Portal Hoje em Dia
Três funcionários da área técnica da Vale, responsáveis pelo contato com a empresa de auditoria externa Tüv Süd, que atestou a estabilidade da barragem da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, são ouvidos nesta quinta-feira (09/05), em Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Marilene de Assis Araújo, Hélio Lopes da Cerqueira e Felipe Figueiredo Rocha responderão, cada um, a pelo menos 70 perguntas sobre a segurança da contenção, conforme o relator, deputado André Quintão (PT). [pro_ad_display_adzone id=”44899″ align=”right”]
O engenheiro sênior responsável pela geotecnia corporativa da área de ferrosos da Vale, Hélio Lopes da Cerqueira, foi o primeiro a depor e atribuiu a responsabilidade de atestar a segurança da barragem ao setor de geotecnia operacional. O funcionário, que ainda trabalha na empresa, fiscalizava o contrato de automação de 46 piezômetros – estruturas utilizadas para medir a pressão dos fluidos represados na barragem do Feijão.
Hélio teve acesso a um relatório emitido pelos equipamentos dois dias antes do ocorrido, em 23 de janeiro. O laudo mostrava alteração nas medidas de 11 instrumentos existentes. O engenheiro assumiu que a situação dos piezômetros era incomum, mas afirmou que isso se deve a um “erro de configuração” do sistema que fazia a leitura deles.
“Recebi um telefonema do Artur Ribeiro [segundo Hélio, responsável pela segurança da barragem B1] e ele comentou que havia algo estranho na planilha do Excel. Quatro desses piezômetros tinham elevações impossíveis. Era um dado muito suspeito para estar coerente, aí pedimos o contratado [empresa que fazia a automatização] para rever”, disse.
O funcionário alegou ainda que os equipamentos defeituosos não mediam a estabilidade da barragem, mas davam informações sobre o impacto de uma possível ruptura no lençol freático. Segundo Hélio, os instrumentos tinham tempo de resposta longo, de até 20 horas, e não pediam ação preventiva de manutenção da Vale porque eram utilizados para outra função. “Cada uma das instrumentações tem que ser avaliada de acordo com o objetivo, e o desses piezômetros era plenamente adequado. […]Tanto que três minutos antes da ruptura da barragem, não houve alteração”.
Riscos na estrutura
Uma lista com o nome de todos os diretores que participaram dos painéis de segurança nacional e internacional da Vale foi entregue aos deputados da ALMG pelo engenheiro de recursos hídricos Felipe Figueiredo Rocha. Segundo o funcionário, que está afastado da empresa desde a prisão, em fevereiro, especialistas renomados fizeram uma análise mostrando os riscos da estrutura da barragem B1, de Brumadinho.
No último dia do painel ocorrido em outubro de 2018, os resultados discutidos pelos especialistas foram apresentados a diretores, gerentes executivos e gerentes de área da Vale, incluindo os executivos Lúcio Cavalli e Silmar Silva, citados por Felipe e pela gerente de gestão de estruturas geotécnicas, Marilene de Assis Araújo, em depoimento. Conforme os dois, as lideranças da empresa estavam a par da situação da barragem.
Marilene, que é gestora de Felipe e Hélio, afirmou ter feito um resumo das falas dos painéis e enviado por e-mail aos diretores da Vale. No texto, ela menciona que a barragem 1 “requer mais monitoramento […] a fim de reduzir o risco atual”. Questionada pelo relator da CPI, deputado André Quintão (PT), a funcionária disse que fazia uma “tradução específica das conclusões do painel”, mas que “não era mencionado o significado da palavra risco”.
Todos os três depoentes ressaltaram que a responsabilidade sobre a análise da segurança da barragem de Brumadinho compete à área de geotecnia operacional. Conforme o relator da Comissão, os funcionários desse campo serão convocados para a CPI na próxima quinta-feira (16).
A Vale foi procurada pela reportagem para comentar os depoimentos, mas ainda não deu retorno.