Estar bem com a imagem ajudou a servidora pública Nádia Bueno, de 45 anos, a superar um câncer que apareceu em agosto de 2016. Hoje, ela incentiva outras mulheres e criou um banco de perucas para quem enfrenta a queda de cabelo, um dos efeitos colaterais da quimioterapia. Os artigos serão emprestados ou doados para quem não tem condição de pagar.
“A perda de cabelos foi muito difícil pra mim. Para me sentir bem tive que investir em um lenço alegre, mais maquiagem. Tudo isso mudava o meu astral”, disse Nádia Bueno.
Naquele ano, passado o impacto do diagnóstico, ela decidiu se fortalecer e encontrou apoio. Criou um grupo de conversas, chamado de “A Vida é Bela”, com as melhores amigas para que juntas se ajudassem.
“Assim que recebi o diagnóstico passei por um momento de muita dor, de silêncio, contei somente para a família. Marcada a cirurgia, eu me senti preparada para falar sobre o assunto, criei o grupo, e as minhas amigas acompanharam todo o tratamento, que é muito pesado”, contou.
A servidora Nádia Bueno raspou os cabelos enfraquecidos durante tratamento de câncer e decidir ‘lutar’ — Foto: Áurea Andrade
Os encontros se tornaram mais frequentes e, em um deles, foi surpreendida com todas usando lenço na cabeça. Tempo depois, manifestou o interesse em transformar aquela vivência em algo mais. Dessa intenção, surgiu o projeto que herdou o nome do grupo.
“É uma realização. A gente pensa que é a gente que vai ajudar. Mas, quando você pratica solidariedade, você não tem ideia do quanto você recebe. Tento levar para outras mulheres que elas vão ficar bem como eu fiquei”, disse Nádia.
Atualmente, a servidora toma medicação oral. “Os médicos não falam em cura no período de cinco anos. Estou no período de remissão, em que a doença não se manifesta, em tratamento de quimioterapia oral”, explicou.
A amiga de infância, a publicitária Karina Cotta, 44 anos, também está à frente do projeto. Uma filha de Nádia e outra amiga também são atuantes. Para Karina, Nádia soube assumir a doença com leveza e quer passar isso para frente.
“Ela sempre preservou a autoestima e essas ações fizeram superar a doença com mais leveza”, disse Karina Cotta.
Uma rede de voluntários se formou em torno da ideia. Salões de beleza parceiros recebem as doações de cabelos em Belo Horizonte, João Monlevade e Santa Bárbara. Chegam a fazer promoções para quem cortar e doar as mechas que serão a matéria-prima das perucas.
As amigas Nádia Bueno e Karina Cotta, do projeto ‘A Vida é Bela’, voltado pra mulheres com câncer — Foto: Áurea Andrade
Nádia Bueno e amiga Neide Tôrres, do projeto ‘A Vida é Bela’ — Foto: Áurea Andrade
A confecção é toda feita por uma artesã que cobra um preço de atacado pelas peças. Ainda assim, o projeto precisa investir R$ 100 em cada. Depois de prontas, as perucas retornam aos salões para lavagem, corte e penteado. Uma finalização, que é voluntária. Venda de rifas e de produtos com camisas, canecas, chinelos e um livro escrito pela Nádia ajudam a manter a iniciativa e pagar os custos inevitáveis.
Cerca de 50 já foram produzidas com cabelos naturais. O lançamento do banco será no dia 28 de abril com um café da manhã organizado com colaboradores, em Belo Horizonte. As perucas serão doadas ou emprestadas para mulheres que enfrentam o câncer.
Com cabelo doado, paciente em tratamento de câncer cria banco de peruca, em BH — Foto: Karina Cotta/Arquivo pessoal
Nádia Bueno, que descobriu um câncer em 2016, ao lado dos filhos e marido. Ao lado direito dela, a filha Amanda, que também conduz o projeto — Foto: Áurea Andrade