Até 55 mil empregos estão ameaçados no Estado com a suspensão, nos próximos três anos, das operações de 11 unidades da Vale. Entre elas, nove minas, conforme anunciado na última terça-feira (29/01) pela empresa. A produção nesses empreendimentos será interrompida para o descomissionamento (integração à natureza) de dez barragens construídas pelo método de alteamento a montante. [pro_ad_display_adzone id=”44899″ align=”right”]
Os reservatórios são iguais aos de Fundão, em Mariana, na região Central, e Mina do Feijão, em Brumadinho, que se romperam em romperam em 2015 e na última sexta-feira, respectivamente.
Segundo a Vale, 5 mil funcionários diretos serão remanejados por conta da paralisação das atividades. Conforme o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), cada vaga no setor gera até 11 empregos indiretos em vários segmentos, incluindo comércio e restaurantes.
Na indústria de transformação mineral, que engloba siderurgia e metalurgia, o fator multiplicador é de 3,6. Isso significa que o afastamento dos funcionários da mineradora pode fechar até 18 mil postos de trabalho em outras indústrias.
Os empreendimentos cujas operações serão interrompidas estão em Nova Lima e Brumadinho (na Grande BH) e Ouro Preto e Congonhas (região Central), que mais devem sofrer os impactos. “As cidades vizinhas também serão fortemente afetadas, pois muita gente trabalha nesses locais”, afirma o presidente do Sindicato Metabase de Brumadinho, Agostinho José Sales.
Ele afirma que a entidade irá reivindicar direitos para os terceirizados e prestadores de serviço. “Sem o salário, as localidades vão acabar. Se a pessoa for transferida para outra região, ela gastará o dinheiro longe. Os municípios estão sem saída”. Nesta quinta-feira (31/01), uma reunião será realizada entre o representante dos trabalhadores e da Vale. Na pauta, está um abono de cinco salários para cada trabalhador, inclusive terceirizado, e a estabilidade de pelo menos dois anos no emprego.
Rafael Ávila, presidente do Sindicato Metabase Inconfidentes, que abrange Congonhas, Ouro Preto e Belo Vale, também está preocupado. “Há dez anos denunciamos as barragens a montante e só depois das tragédias elas serão descomissionadas. A Vale tem dinheiro para operar a seco, mas vai colocar a conta nas costas do trabalhador. Só no terceiro trimestre de 2018 o lucro dela foi de mais de R$ 5 bilhões”.
Prefeito de Congonhas, Zelinho tenta um encontro com a mineradora para discutir a interrupção da produção. “As barragens são pequenas e ficam distantes da população. Os moradores estão em pânico porque ficarão sem renda”, afirma.
“O rompimento da barragem da Samarco, em Mariana, reduziu o PIB da mineração e a tragédia da Vale, em Brumadinho, deve achatá-lo ainda mais. Em 2016, a mineração representava 5,7% do PIB mineiro. Em 2016, dado mais recente, era de 2,9%” (Glauber Silveira, pesquisador da Fundação João Pinheiro)
Impacto
Com os cofres no vermelho, o Estado também será afetado. A previsão é a de que, sem as minas da companhia, 40 milhões de toneladas de minério de ferro deixem de ser produzidas, refletindo em queda de 30% na arrecadação de tributos estaduais no setor da mineração, informou a Secretaria de Estado de Fazenda. O impacto anual deve ser de R$ 220 milhões. A Vale foi procurada para comentar o assunto, mas não se pronunciou.