As avarias e fragilidades que tornaram instáveis as barragens da Vale de Vargem Grande (Nova Lima, na Grande BH) e Forquilha 2 (Ouro Preto, na Região Central do estado) nunca foram atacadas com o nível de reparos necessário, de acordo com engenheiro do setor de licenciamento e segurança de barragens da mineradora ouvido pelo Estado de Minas. Sob a condição de anonimato, o profissional com mais de uma década de serviços prestados à mineradora diz que o máximo de providências adotadas eram intervenções para que as estruturas não parassem de funcionar. “Os paliativos geralmente são trazer máquinas, tentar fazer nivelamentos. Tentam usar redes na horizontal. As equipes de trabalho vão tampando fissuras com concreto. Vão fazendo o que dá. Mas é uma economia inconsequente e antiprodutiva. Em vez de gastarem milhões para resolver um problema, agora vão gastar bilhões com o rompimento”, afirma.[pro_ad_display_adzone id=”44899″ align=”right”]
Segundo o engenheiro, os paliativos eram frequentes. “(Os responsáveis pela segurança das barragens da Vale) faziam reconstituições desses processos erosivos, mas isso não resolve o problema. Porque o problema vem de dentro para fora e não de fora para dentro. Daí, surgem outras trincas, outras fissuras e uma hora rompe (a barragem)”, disse. “Essas estruturas precisam passar por um processo de descomissionamento. Precisam ter seu conteúdo dragado, antes que se rompam. E até no início desse processo há grandes riscos de rompimento, porque não sabemos ao certo como está a situação dentro da barragem, uma vez que são todas muito antigas”, alerta o profissional.
A crise no setor de represas de mineração deflagrada pela catástrofe em Brumadinho levou a Prefeitura de Nova Lima, onde está a Barragem de Vargem Grande, a criar uma comissão formada pelas secretarias municipais de Meio Ambiente e de Obras, além da Defesa Civil, com o objetivo de intensificar o acompanhamento da situação dos reservatórios localizados no município, um dos que mais têm estruturas desse tipo – a metade das represas apontadas como críticas na última ação judicial do Ministério Público contra a Vale fica na cidade.
A Comissão Municipal de Barragens reuniu os Planos de Ação de Emergência para Barragens de Mineração (PAEBM) e os Planos de Ação de Emergências (PAE) para compará-los com o inventário de barragens e com o Relatório de Segurança de Barragens da Agência Nacional de Águas (ANA). Desde então, já foram enviados ofícios aos órgãos competentes e a todas as empresas mineradoras que mantêm represas no município, cobrando a efetivação dos planos de ação de emergência e a agenda para instalações das sirenes.
A Prefeitura de Nova Lima afirma que também cobra um cronograma para treinamento das comunidades ameaçadas, bem como resposta quanto à quantidade de pessoas e residências que podem ser afetadas em caso de rompimento. A Agência Nacional de Mineração (ANM) antecipou a obrigatoriedade das instalações das sirenes para até 30 de abril para as represas alteadas a montante – método mais barato e também mais arriscado, pelo qual foram erguidas as estruturas que se romperam em Mariana, em 2015, e em Brumadinho, há dois meses. O próximo passo da comissão será acompanhar os órgãos fiscalizadores em visitas às estruturas de barragens em Nova Lima e cobrar a integral efetividade dos planos de ações de emergência .
De acordo com a Prefeitura de Ouro Preto, as famílias retiradas de áreas que poderiam ser atingidas por uma eventual ruptura de Forquilha 2 são de sitiantes, uma vez que a estrutura se encontra a 40 quilômetros do Centro Histórico e não há possibilidade de esse espaço reconhecido como patrimônio da humanidade ser afetado. “Imediatamente as famílias residentes na zona de autossalvamento foram removidas. A Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil de Ouro Preto tem trabalhado diariamente junto aos órgãos fiscalizadores e municípios vizinhos, cobrando medidas por parte das empresas para a segurança social e ambiental, priorizando sempre a vida dos moradores”, informou, em nota.
A mineradora Vale foi procurada para falar sobre a situação das barragens que ameaçam populações abaixo de suas estruturas de contenção de rejeitos, mas não respondeu a nenhum questionamento da equipe do Estado de Minas.
Os subterrâneos da segurança
Confira trechos de revelações de ex-funcionário da Vale especialista em barragens
“(Os responsáveis pela segurança das barragens da Vale) faziam reconstituições dos processos erosivos nas barragens, mas isso não resolve o problema, porque ele vem de dentro para fora e não de fora para dentro. Daí, surgem outras trincas, outras fissuras e uma hora rompe”
“Essas estruturas precisam passar por um processo de descomissionamento. Precisam ter seu conteúdo dragado, antes que se rompam. E até no início desse processo há grandes riscos de rompimento, porque não sabemos ao certo como está a situação dentro da barragem. São todas muito antigas”