AFP
O serviço de eletricidade era restabelecido aos poucos em Caracas e outras regiões da Venezuela, após um apagão de quase 24 horas que afeta todo o território, o pior já registrado no país, segundo informações de moradores.
Amplos setores da capital e da periferia começaram a recuperar o serviço por volta do meio-dia, assim como em regiões dos estados de Miranda, Vargas – onde fica o aeroporto internacional e o porto principal -, Anzoátegui (leste) e Bolívar (sul). [pro_ad_display_adzone id=”44899″ align=”right”]
Mas em alguns pontos de Caracas e em outras regiões do país, a retomada do fornecimento foi interrompida e o apagão voltou a estas zonas, constatou a AFP.
“Na minha casa a luz já chegou, mas perdi todo o dia porque não pude trabalhar, cada dia é um problema. É um caos a Venezuela que temos”, disse à AFP Neys, um pedreiro de 50 anos, no leste da capital.
Jornalistas da AFP constataram a situação caótica provocada pelo apagão maciço, que começou na quinta-feira (07/03) às 16h50 locais (17h50 de Brasília): hospitais colapsados, voos cancelados do aeroporto internacional Simón Bolívar e outros terminais aéreos, muitas casas sem água, comércios fechados. Muitos caminharam horas devido à falta de transportes.
Diante da situação, o autoproclamado presidente Juan Guaidó insistiu que todos participem na manifestação que ele já havia convocado para este sábado.
“A solução da crise é o cessar da usurpação. Por isso o chamado é para amanhã nas ruas”, tuitou Guaidó.
Desde quinta-feira, o governo do presidente Nicolás Maduro acusa os Estados Unidos de liderar uma “guerra elétrica” e fala de “sabotagem imperialista”.
O ministro da Defesa, Vladimir Padrino, qualificou o apagão de “agressão deliberada” por parte dos Estados Unidos e anunciou uma “mobilização” da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB), sem dar detalhes.
“Uma agressão que sem dúvida foi preparada, deliberada e bem planejada, como sabe bem fazer o império americano”, disse Padrino à TV.
O ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, anunciou que a Venezuela denunciará os Estados Unidos à Comissão de Direitos Humanos da ONU pelo apagão.
“Em poucos dias virá à Venezuela uma delegação do bureau de direitos humanos da ONU, de Michelle Bachelet, e eles verão as provas”, disse Rodríguez em entrevista à TV estatal.
– Guerra elétrica –
Guaidó convocou para este sábado um protesto contra Maduro “com mais força do que nunca”, diante da derrocada do país.
“Venezuela, agora com mais força do que nunca, volta às ruas de todo o país. Vamos voltar às ruas e não sair mais”.
“Para conseguir a volta da luz (…) e o fim da escuridão devemos nos manter firmes, unidos e mobilizados sempre. Estamos muito, muito próximo de conseguir isto”, declarou Guaidó entre aplausos de seus partidários.
“Hoje ainda se desculpam os sem-vergonha alegando que isto é uma sabotagem, quando em 2009 declararam emergência elétrica. Há uma década! Uma década! Investiram 100 bilhões de dólares (…). São ineficientes, são corruptos”, disse Guaidó, reafirmando seu apelo à Força Armada para remover Maduro.
Na quinta-feira à noite, o ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, denunciou uma sabotagem “crimina, brutal”, que pretende deixar a Venezuela sem energia elétrica durante “vários dias”.
“A guerra elétrica anunciada e dirigida pelo imperialismo americano contra nosso povo será derrotada. Nada nem ninguém poderá vencer o povo de Bolívar e Chávez. Máxima união dos patriotas”, escreveu Maduro na véspera no Twitter.
Há um ano, Maduro ordenou à Força Armada ativar um plano especial para proteger as instalações do sistema elétrico diante da “guerra” para gerar o descontentamento popular, mas as falhas persistem.
A empresa estatal Corporação Elétrica Nacional (Corpoelec) denunciou, sem apresentar detalhes, um ato de sabotagem na central de Guri, localizada no estado de Bolívar.
“Sabotaram a geração em Guri… Isso faz parte da guerra elétrica contra o Estado. Não permitiremos. Estamos trabalhando para recuperar o serviço”, publicou no Twitter a Corpoelec.
Guri é uma das maiores represas geradoras de energia da América Latina, atrás apenas da de Itaipu, entre Brasil e Paraguai.
Durante o apagão, a Venezuela ficou isolada, com as fronteira fechadas.
A economia parou, pois ninguém conseguia sacar dinheiro dos caixas eletrônicos. Na quinta-feira, o serviço de telefonia e o metrô de Caracas interromperam os serviços, o que obrigou milhares de pessoas a caminhar por quilômetros até suas casas.
“Até o telefone está desligado, o calor insuportável, estamos sem água. O país está virando um desastre”, disse à AFP Armando Cordero, de 57 anos.
O apagão afetou praticamente todo o país, com cortes em 23 dos 24 estados e na capital.
A queda de energia na Venezuela também atingiu o estado brasileiro de Roraima, cujo fornecimento de energia depende de Guri, e as autoridades tiveram que ativar suas cinco usinas termelétricas na quinta-feira para garantir energia.
A economia do país sofre: o bolívar, a moeda local, sofreu uma gigantesca desvalorização e a hiperinflação deve chegar 10.000.000% em 2019, de acordo com as projeções do FMI.
A situação provoca uma falta de cédulas, pois a nota de maior valor, 500 bolívares, equivale a apenas 15 centavos de dólar, o que é insuficiente para comprar uma bala.
Desta maneira, as transações eletrônicas são indispensáveis, inclusive para operações pequenas como comprar pão.
A oposição e vários especialistas culpam o governo socialista pela falta de investimento na manutenção da infraestrutura em meio à grave crise econômica, mas altos funcionários venezuelanos frequentemente denunciam atos de “sabotagem”.