Começa nesta sexta-feira (30) em Buenos Aires, na Argentina, e termina no sábado (1º) o encontro das 20 maiores economias do mundo, a cúpula do G20. A expectativa é que a “guerra comercial” e as preocupações com o crescimento da economia mundial se destaquem entre as principais discussões.
Alguns dos principais líderes mundiais já desembarcaram em Buenos Aires. A capital argentina, que destacou 24 mil agentes de segurança para trabalhar no evento, recebe os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump; da Rússia, Vladimir Putin; da China, Xi Jinping; o príncipe saudita Mohammad bin Salman, entre outros. As autoridades estimam a participação de cerca de 15 mil pessoas, incluindo 3 mil jornalistas, na cúpula.
O encontro de líderes do G20 completa 10 anos. O primeiro aconteceu em 2008, em meio às preocupações causadas pela crise financeira iniciada no mercado imobiliário norte-americano.
A Argentina recebe o evento em meio a tentativas de conter a crise financeira que está enfrentando, que levou o país a pedir socorro novamente ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
O começo do encontro deve ser marcado por manifestações. Para esta sexta, movimentos sociais argentinos convocaram protesto contra o encontro, que foi autorizada pelo governo do país. O ato deve percorrer as avenidas 9 de Julio e De Mayo, com destino à Plaza de los dos Congresos. O líder social argentino Juan Grabois promete uma “mobilização pacífica e em massa” na sexta para criticar o G20.
Brasil
O presidente do Brasil, Michel Temer, desembarcou no início da noite de quinta-feira (29), em Buenos Aires, para participar da reunião de cúpula do G20.
A agenda de Temer prevê nesta sexta um encontro informal com os líderes do Brics, grupo formado por Brasil, China, África do Sul, Índia e Rússia. À tarde, ele deve se reunir com os primeiros-ministros de Singapura, Lee Hsien Loong, e da Austrália, Scott Morrison. Mais tarde, Temer deve comparecer a um jantar em homenagem aos líderes do G20 oferecido pelo presidente da Argentina, Maurício Macri.
De acordo com o Itamaraty, na cúpula deste ano, o Brasil “reiterará seu compromisso com a democracia e com as reformas econômicas, no plano doméstico, bem como com a defesa do diálogo e do multilateralismo, no plano externo”.
No começo de novembro, Temer disse que convidou o presidente eleito Jair Bolsonaro para acompanhá-lo. “Disse a ele que, quando ele queira, nós poderemos ir juntos para o exterior”, afirmou Temer após encontro com Bolsonaro.
Dias depois, Bolsonaro, que está com uma bolsa de colostomia após ser alvo de uma facada durante a campanha, declarou que precisa evitar realizar viagens longas por motivo de saúde, e, portanto, não deve acompanhar Temer na reunião do G20.
Tensões comerciais
A reunião entre Trump e Xi Jinping deve dominar as atenções do evento. Os Estados Unidos vêm impondo tarifas sobre produtos importados de outros países, especialmente da China. O país asiático, por sua vez, vem anunciando taxas extras sobre produtos norte-americanos em retaliação, em um movimento de “guerra comercial” que vem atingindo outros países e gerando preocupações sobre o crescimento global.
Nesta quinta-feira (27), líderes da União Europeia (UE) divulgaram uma carta conjunta indicando que devem pressionar por reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC) na cúpula do G20.
Países da UE, assim como o Canadá e o Japão, foram atingidos pelas tarifas sobre produtos de aço e alumínio impostas pelos Estados Unidos no início de 2018.
“A ordem internacional baseada em regras está sob crescente pressão e as tensões do comércio global permanecem sem solução, afetando negativamente as perspectivas econômicas globais”, disseram na carta o presidente do conselho da União Europeia, Donald Tusk, e o chefe da Comissão Europeia, o braço executivo da UE, Jean-Claude Juncker.
Na carta, eles defenderam ainda que as regras da OMC precisam ser adaptadas a novos desafios globais, como subsídios industriais, transferência forçada de tecnologia e outras políticas que distorcem o mercado.
Os EUA já aplicaram tarifas sobre US$ 250 bilhões em produtos chineses e ameaçaram taxar outros US$ 267 bilhões. A China, por sua vez, fixou tarifas sobre bens americanos no valor total de US$ 110 bilhões, de acordo a BBC.
Já um relatório do grupo de monitoramento de restrições comerciais do G20 aponta que as restrições comerciais dos Estados Unidos atingiram US$ 369 bilhões em exportações chinesas neste ano, muito acima dos US$ 278 bilhões afetados apenas por tarifas. Ao mesmo tempo, tarifas retaliatórias chinesas afetaram US$ 87,5 bilhões em exportações dos EUA neste ano. Os dados são do relatório de Alerta Comercial Global, produzido por Simon Evenett e Johannes Fritz na Universidade de St Gallen na Suíça.
A cúpula do G20 deve ser marcada ainda por discussões sobre a necessidade de refirma da OMC, especialmente após o bloqueio pelos Estados Unidos da nomeação de novos juízes para o órgão de apelação da organização. O receio é que o julgamento de conflitos comerciais fique comprometido.
EUA, Rússia e Ucrânia
O confronto marítimo entre Ucrânia e Rússia no mar de Azov também deve ter repercussões na cúpula do G20. Trump tem uma reunião marcada com Putin, mas não está claro se o encontro irá mesmo acontecer. Na quinta-feira (29), o Kremlin informou que a reunião estava mantida conforme o previsto, mas horas mais tarde Trump a cancelou pelo Twitte
Nesta terça-feira (27), Trump já havia afirmado, em entrevista ao jornal “Washington Post”, que talvez não fosse ao encontro, por causa do novo conflito entre Rússia e a Ucrânia iniciado no fim de semana. Ele também disse aguardar um “relatório completo” da equipe de segurança nacional sobre a crise no Leste Europeu.
Nesta quarta-feira (28), mesmo após as declarações de Trump, Putin disse que espera se encontrar com o norte-americano na Argentina. “Eu espero que possamos discutir barreiras comerciais. Trump no geral tem uma atitude positiva”, disse a um fórum financeiro em Moscou, de acordo com a agência Reuters.
Presença de príncipe saudita
O príncipe saudita Mohammad bin Salman chegou na manhã desta quarta a Buenos Aires para a reunião do G20. Sua chegada acontece em meio a um furor internacional pelo assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi e por um pedido da Human Rights Watch (HRW) de que a Argentina o investigue por crimes de guerra no Iêmen. Segundo a imprensa argentina, a Justiça do país deve decidir nesta quarta se vai investigá-lo.