À espera do rompimento do talude, que pode provocar um colapso na barragem Sul Superior, a vida de muitos moradores de Barão de Cocais, na região Central, está estagnada. Fora de casa, angustiados e sem perspectivas, eles começaram a enfrentar, inclusive, problemas de saúde.
Desde fevereiro, já foram 6 mil atendimentos a mais nos postos do município, se comparado ao mesmo período do ano passado, conforme o prefeito Décio Geraldo dos Santos. As principais queixas estão relacionadas a fatores psicológicos: pensamentos suicidas, estresse, depressão, hipertensão, crises de pânico e até infarto.
O chefe do Executivo não soube precisar o total de passagens pela rede pública nos últimos quatro meses, mas disse que a demanda explodiu desde que o risco na mina Gongo Soco chegou ao patamar máximo. Dormir uma boa noite de sono, sem acordar de madrugada ou ter pesadelos com a queda do reservatório, parece uma realidade distante até para o prefeito, que começou a ter crises frequentes de labirintite.
Turismo afetado
Com cachoeira, sítio arqueológico com pinturas rupestres e santuário que reúne obras atribuídas ao mestre do barroco Aleijadinho, Barão de Cocais vive um enfraquecimento do turismo. A recepcionista de um hotel da cidade, Jaqueline Pádua, de 33 anos, explica que a maior parte dos hóspedes agora é composta por funcionários que vão ao local prestar serviços ligados à mina.
Jaqueline lembra que, desde que a Vale anunciou que o talude deveria se romper entre os dias 19 e 25, uma empresa que havia feito reservas para funcionários cancelou o contrato e os transferiu para uma pousada em Santa Bárbara, município vizinho. “O pessoal não está ficando aqui, ainda mais que estamos no leito do rio”, diz.
Outra preocupação da recepcionista, que vive no município, é que a rede de saúde não tenha número suficiente de profissionais para absorver a demanda. O prefeito de Barão de Cocais pediu à Vale, no início de abril, reforço psicológico e médico. Segundo ele, a mineradora se comprometeu em resolver a situação dentro de uma semana, mas o prazo não teria sido atendido.
Resposta
Em nota, a empresa informou que, desde 8 de fevereiro, foram realizados cerca de 1,4 mil consultas, 5,7 mil atendimentos psicossociais e distribuídos 1,4 mil medicamentos. “A Vale mobilizou sete médicos, sete enfermeiros, oito técnicos de enfermagem, 15 psicólogos, três assistentes sociais, entre outros profissionais destacados para o atendimento aos moradores evacuados, além de sete ambulâncias. No momento, a Vale está priorizando a segurança e a qualidade de vida da comunidade”.