Pelo menos 16 mineiros não veem a hora de ter um novo coração. O transplante é um dos mais delicados, mas é a esperança de muitas pessoas para voltarem a ter uma vida normal. De acordo com o MG Transplantes, o número de procedimentos no Estado aumentou de 36 para 50 nos últimos dois anos – um salto de 38%. Porém, há quem aguarde mais de 12 meses na fila pela cirurgia.
Em 2019, sete transplantes foram realizados até ontem. Um deles ocorreu na Santa Casa de Belo Horizonte na primeira quinzena deste mês. O felizardo é o pescador José Valter Ferreira, de 64, diagnosticado com a doença de Chagas em 2015. A cirurgia é inédita na unidade de saúde, que está comemorando o 120º aniversário.
Após quatro anos sentindo cansaços extremos, dificuldade em andar e em falar, ele precisou ser internado às pressas em dezembro de 2018. A notícia do transplante, contudo, o deixou preocupado. “Pensei que fosse ser muito difícil, não tinha expectativa alguma”, relembrou, com os olhos cheios de lágrimas.
Entretanto, poucos dias depois, a esperança bateu à porta do pescador. Os médicos informaram que ele seria o primeiro a receber um coração na Santa Casa da capital. “Para mim, o mundo alegrou de novo. Eu me dava como morto e, agora, sair e passear, que nem cogitava em meu estado, estão nos planos para quando tiver alta”, afirma José, que é casado, tem dois filhos e cinco netas. “Todo mundo está muito feliz”.
A doença que levou José ao transplante, de acordo com o cardiologista Sílvio Amadeu Andrade, que acompanha o paciente, corresponde a 40% dos procedimentos do tipo feitos em Minas. “Aqui no Estado, como também em São Paulo e na Bahia, temos muitas ocorrências de Chagas. É uma característica da nossa região”, explica.
“Antes de realizar o transplante, é preciso levar em consideração o tamanho do coração e os exames do doador e da pessoa que irá recebê-lo” (Sandra Vilaça, nefrologista e coordenadora da unidade de transplantes do Hospital Felício Rocho)
Alívio
Diretor de Assistência à Saúde do Grupo Santa Casa BH, Guilherme Riccio aponta que o primeiro transplante de coração na instituição se apresenta como um novo espaço aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) e pretende desafogar outros hospitais que oferecem o serviço. Em Minas, cinco hospitais realizam o procedimento, quatro deles na capital.
“É possível dizer isso (desafogar) com base nas outras cirurgias feitas por aqui. No ano passado, por exemplo, foram diversos transplantes de fígado, medula, osso e rim”, pontua. Segundo ele, é preciso que a cultura da doação de órgãos faça parte da cultura do brasileiro, pois é uma forma de salvar vidas. “A população, principalmente a menos assistida, tem o direito a viver”.