Globo Esporte
Àquela altura, o ouro já era do Brasil. Arthur Nory liderava e só restava Francisco Barretto para se apresentar na barra fixa. Chico voou. Uma, duas, três vezes. Foram voos tão precisos que superam a grande exibição do companheiro de treino e lhe renderam o terceiro título em Lima. Um encerramento perfeito de competição para a ginástica artística do Brasil, com mais uma dobradinha nos Jogos Pan-Americanos. Além do ouro de Chico e da prata de Nory, o país ainda foi ao pódio com Caio Souza (prata nas barras paralelas) e Flávia Saraiva (bronze no solo) nesta quarta-feira para terminar o Pan com 11 medalhas.
Quinto colocado na barra fixa da Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, Chico se consolidou entre os grandes nomes da ginástica brasileira. Ele também foi campeão por equipes e do cavalo com alças no Pan de Lima. Agora teve a companhia de Arthur Nory, que também fez uma grande exibição na barra fixa. A diferença entre eles foi de apenas 33 centésimos (14,566 x 14,533). Duas notas que inclusive os colocam como candidatos ao pódio em qualquer competição, inclusive Mundial e Olimpíada.
– Estamos colhendo frutos de trabalho duro. A preparação do ano foi pesada, foi difícil. Estamos procurando melhorar o grau de dificuldade junto com a qualidade das séries. Aqui deu para testar. A gente veio preparado. Deu para testar para que ocorra tudo bem no Mundial e que a gente possa garantir a vaga olímpica – disse Chico, lembrando que o Brasil vai brigar por uma das nove vagas olímpicas por equipes em disputa no Mundial de Stuttgart, em outubro. Entre os homens China, Rússia e Japão já estão garantidos, e entre as mulheres Estados Unidos, Rússia e China estão confirmados em Tóquio 2020.
Minutos antes, Caio Souza ainda vibrava com sua medalha de prata nas barras paralelas quando Flávia Saraiva teve a confirmação: também conquistou uma medalha, só que de bronze no solo. Foram duas medalhas quase que ao mesmo tempo.
Assim, o Brasil fechou o Pan de Lima com a melhor campanha da história em Jogos Pan-Americanos. Foram quatro ouros, quatro pratas e três bronzes. O Brasil superou o desempenho do Pan do Rio de 2007, quando conquistou quatro ouros, duas pratas e cinco bronzes.
Dobradinha na barra fixa
Aparelho mais espetacular da ginástica artística, a barra fixa sempre encerra as grandes competições. E foi perfeito para o Brasil. Nory e Chico já haviam liderado a classificatória, só trocaram de posição na final.
Quarto colocado neste aparelho no Mundial de 2015, Nory era favorito depois de ter feito 14,400 na classificatória e repetido a nota na final do individual geral. Ele fez uma série quase perfeita e conseguiu ainda melhorar essa nota para 14,533 pontos.
Só que Chico também foi perfeito na última apresentação de todo o Pan de Lima. Mesmo com uma série com dificuldade menor que a de Nory, Chico tirou a diferença em uma execução brilhante para conseguir 14,566.
O cubano Huber Godoy também foi bem na sua série, mas os 14,200 pontos só lhe garantiram o bronze.
Caio Souza conquista mais uma medalha
Ouro no individual geral e por equipes, Caio Souza também levou sua terceira medalha neste Pan-Americano. Nesta quarta-feira, ele entrou como favorito nas barras paralelas. Foi o melhor da classificatória com 14,850. Último finalista a se apresentar, sabia que seria campeão se repetisse o resultado. Teve apenas falhas pequenas na sua série, mas foi o suficiente para tirá-lo do topo do pódio. Com 14,366 pontos, ele ficou com a prata. O ouro foi para o mexicano Isaac Nuñez (14,433) e o bronze para o americano Cameron Bock (14,033).
– O trabalho está sendo bem feito. (O resultado) mostra que a gente está se preparando cada vez melhor para as competições – disse Caio.
Antes de levar o ouro na barra fixa, Chico também disputou a final das barras paralelas. Foi o primeiro a se apresentar, mas acabou sofrendo uma queda e foi o oitavo colocado com 13,033 pontos.
Flavinha leva bronze no solo
Flávia Saraiva teve duas finais nesta quarta-feira. Primeiro ela foi para a trave, aparelho em que é finalista olímpica. Sofreu duas quedas, mas se não se abalou para o solo. Antes mesmo de receber a nota da trave, Flavinha já queria sair do ginásio para aquecer. Teve de cumprir o protocolo e esperar o fim da prova, mas deu tempo de se preparar bem para seu principal aparelho. Ela abriu a final do solo com tudo. Fez uma série quase cravada, levantou a torcida em Lima e conseguiu 13,766 pontos.
– Eu queria abrir o solo bem e consegui. Estava com a sensação de dever cumprido, mesmo depois da queda na trave. A série estava muito boa, mas no finalzinho eu caí. Eu falei: “Relaxa, agora é solo. Curte esse momento que é único” – disse Flavinha.
Ainda teve negado o pedido de revisão da nota de dificuldade por não ter tido um elemento considerado. Foi o diferencial para não conseguir o ouro. A canadense Brooklyn Moors arrancou o título na última apresentação com 13,900. A prata ficou com a americana Kara Eaker, com 13,800.
Na mesma prova, Thaís Fidelis, que foi quarta colocado do solo no Mundial de 2017, teve problemas na aterrissagem da primeira acrobacia e acabou pisando fora do tablado. Com 12,966, acabou na sétima posição.
Quedas na trave
Flavinha foi a última a se apresentar na trave, logo depois que a americana Kara Eaker fez jus ao favoritismo e cravou sua série, tirando 15,266 pontos, a maior nota em uma competição internacional deste ano, atrás no geral apenas dos 15,400 que ela mesmo conseguiu no nacional dos Estados Unidos, superando a estrela Simone Biles.
Flavinha sabia que o ouro estava fora do seu alcance, mas entrou firme em busca de um pódio. Ela acertou a sequência acrobática que a derrubou na classificatória e que não apresentou na final do individual geral. Só que perdeu o equilíbrio no mortal lateral e teve de segurar no aparelho para não cair (conta como queda) e depois sofreu uma segunda queda. Com 12,300 pontos, a brasileira acabou na quinta posição. Além da campeã Kara, o pódio teve a canadense Ellie Black (13,566) e a americana Riley McCusker (13,333).
O Brasil também teve um representante na primeira final do dia. Caçula da equipe, Luis Guilherme Porto não conseguiu repetir o bom desempenho da classificatória do salto. Ele teve dificuldades nas aterrissagens dos dois voos e acabou na sétima posição, com média 13,650. O ouro foi para o dominicano Audrys Nin (14,416), que foi seguido pelo guatemalteco Jorge Vega (14,383) e pelo cubano Alejandro de la Cruz (14,183).