A prefeitura de Governador Valadares, na Região do Vale do Rio Doce, enviou um documento à mineradora Vale para garantir medidas preventivas em caso de rompimento da Barragem Sul Superior, administrada pela companhia em Barão de Cocais, na Região Central do estado.
O barramento corre risco de romper quando o talude da Mina de Gongo Soco, onde está a barragem, desabar. A previsão é que essa estrutura desmorone até este sábado (25) e, consequentemente, cause impactos significativos no complexo minerário, que levariam ao vazamento da represa.
Em caso de desastre, o Rio Doce seria contaminado pelos rejeitos de minério de ferro. O mesmo manancial arrasado com a tragédia de Mariana, em 2015.
O curso d’água abastece Governador Valadares. Por isso, a prefeitura solicita à Vale ao menos 30 mil litros do polímero Tanfloc SG. O produto é ideal para tratamento de água com elevada turbidez.
A prefeitura também pede a disponibilização de 500 mil litros de água mineral. As garrafas seriam distribuídas à população para cada dia que a captação e distribuição da água precisar ser interrompida ou comprometida pelo possível desastre de Barão de Cocais.
Segundo o Executivo municipal, o ofício foi enviado ao diretor-presidente (CEO) da Vale Eduardo Bartolomeo.
A força-tarefa ganhou o nome de Sistema de Comando de Operações (SCO). Fazem parte do núcleo: prefeitura de Valadares, Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), Defesa Civil municipal, Polícia Militar, Bombeiro Militar, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal, Ministério Público, Defensoria Pública do estado e Tiro de Guerra.
A Vale foi procurada para responder se acatará os pedidos da prefeitura e com que prazo, por volta das 19h desta terça-feira (21), mas ainda não respondeu aos questionamentos.
Caminho da lama
O Rio Doce está mais uma vez na rota das barragens em Minas Gerais. Segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), uma possível onda de lama passaria por quatro córregos antes de alcançar o Rio Santa Bárbara, para, em seguida, chegar ao Rio Piracicaba e, por fim, ao Rio Doce, em um ponto distante 195,2 quilômetros da barragem.
A qualidade da água desses mananciais poderá ser afetada, “tornando-a imprópria para consumo humano. Pode ocorrer ainda redução do oxigênio dissolvido, com consequente mortandade de peixes e outras espécies aquáticas. Os cursos d’água podem ter redução da vazão decorrente do assoreamento da calha principal e deposição do rejeito”, segundo a Semad.
A pasta que cuida do meio ambiente do estado também identificou outros impactos em decorrência de um possível rompimento em Barão. A lama suprimiria 383 hectares de remanescentes de floresta da mata atlântica e alteraria a composição do solo original, afetando a fertilidade.
Além disso, causaria impactos energéticos, pois chegaria ao reservatório da Usina Hidrelétrica de Peti. A estrutura está localizada a 14 quilômetros de distância da barragem, entre os municípios de Santa Barbara e São Gonçalo do Rio Abaixo.
Renova criticada
Em coletiva, o prefeito de Governador Valadares André Merlo também reclamou das contrapartidas acordadas entre a prefeitura e a Fundação Renova para reduzir os danos da tragédia de Mariana.
Segundo ele, as intervenções para captação de água no Rio Corrente estão em “andamento abaixo do satisfatório e esperado” pela prefeitura. A obra garantiria uma alternativa para o abastecimento da região, já que o Rio Doce está contaminado.
Em posicionamento enviado à reportagem, a Fundação Renova ressaltou que a construção da adutora “segue dentro do prazo estipulado”. Segundo a organização, conforme estabelecido no cronograma, o início da obra aconteceu em julho de 2018 e tem previsão de conclusão para o primeiro trimestre de 2021.
De acordo com a Renova, “o projeto prevê a implantação de uma adutora de 35 quilômetros de extensão, que levará a água do Rio Corrente Grande até as Estações de Tratamento de Água (ETA) Central, Vila Isa e Santa Rita”.