Estado de Minas
Representantes do Ministério Público do Trabalho (MPT) e entidades sindicais irão amanhã a Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, para ouvir os trabalhadores atingidos pela tragédia do rompimento da Barragem Córrego do Feijão. Com estimativa de 300 mil trabalhadores do setor de mineração em Minas Gerais, sendo aproximadamente 70 mil da Vale, conforme o presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Extrativas do Estado de Minas Gerais (FTIEMG), José Maria Soares, o futuro dessa mão de obra é cada dia mais incerto. Insegurança, receio e dúvidas sobre o ganha-pão preocupam as entidades que representam esses trabalhadores. A instituição, ao lado do Sindicado dos Trabalhadores na Indústria de Extração de Ferro e Metais Básicos de Brumadinho e Região (Metabase), que inclui os municípios de Betim, Mateus Leme, Ibirité, Igarapé, Mário Campos, Sarzedo, São Joaquim de Bicas e Juatuba, entregaram pauta com sete reivindicações para a diretoria da Vale na última terça-feira (29/01).[pro_ad_display_adzone id=”44899″ align=”right”]
As duas entidades, ao lado de representantes de outros sindicatos profissionais, também estiveram na quinta-feira (31/01) com procuradores do MPT, membros do Grupo Especial de Atuação Finalística (Geaf), que fizeram a primeira reunião para colher as informações iniciais que vão instruir o inquérito de investigação na esfera trabalhista do caso Vale em Brumadinho. Órgão e entidades terão atuação conjunta.
A FTIEMG, que conta com com 15 entidades sindicais filiadas e defende os direitos dos trabalhadores inorganizados, ou seja, atuando nos lugares em que não há entidade de classe, entregou na terça-feira, em conjunto com o Agostinho José Sales, presidente da Metabase, um documento que solicita a adoção, em caráter de urgência, de medidas preliminares de proteção à categoria profissional de todos os trabalhadores da Vale, diretos e terceirizados, lotados no município de Brumadinho e região. José Maria as enumera: “Garantia de emprego por dois anos para todos os trabalhadores. Assim como o pagamento imediato de um abono emergencial de cinco salários. A manutenção do pagamento dos salários para as famílias dos trabalhadores da Vale mortos e desaparecidos. O pagamento de todos os gastos com despesas médicas, hospitalares, de hospedagem, transporte, velório, bem como todas as despesas conexas, advindas do rompimento da barragem. A concessão imediata de licença remunerada para todos os trabalhadores até comprovação inequívoca da eliminação completa dos riscos de novos acidentes.”
A sexta reivindicação é a “emissão imediata da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) para todos os trabalhadores que tenham sofrido qualquer dano físico ou mental, ou que tenham desaparecido ou falecido em virtude do rompimento da barragem, com encaminhamento das cópias para as entidades sindicais signatárias”. E por fim, a sétima exigência é a “manutenção do plano de saúde para os familiares dos trabalhadores mortos, contratados diretamente pela Vale ou terceirizados”. Conforme José Maria, ontem houve uma reunião a respeito da pauta, mas a diretoria da Vale não apresentou nenhuma medida concreta: “Tivemos duas reuniões com representantes da empresa. A primeira ocorreu na sede do Metabase, em Brumadinho, no dia 29. E a segunda na quinta-feira, dia 31, em Belo Horizonte. Em ambas, os representantes sindicais ressaltaram a importância de serem adotadas medidas urgentes para reduzir a insegurança e o sofrimento dos trabalhadores e suas famílias. Eles se comprometeram a levar o pleito para análise da diretoria e dar uma breve resposta.”
ATORDOADOS José Maria conta que a Federação está presente desde o dia em que a barragem rompeu em Brumadinho tomando as providências ao alcance da entidade. O sentimento de revolta é enorme: “A posição que a Vale anuncia agora deveria ter sido tomada anos atrás para evitar as tragédias de Mariana e Brumadinho. O que aconteceu é um crime premeditado da empresa que ceifou vidas e o meio ambiente e nunca serão reparados”, afirma. “Tanto é verdade que eles mesmos já reconheceram e vão acabar com as barragens construídas pelo sistema de alteamento a montante. Não há como dimensionar essa tragédia de Brumadinho”, completa.
Conforme o presidente, ele ainda não tem tido muito retorno dos trabalhadores de Brumadinho “já que todos estão atordoados”. José Maria também confessa que a FTIEMG “não recebe denúncias dos trabalhadores simplesmente por medo e pela necessidade de manter o emprego”. “Por isso o trabalho de conscientização é bem difícil. E como para cada região/cidade há um sindicato, há muitos que estão mais preocupados em assinar acordo coletivo do que denunciar o descaso das empresas. Há posições divergentes e a federação não pode intervir na base do sindicato.”
Quanto ao futuro dos trabalhadores, José Maria afirma que “ficar sem minerar não vão. A empresa precisa, o estado necessita e o trabalhador depende da mineração. Agora, precisamos, sim, de um emprego que garanta vida, segurança, dignidade e a preservação do meio ambiente.”