A dificuldade da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) para levar energia a alguns pontos do Estado joga uma pá de cal nos planos de 157 empresas e empreendimentos imobiliários. Sem eletricidade, não há como ampliar a produção ou, até mesmo, tirar os projetos do papel, o que mina empregos e a economia nessas localidades.
A denúncia foi feita pelo próprio governador Romeu Zema (Novo), durante entrevista exclusiva à TV Promove e ao Hoje em Dia em junho, e confirmada e detalhada pela concessionária ao jornal nesta semana. A falta de investimentos da companhia no setor, especialmente em linhas de transmissão e subestações, é um dos motivos da pendência.
Conforme o governador, o não atendimento a esses empreendimentos prova que a companhia deixou de ser estratégica para o desenvolvimento de Minas. “Posso passar uma lista enorme de empresas que, há anos, solicitaram mais carga elétrica porque queriam ampliar a produção e não foram atendidas. Também há empreendimentos imobiliários que ficaram meses aguardando ligação elétrica da Cemig para serem construídos ou habitados”, criticou, na época, Romeu Zema.
Sigilo
Os nomes das empresas que amargam a espera não foram informados por questões contratuais, conforme a energética.Porém, segundo a Cemig, os pedidos de ligação variam de 10 quilowatts (KW) de potência, consideradas de pequeno porte, até grandes empresas que necessitam de 1,6 megawatts (MW) de carga.
Ainda de acordo com a concessionária, os 157 empreendimentos cujas ligações estão pendentes estão localizados em todas as regiões do Estado e serão regularizados até setembro.
“As obras foram intensificadas para o atendimento a 3.674 solicitações de empresas e empreendimentos, das quais apenas 157 estão em atraso e serão concluídas até o próximo mês de setembro”, diz texto enviado pela assessoria de imprensa.
Dívidas
Com R$ 12,7 bilhões em dívidas até 2024, a Cemig precisa, ainda, de R$ 15 bilhões para investir em infraestrutura, dinheiro indisponível conforme afirmou o presidente da companhia, Cledorvino Belini, em sabatina realizada na Assembleia Legislativa em junho.
Em nota, porém, a concessionária informou que R$ 1,25 bilhão será aportado na rede elétrica em 2019. Além disso, “de 2020 a 2022, serão investidos mais R$ 3,7 bilhões de um total de R$ 6 bilhões referentes ao Plano de Desenvolvimento da Distribuição 2018-2022, que inclui a construção de 79 subestações, a ampliação de 112 subestações e a construção de 2.659 quilômetros de linhas, o que permitirá ainda o atendimento a 40 solicitações de empresas e empreendimentos que dependem de grandes obras para sua conexão”, diz o texto.
Espaço de Eficiência Energética terá aporte de R$ 5 milhões
Para formar uma legião de consumidores de energia conscientes, Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) vão investir R$ 5 milhões no Espaço Cemig Sesi de Eficiência Energética, previsto para abrir as portas ao público em janeiro de 2020. O espaço, cuja pedra fundamental foi lançada ontem, será montado no Museu de Artes e Ofícios, na Praça da Estação, região central de Belo Horizonte.
O foco serão os estudantes. Para incentivar a participação das escolas públicas, o convênio prevê o transporte gratuito de alunos da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) até o museu. Para isso, serão utilizados dois ônibus exclusivos e adaptados para facilitar a imersão dos estudantes já durante o trajeto.
Cultura
“Não se formam pessoas sem cultura, educação e desenvolvimento social”, afirma o superintendente de Relações Institucionais e de Comunicação da Cemig, Marco Antônio Lage. [/TEXTO]Ele espera que milhares de alunos passem pelo espaço.
Painéis interativos, maquetes e outros artifícios serão utilizados para facilitar a absorção dos conceitos de eficiência energética pelos estudantes.
“Um dos objetivos é incentivar a participação da nova geração de consumidores no conhecimento das novas tecnologias e das energias que estão surgindo”, diz o vice-presidente da Fiemg, presidente do Sindicato das Indústrias de Instalações Elétricas, Gás, Hidráulicas e Sanitárias no Estado de Minas Gerais (Sindmig) e presidente da Câmara da Indústria de Energia da Fiemg, Márcio Danilo Costa.
Debate
De acordo com Costa, a energia é um insumo fundamental para a indústria, e o acervo que será montado no museu apresentará o tema de forma muito rica. “Agora, com a parceria, o museu irá produzir conhecimento e debater sobre eficiência energética. Vamos discutir sobre a indústria do futuro”, ressalta.
SAIBA MAIS:
O endividamento da Cemig tem sido usado como uma das justificativas para privatizar a companhia, uma das promessas de campanha do governador Romeu Zema (Novo). A concessionária, aliás, seria usada como moeda de troca para que o Estado possa aderir ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), do governo federal. Interessados não devem faltar. Apesar de endividada, a companhia lucrou R$ 1 bilhão em 2017 e R$ 1,7 bilhão em 2018, salto de 70% em 12 meses.
Em entrevista recente, Zema afirmou que pretende vender a empresa até 2020. O problema é que para abrir mão da maior estatal de Minas ele precisa de aprovação da população por meio de referendo, conforme determina a constituição mineira. A saída, segundo Zema, seria mudar as leis e tirar da sociedade o poder de decisão.
Mesmo sem a participação dos mineiros, a tarefa será árdua. Ainda segundo a constituição, a proposta de venda precisa ser aprovada por três quintos da Assembleia. Isso significa que Zema tem pouco tempo para ampliar a base de apoio na ALMG.