O cerco aos ambulantes que trabalham com balas, doces e guloseimas nas portas das escolas mineiras deverá se fechar completamente em até seis meses. Decreto publicado nesta semana pelo Estado proíbe a venda de alimentos calóricos e ricos em açúcar tanto dentro quanto no entorno das instituições de ensino públicas e privadas.[pro_ad_display_adzone id=”44899″ align=”right”]
Quem desrespeitar a lei poderá ser punido. A medida chega para regulamentar uma lei de 2004, que prevê a promoção da educação alimentar no ambiente escolar. O motivo principal, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), é o “aumento expressivo nos casos de excesso de peso em todas as faixas etárias”.
Em Minas, o percentual de crianças de 5 a 10 anos que estão obesas saltou de 6,3%, em 2008, para 9,6% em 2015. Especialistas alertam para os riscos de doenças graves, uma vez que a maior parte dos hábitos alimentares é formada na infância e na adolescência.
Professora do curso de nutrição das Faculdades Kennedy, Raquel de Deus Mendonça, pós-doutora em saúde e enfermagem, reforça a necessidade da abordagem nas escolas. Ela ainda destaca que os pais sejam alertados sobre os riscos da má alimentação. “Os nutricionistas precisam estar nesses ambientes e a família nunca pode ser deixada de fora do processo educacional”, frisa.
Ameaças
A chefe do Departamento de Nutrição da UFMG, professora Luana Caroline dos Santos, lembra que as cáries, colesterol elevado e diabetes são ameaças até mesmo para as crianças. “Podemos ter uma geração inteira com problemas de saúde, o que trará custos elevados para a sociedade. Por isso, quanto mais cedo esse processo de educação alimentar começar, melhor para todos”, avalia.
Para substituir a dieta, os cardápios podem conter bolos caseiros, saladas de frutas, vitaminas, iogurte, frutas e sucos naturais, como explica a responsável técnica pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar em Minas, Tatiane Guimarães. Segundo ela, um regulamento que lista todos os alimentos permitidos e restritos será publicado nas próximas semanas.
Ambulantes
Hoje, dentro das unidades de ensino públicas, a merenda é produzida de acordo com orientações nutricionais. No entanto, o comércio no entorno não é regulado. Tatiane garante que os ambulantes não poderão ficar nos portões de acesso. Porém, não há uma distância mínima estabelecida da área autorizada.
Na saída do turno da manhã, o carrinho do vendedor José Cordeiro, de 60 anos, fica abarrotado de estudantes do Instituto de Educação de Minas Gerais (Iemg), na região Centro-Sul de BH. Balas, chicletes e chup-chup estão entre os produtos que mais saem.
“Se as crianças não comprarem de mim, vão em outro”, afirma o vendedor. “Tenho vontade de vender alimentos saudáveis, como açaí e salada de frutas, mas dependo do interesse dos adolescentes”, afirma José.
Implementação
A presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep), Zuleica Reis, destaca que as instituições já são instruídas a adotar um cardápio saudável. Para ela, o ponto mais delicado da regulamentação é a fiscalização. “As cantinas estão orientadas a não vender alimentos calóricos e refrigerantes, mas se a criança traz de casa ou compra fora da escola?”, questiona.
Um processo de orientação a todas as escolas será iniciado a partir de janeiro, explica Ângela Ferreira Vieira, diretora de Vigilância em Alimentos da SES. “Haverá divulgação e um tempo de adaptação. O Ministério Público e os Procons, inclusive, já estão cientes”, afirma.