Os celulares se tornaram alvos cobiçados por criminosos por serem facilmente revendidos. Em tentativa de frear esses crimes, o uso de tecnologias que bloqueiam os aparelhos têm dificultado a revenda dos telefones em mercados de produtos ilegais. O reflexo de algumas dessas iniciativas tem contribuído para queda nas estatísticas de violência.
Em Minas Gerais, as ocorrências de roubo de celulares nos cinco primeiros meses deste ano caíram 28% em relação ao mesmo período de 2018, segundo dados da Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública (Sejusp). O estado conta, há um ano, com uma plataforma on-line que permite às vítimas impossibilitar, com apenas alguns cliques, o acesso dos criminosos a informações pessoais, como mensagens de texto, caminhos salvos em aplicativos de GPS e contas em redes sociais.
Apesar de operar há 12 meses, a Central de Bloqueio de Celulares (Cbloc) de Minas Gerais ainda é pouco conhecida pela população. Desde o lançamento do site do Cbloc, o serviço permitiu o bloqueio de 15 mil aparelhos celulares. Bastante simples de usar e rápida, a ferramenta digital une prevenção de furtos e roubos à segurança do usuário. “É uma estratégia de atendimento e enfrentamento ao roubo e furto, atuando dentro do triângulo do crime. Diminuir valor de mercado, facilmente comercializado, com isso inibir o crime”, afirma o superintendente de integração da Secretaria de Justiça e Segurança Pública, Leandro Almeida. Ao usar comparação com o triângulo, ele se refere às ações que podem incidir na autoria, local do crime e no produto. A plataforma recebeu solicitação de bloqueio provenientes das 19 regiões de Minas, mas, ainda assim, o superintendente acredita que pode ser ainda mais demandada, tornando o procedimento de registro mais conhecido entre as pessoas.
A estratégia tem mostrado resultados nos números relativos a roubos de aparelhos celulares em Minas e em Belo Horizonte. Entre janeiro e junho de 2018, as ocorrências no estado somaram 20.052 registros. No primeiro semestre deste ano, os casos caíram para 14.343, o que representou uma diminuição de 28,47%, segundo dados da Sejusp. Na capital, a redução foi ainda maior. As denúncias de crimes desse tipo passaram de 7.569 para 5.060 no mesmo tipo de comparação. A queda neste caso foi de 33,14%
Para o superintendente de Justiça e Segurança Pública, a inutilização dos aparelhos celulares, sem que haja a possibilidade de ativação em nenhuma operadora de telefonia, o dispositivo perde valor no mercado ilegal, o que desestimula a ação de criminosos. Leandro Almeida reforça que o bloqueio tem cobertura em todo território brasileiro e impossibilita também o uso do aparelho em outros países.
A facilidade de comercializar os aparelhos celulares em mercados ilegais impulsiona o crescimento nos números de roubos e furtos, que se tornaram crimes comuns. Para barrar esse tipo de crime é preciso fazer com que o celular roubado perca o valor nas transações ilegais. Na avaliação do superintendente, a queda no número de ocorrências se deve ao conjunto de ações de segurança pública implementadas, como a atuação ostensiva da Polícia Militar de Minas Gerais, que implementou bases móveis em locais onde os roubos são mais propícios, juntamente à medida tecnológica. “A redução deve-se a todas as ações de segurança, como a atuação significativa da PM, e soma-se o aparato tecnológico, convergindo na redução da curva de roubos e furtos”, diz o superintendente.
Para fazer o bloqueio, a vítima do roubo precisa registrar o boletim de ocorrência, documento que será anexado ao pedido na plataforma do Cbloc. Após a etapa de formalizar o boletim, o próximo passo é realizado na página da plataforma da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública. Além de bloquear o aparelho, a ação contribui para aumentar as chances de o celular ser recuperado. Ter sido identificado e bloqueado facilita no caso de o aparelho ser encontrado pelas autoridades policiais.
Atualizações contra clonagem
Todos os aparelhos celulares têm número da IMEI, que é o que a plataforma bloqueia. Porém, para tentar burlar, os criminosos recorrem a diversas estratégias para clonar a identificação. Fazem uso de aparelhos fabricados na China e na Coreia do Sul, que apagam a identificação do aparelho registrado no Cadastro de Estações Móveis Impedidas (Cime), da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). A tentativa é burlar o sistema das empresas de telefonia, fazendo com que o aparelho ser reconhecido como válido. No entanto, o superintendente afirma que, em Minas, esse recurso não foi aplicado pelo fato de o sistema no estado ser constantemente atualizado.