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“Mas como sempre a Vale irá nos jogar contra a parede e perguntar: e se [a barragem] não passar [no teste de segurança], irão assinar ou não?”. A mensagem descrita no documento que culminou na prisão dos oito funcionários da Vale presos nesta sexta-feira (15/02) é uma das conversas anexadas como provas que atestam a responsabilidade dos investigados na tragédia que assola Brumadinho desde o dia 25 de janeiro, quando a barragem da Mina Córrego do Feijão se rompeu. [pro_ad_display_adzone id=”44899″ align=”right”]
A mensagem se refere à preocupação dos funcionários em saber como iriam assinar o documento que deveria comprovar a estabilidade da barragem e, portanto, a liberação para a sua operação, mesmo ela se mostrando instável.
O documento do MPMG assinado pelo juiz Rodrigo Heleno Chaves, da 2ª Vara da Comarca de Brumadinho, traz algumas trocas de mensagens entre os funcionários detidos e também entre os funcionários da empresa alemã Tüv Süd, contratada pela Vale para atestar a segurança da barragem. Eles são suspeitos de participarem de um esquema patrocinado pela Vale para maquiar dados técnicos.
Um dos e-mails trocados entre os funcionários da empresa alemã no dia 13 de maio do ano passado, diz que os estudos de liquefação da barragem I do Córrego do Feijão estavam sendo terminados, “mas tudo indica que não passará, ou seja, fator de segurança para a seção de maior altura será inferior ao mínimo de 1.3. Desta maneira, a rigor, não podemos assinar a Declaração de Condição de Estabilidade da barragem, que tem como consequência a paralisação imediata de todas as atividades da Mina de Córrego do Feijão”.
O texto ainda dá conta de que um dos funcionários da Vale detido nesta sexta ligou, na época, perguntando sobre como andavam os estudos de estabilidade da barragem e, sendo informado da situação de instabilidade, “comentou que todos os esforços serão feitos para aumentar o fator de segurança”, e citou como exemplo a barragem Forquilha III (também da Vale, localizada em Ouro Preto), que também não “estava passando” no teste de segurança, mas que a empresa responsável pelo estudo assinaria o documento de estabilidade mesmo assim, “com base em promessas de intervenção de melhorias”.
Procurados pela reportagem na chegada ao Departamento Estadual de Investigação de Crimes contra o Meio Ambliente (DEMA), os detidos e seus advogados não quiseram apresentar sua versão dos fatos. Por meio de nota, a Vale informou que “permanecerá contribuindo com as investigações para a apuração dos fatos, juntamente com o apoio incondicional às famílias atingidas”.