Em época de disputas de selfies, ganha quem tem prudência. No domingo, dois homens morreram afogados enquanto tentavam tirar a famosa foto na Cachoeira da Farofa, na Serra do Cipó, em Santana do Riacho, Região Metropolitana de Belo Horizonte. Os corpos foram encontrados ontem de manhã. O caso serve de alerta. A busca por fotografias em lugares extremos pode ser perigosa. De acordo com o Corpo de Bombeiros, os casos envolvendo a tecnologia têm sido recorrentes e é necessário maior conscientização acerca do risco. Ainda mais em época de férias escolares, em que locais como cachoeiras, lagoas, rios e represas são procurados para o lazer.
O grupo foi à Serra do Cipó se divertir e não esperava pela tragédia. Dois dos amigos faziam a foto sobre as pedras quando um deles, Victor Kennedy Almeida Afonso Pena, de 27 anos, escorregou e caiu no poço da cachoeira. Ismael Elias Maia, de 26, pulou e tentou salvá-lo, mas se afogou junto. O terceiro rapaz também tentou ajudar, porém, não conseguiu e, sem sinal no celular, correu até a portaria da Serra do Cipó para pedir socorro.
Cinco mergulhadores do Corpo de Bombeiros participaram do resgate, iniciado às 6h. Foram cerca de 40 minutos até a localização e retirada das vítimas. De acordo com o o subtenente Wellington, que participou do resgate, a corporação teve dificuldades na ocorrência: “Chegamos lá no domingo à noite, mas não dava para chegar à cachoeira, pois estava escuro e o local é de difícil acesso. Começamos os trabalhos hoje (ontem) de manhã, a água estava mais gelada que o normal”.
AVISO
“Tem gente que acaba perdendo o limite do tolerável. A pessoa precisa ficar perto das pedras seguras, não tentar ir para o meio em lugares mais fundos se não sabe nadar bem, não se expor demais”, alerta o tenente Sandro Aloisio Matilde Júnior. Ele acredita que a busca por curtidas nas redes sociais expõe as pessoas a esse tipo de risco: “Vivemos em uma sociedade em que a imagem está cada vez mais relevante. As pessoas querem a melhor foto e perdem a noção do perigo”.
Para ter uma foto campeã de curtidas, explica, é preciso atenção para não perder a vida. “Enquanto tira a foto, a pessoa perde toda a visão do que ocorre no lado externo da câmera. É um perigo. Tem gente olhando para a tela em locais de risco que escorrega, perde o controle e se acidenta”, acrescenta o tenente. Neste ano, o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais atendeu a 400 ocorrências de afogamento até maio. Em 2018, foram 937 casos, e 835 em 2017. O tenente Sandro, que já teve um amigo morto na Cachoeira da Farofa, alertou que as pedras de lá tendem a ser mais escorregadias, principalmente no período de férias. “São pedras muito lisas e que, quando molhadas, escorregam muito. Por ser uma cachoeira mais próxima da portaria, muitas pessoas vão para lá. Com muita gente entrando e saindo da água, as pedras ficam sempre molhadas”, explica.
O caso do afogamento de domingo (14/07) também deixa o alerta para quem tenta resgatar a vítima. “O afogado tem instinto natural de preservar a própria vida. Ele tenta se salvar e acaba puxando a pessoa”, conta o tenente. A recomendação é nunca tentar salvar alguém mergulhando junto. Os bombeiros orientam jogar algum objeto que flutue. “Pode ser uma boia, bola, pedaço de madeira, pneu, qualquer coisa que ajude até a chegada dos bombeiros. Até uma garrafa PET fechada e vazia serve”, afirma o tenente Sandro.