A Polícia Federal (PF) faz buscas no apartamento do ministro da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab (PSD), em São Paulo, nesta quarta-feira (19). A ação decorre da delação da JBS – um delator da empresa afirma que o político recebeu mesada de R$ 350 mil por mês em 2009, quando era prefeito de São Paulo, em troca de defesa dos interesses do grupo. O ministro disse que “não há nada que macule” sua imagem.
Os policiais também fazem buscas na residência de Renato Kassab, irmão do ministro. Os agentes da PF cumprem, ao todo, oito mandados na capital, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, em São José do Rio Preto, no interior, e em Natal, no Rio Grande do Norte.
A ação da PF ocorre após petição da procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Nela, Dodge afirma que os colaboradores Wesley Batista e Ricardo Saud informaram ter repassado R$ 58 milhões ao ministro em duas situações distintas, entre elas a mesada de R$ 350 mil. os pagamentos teriam ocorrido entre 2010 e 2016, alcançando, ao todo, R$ 30 milhões.
“O objetivo dos pagamentos era contar com poder de influência do ministro em ‘eventual demanda futura de interesse do referido grupo’. Para viabilizar os repasses, os envolvidos celebraram contrato fictício de prestação de serviços com uma empresa do ramo de transportes que possuía relação comercial com a J&F”, diz nota da Procuradoria Geral da República (PGR).
Os mandados foram autorizados pelo ministro Alexandre de Moares, do Supremo Tribunal Federal (STF), e têm como base o inquérito que investiga se Kassab cometeu corrupção passiva, lavagem de dinheiro e caixa-dois. O ministro também determinou a quebra do sigilo bancário e telefônico de Kassab e das empresas investigadas.
O advogado do ministro chegou à residência, no Itaim Bibi, Zona Sul, pouco antes das 7h e entrou sem falar com a imprensa. Ele acompanhou o cumprimento do mandado de busca.
Por telefone, o ministro disse que está em Brasília e, por isso, não acompanhou a ação dos agentes em sua casa. “Ao longo de todos esses anos de vida pública não há nada que me comprometa no campo da imoralidade. Estou tranquilo porque sempre respeitei os princípios da ética. Estou à disposição do Ministério Público e do Poder Judiciário. Não há nada que macule minha imagem”, disse.
Kassab foi nomeado secretário da Casa Civil do governador eleito de São Paulo, João Doria (PSDB). Considerado um homem forte do governo devido às suas habilidades de negociação, ele será o articulador político do Palácio dos Bandeirantes com os deputados na Assembleia Legislativa.
O caso
O inquérito apura o suposto pagamento do grupo J&F ao ministro por meio de contratos com as empresas Yape Transportes e Yape Consultoria, ligadas ao político. A investigação mira ainda repasses feitos pelo mesmo grupo a Kassab referentes à uma suposta compra do apoio político do PSD pelo PT.
As investigações foram abertas com base na delação de premiada de Wesley Batista e Ricardo Saud, executivos do Grupo.
Na colaboração, Wesley contou que quando era prefeito de São Paulo, em 2009, Kassab recebia R$ 350 mil de propina por mês num aluguel de caminhões. Segundo o delator, durante seis anos foram pagos cerca de R$ 20 milhões.
Saud, por sua vez, disse que Kassab teria vendido apoio político do PSD à campanha da ex-presidente Dilma Rousseff à reeleição em 2014.
Os pagamentos teriam sido efetuados pelo grupo J&F, por meio de doações oficiais.