Endividados, alvos constantes de golpes e com a renda achatada e comprometida, os idosos mineiros têm permanecido no mercado de trabalho para tentar melhorar os ganhos e, consequentemente, a qualidade de vida. Muitas vezes, sem sucesso. Entre 2012 e 2018, houve aumento de 37,22% na quantidade de pessoas com mais de 60 anos na ativa, elevação de 230 mil pessoas, conforme levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). [pro_ad_display_adzone id=”44899″ align=”right”]
Conforme dados do INSS, dos 3,2 milhões de benefícios concedidos em Minas Gerais (aposentadorias e pensões), 2,4 milhões estão atrelados a 36 milhões de empréstimos. Isso significa que 75% das pensões e aposentadorias concedidas estão comprometidas e que cada um desses benefícios está ligado a 14,6 liberações de crédito.
Juntos, esses empréstimos somam R$ 2,9 bilhões, o que dá uma média de R$ 30 mil por benefício. Os números são alarmantes e expõem a fragilidade dos idosos, que configuram a maior parte dos beneficiários.
Segundo Resolução Normativa 28/2008 do INSS, os empréstimos consignados podem representar 35% da renda. O problema, conforme a presidente do Instituto Defesa Coletiva, Lillian Salgado, é que o assédio aos idosos por parte das instituições financeiras é enorme e, por isso, muitos acabam cedendo às “vantagens” oferecidas.
“O assédio é tão grande que tem aposentado que fica sabendo da liberação da aposentadoria pelo telemarketing das instituições financeiras. E esse tipo de abordagem é proibida. Contrato de consignado não pode ser firmado por telefone”, alerta a representante da entidade.
Lillian destaca que as instituições financeiras cometem uma série de práticas abusivas, conforme mostra o curta-metragem “Covardia Capital”, que venceu a categoria Júri Popular do Festival Internacional de Trancoso e integra o Projeto de Crédito Consciente para Idosos, do Instituto Defesa Coletiva.
Ela afirma, ainda, que é comum os idosos não conseguirem pagar os consignados e, por isso, eles refinanciam a dívida. No fim, é formada uma bola de neve sem prazo para terminar.
Sem contar que, dos 35% que podem ser comprometidos com o desconto em folha, 5% podem ser concedidos por meio de um cartão de crédito consignado.
As instituições financeiras costumam liberar limites altos para estes cartões. Da dívida total, 5% pode ser cobrado na folha de pagamento e o restante deve ser pago por fora.
O pesquisador do Ibre FGV, Daniel Vasconcellos Archeduque ressalta que a situação econômica dos idosos pode ser classificada como dramática. Por isso, é comum que eles aceitem esse tipo de oferta.
“As aposentadorias são atreladas ao salário mínimo, que está praticamente estagnado desde 2014. Ou seja, o poder de compra deles não mudou”, diz. Por outro lado, a inflação da terceira idade (IPC-3i) subiu 4,75% em 2018, índice superior aos 4,32% registrados pelo Índice de Preços ao Consumidor do Brasil (IPC-BR).
Endividamento de idosos acaba virando bola de neve