A angústia de deixar a casa própria e a preocupação com animais domésticos é um sentimento compartilhado entre moradores de povoados de Barão de Cocais, na região Central de Minas, na manhã deste sábado (9). Na madrugada de sexta-feira (8), as comunidades de Socorro, Piteiras e Tabuleiro foram evacuadas por risco de rompimento de uma barragem da Vale na mina de Gongo Seco, no vilarejo de mesmo nome.
A estrutura, segundo a mineradora, atingiu o nível 2 do Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração, que prevê a evacuação da área que seria afetada em ruptura da barreira de contenção. Nesta manhã, alguns moradores das áreas evacuadas estavam no Centro Municipal de Educação Nossa Senhora do Rosário, onde foi montado um ponto de apoio da mineradora.
A dona de casa Aparecida Maria Batista, de 53 anos, esteve no local. Ela deixou a casa e passou a noite no imóvel de um filho, que mora no Centro de Barão de Cocais. A mulher reclama que a Vale não tem prestado a assistência devida e está preocupada com 20 galinhas, um cavalo e uma égua mantidos por ela e que ficaram no terreno.
“Eu sai de madrugada e só deu tempo de pegar os documentos. Tentei ir lá para alimentar as minhas criações, mas não consigo passar pela barreira da Polícia Militar e a Vale não me dá um posicionamento”, lamenta.
Além da preocupação com os animais, Aparecida também denuncia que a mineradora não ofereceu a ela os cinco remédios que ela toma diariamente para controle de pressão arterial e circulação sanguínea. “Ontem eu tomei porque tinha alguns comprimidos na bolsa. Hoje já não tomei e não tenho previsão para tomar”, reclama.
Preocupação
O aposentado Eleuses Vacari, de 69, mora no Centro de Barão de Cocais, mas tem uma chácara na Vila do Gongo Seco. Segundo ele, peixes e galinhas que eram criados no local estão sem alimentação. “Lá não era moradia fixa. Eu ia para alimentar os animais e ficava por lá só aos finais de semana. Quando soube da evacuação chegar no meu terreno, mas fui impedido”, ressalta. “Eu estou preocupado com meus pertences também. A casa está vazia e as pessoas aproveitam para furtar”, diz.
Eleuses Vacari, de 69, deixou peixes e galinhas que eram criados em casa sem alimentação
Para Eleuser, não há mais futuro para o vilarejo. “Acabou tudo. Esse alarde que foi feito nos serviu de alerta, para preservar nossas vidas. Mas vai desvalorizar totalmente nossas propriedades”, acrescenta o aposentado.
‘Só quero informação’
Tomados pelo temor, o pedreiro Anderson Gonçalves, de 45, e a esposa Silvana Silva, de 41 anos, deixaram a casa no bairro São Geraldo após pedido comunicado, segundo eles, de policiais e bombeiros. Apesar de estar mais distante da área da mina, o imóvel está próximo ao leito do Rio São João.
“Saí da minha casa apenas com dois colchões e documentos. Fomos para uma creche que está em um ponto mais alto, seguro, mas não temos informação de nada. Não fomos procurados pela Vale em momento nenhum”, protesta. “Eu estou com muito medo. No whatsapp toda hora chegam mensagens falando que vai virar mar de lama”, contou.
Procurada, a Vale informou que equipes estão prestando assistência psicológica às famílias. A mineradora, no entanto, não respondeu sobre a alimentação as animais e nem sobre medicamentos de necessidade da população. Entre as cerca de 500 pessoas que moram na área afetada, 393 se cadastraram para receber auxílios, conforme a Vale. Enquanto 188 preferiram se abrigar na casa de parentes, 205 foram para hoteis em Barão de Cocais, Caeté e Santa Bárbara.
Sobre a barragem, a Vale informou que faz monitoramente a cada quatro horas para verificar as condições da estrutura. Uma empresa alemã fará uma inspeção na barreira neste domingo (10) para verificar o nível de risco de rompimento. A Agência Nacional de Mineração (ANM) não foi localizada para comentar as condições da barragem.
Saques
Porta-voz da Polícia Militar, o Major Flávio Santiago informou que o policiamento na cidade foi reforçado com militares de cidades vizinhas a Barão de Cocais para evitar a ação de aproveitadores.