tomada pelo país de origem dos contratados. A ruptura do convênio, que afeta todo o Brasil, foi anunciada ontem pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Ainda não se sabe quando eles deixarão os postos de trabalho. [pro_ad_display_adzone id=”44899″ align=”right”]
No Estado, 285 cidades têm pelo menos um especialista estrangeiro na equipe de saúde da família. Apesar de o Ministério da Saúde garantir que as vagas serão repostas, a falta de informações sobre o futuro da iniciativa deixa os gestores apreensivos.
“É preciso uma ação rápida, pois se os cubanos saírem, muitos pacientes ficarão prejudicados. Hoje, quem paga o salário deles é o governo federal, nós não temos como arcar com esse custo”, afirmou o presidente da Associação Mineira dos Municípios (AMM), Julvan Lacerda.
Prefeito de Moema, na região Centro-Oeste, ele afirma que os dois estrangeiros que atendem usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) na localidade estão ansiosos. “Querem ficar, já estão entrosados com as pessoas”.
Embora considere ideal a colocação de médicos brasileiros nos postos de saúde, Julvan acredita ser necessária a criação de iniciativas que contemplem a formação de mais profissionais. É, inclusive, o que defende o professor da UFMG Cornelis Van Stralen, especialista em gestão pública de saúde.
“A quantidade de cubanos em Minas é considerável, e eles estão em locais onde dificilmente os brasileiros iriam, o acesso à saúde foi ampliado. A retirada pode gerar um grande problema, uma parcela de municípios pode ficar sem atenção médica”, avaliou Stralen.
A presidência do Conselho Regional de Medicina (CRM) de Minas foi procurada, mas não foi localizada.
Decisão polêmica
Ao anunciar que deixará de fazer parte do Mais Médicos, o governo de Cuba alegou que as exigências feitas pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, são “inaceitáveis” e “violam” acordos.
Segundo o novo chefe do Executivo nacional, a permanência dos estrangeiros está condicionada à realização do Revalida, exame aplicado aos médicos que se formam no exterior e querem atuar no Brasil.
À tarde, Bolsonaro voltou a se manifestar pelas redes sociais afirmando que não irá suspender o programa. “Estamos formando, tenho certeza, em torno de 20 mil médicos por ano, e a tendência é aumentar esse número. Nós podemos suprir esse problema com esses médicos. O programa não está suspenso, (médicos) de outros países podem vir para cá. A partir de janeiro, pretendemos, logicamente, dar uma satisfação a essas populações que serão desassistidas”.
Edital
Após o anúncio do fim da parceria entre os governos brasileiro e cubano, o Ministério da Saúde informou que irá lançar, nos próximos dias, edital para médicos brasileiros que queiram assumir as vagas que serão abertas. De acordo com a pasta, será priorizada a convocação dos candidatos formados no território nacional. Em seguida, de quem foi diplomado no exterior.
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que já vinha trabalhando, desde 2016, na redução de profissionais estrangeiros no programa. Há dois anos, 11.400 cubanos estavam vinculados à iniciativa. Atualmente, 8.332 das 18.240 vagas do Mais Médicos são ocupadas por eles.
Professor da UFMG, Cornelis Van Stralen diz ser necessário criar estratégias para atrair recém-formados em medicina para atuar em cidades distantes e mais carentes. Segundomuitos profissionais que estudam nos grandes centros preferem ficar nesses locais. “Havendo atratividade, os novos poderão ir para outros municípios. Eles poderão se especializar e suprir a necessidade de atendimento à saúde”, frisou.
Por sua vez, o Ministério da Saúde informou que estuda a negociação com alunos formados por meio do Programa de Financiamento Estudantil (Fies). “Essas ações poderão ser adotadas conforme necessidade e entendimentos com a equipe de transição do novo governo”.