Para driblar os agressivos aumentos na conta de luz da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), que somam 30,12% desde o ano passado, grandes empresas têm adotado o sistema de geração distribuída (quando o consumidor gera a própria energia) para reduzir em até 70% os gastos com eletricidade.
Como consequência, Minas Gerais despontou nesse tipo de ligação, ocupando o primeiro lugar no ranking nacional com 211 megawatts (MW) de potência instalada, o equivalente a 21,3% das conexões realizadas em solo tupiniquim.
Com a geração distribuída, as empresas podem gerar energia em uma fazenda solar, própria ou terceirizada, e abater os créditos em outras unidades, reduzindo, assim, a conta. Podem, também, gerar energia na própria sede.
A energia fotovoltaica é a principal fonte utilizada nos projetos. O motivo é a alta incidência solar no Estado, além das linhas de financiamento facilitadas para aquisição dos equipamentos e, até mesmo, instalação deles.
De olho nesse filão, a Ambev, imponente fábrica de bebidas, vai investir R$ 15 milhões nos próximos dez anos em uma fazenda solar localizada em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, no mesmo terreno onde mantém uma planta industrial. A fazenda foi produzida em parceria com outra companhia, que investiu R$ 7 milhões no projeto. Com a energia gerada, 11 Centros de Distribuição que a cervejaria mantém em Minas Gerais serão abastecidos.
Inicialmente, ideia é reduzir a conta de luz, percentualmente, em dois dígitos. Ao final dos dez anos, a fazenda solar, que possui 2 MW de potência instalada, pertencerá integralmente à Ambev e a redução chegará a 70%, sobrando para a empresa apenas os encargos e outras variações, como as bandeiras tarifárias.
Conforme o diretor de sustentabilidade e suprimentos da Ambev, Leonardo Coelho, o objetivo da empresa é abastecer 100% das operações com energia limpa até 2025.
“Com a redução na conta, é possível ter uma operação mais enxuta e alocar recursos onde a empresa mais precisa. A qualidade do produto aumenta e o consumidor também é beneficiado”, diz o executivo.
A rede de postos Ale Combustíveis também apostou na geração distribuída para reduzir o gasto com eletricidade. Em parceria com outra empresa, a companhia construiu uma fazenda solar em Pompéu, na região Centro-Oeste de Minas. A partir de julho, 100 postos terão um abatimento de aproximadamente 10% na conta de luz. Hoje, a rede é composta por 300 estabelecimentos.
Quando os valores são colocados na ponta do lápis é possível ver a vantagem com nitidez. Um posto de gasolina paga, em média, de R$ 5 mil a R$ 8 mil de luz por mês. Por unidade, é esperada uma redução de R$ 10 mil ao ano, o equivalente a R$ 1 milhão em 12 meses.
O diretor de Marketing e varejo da Ale Combustíveis, Diego Pires, admite que a segunda fase pode começar mais rápido do que o planejado inicialmente. “Não tem custo para o posto e em uma semana de projeto mais de 50 postos aderiram ao programa. Se a adesão for grande, podemos adiantar a segunda etapa”, afirma Pires.
Norte de Minas e região têm R$ 3,8 bi para financiar projetos
Com forte incidência solar e berço de grandes projetos fotovoltaicos, Norte de Minas, Vale do Mucuri e Vale do Jequitinhonha têm disponíveis R$ 3,8 bilhões em verbas para financiamento de sistemas geradores de energia a partir da luz do sol pelo Banco do Nordeste. O montante representa 76% dos R$ 5 bilhões que a instituição disponibiliza para a região em 2019.
Conforme explica o gerente de negócios de representação da Superintendência Minas e Espírito Santo, Fernando de Lima Paulo, o banco libera R$ 25 bilhões para o Nordeste do Brasil e para as áreas que integram a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) anualmente. Cada região, no entanto, pode utilizar até 20% do recurso, o equivalente a R$ 5 bilhões. “Nossa meta é emprestar no mínimo R$ 1,5 bilhão, mas já atingimos 80% desse valor”, comemora.
A verba pode ser usada por empresas, indústrias e pessoas físicas. O valor deve ser pago em até 12 anos, com carência que varia de seis meses a um ano. Podem ser financiados todos os equipamentos de geração distribuída, assim como a instalação dos componentes. Substituições de fontes energéticas também são contempladas pelas linhas de financiamento.
Vantagens
Na avaliação do ex-conselheiro de Furnas e consultor do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético, Roberto D’araújo, além da redução na conta de luz, a geração distribuída tem outras grandes vantagens.
Uma delas é a possibilidade de impactar todo o sistema. Ele explica que quando as pessoas produzem a própria energia, os reservatórios de água que abastecem as usinas não sofrem pressão e as bandeiras amarela e vermelha, que são acionadas para cobrir os custos com os combustíveis fósseis usados nas térmicas e encarecem a conta de luz, não são hasteadas.
“É bom para todos. Até para a concessionária, que, no médio prazo, precisará investir menos em manutenção para que a rede atenda à demanda, especialmente nos horários de pico e no verão”, pondera.
ALÉM DISSO
A bandeira tarifária em junho de 2019 é verde, sem custo para os consumidores. Embora o mês seja típico da estação seca nas principais bacias hidrográficas do Sistema Interligado Nacional (SIN), a previsão hidrológica para o mês superou as expectativas, indicando tendência de vazões acima da média histórica para o período, o que possibilita manutenção dos níveis dos principais reservatórios próximos à referência atual.
O cenário favorável reduziu o preço da energia (PLD) para o patamar mínimo, o que diminui os custos relacionados ao risco hidrológico (GSF) e à geração de energia de fontes termelétricas. O PLD e o GSF são as duas variáveis que determinam a cor da bandeira a ser acionada.
Criado pela Aneel, o sistema de bandeiras tarifárias sinaliza o custo real da energia gerada. O funcionamento das bandeiras tarifárias é simples: as cores verde, amarela ou vermelha (nos patamares 1 e 2) indicam se a energia custará mais ou menos em função das condições de geração.