Globo Esporte
O desempenho do Brasil no Pan sempre dá esperança aos torcedores em relação às medalhas nas Olimpíadas no ano seguinte. Em 2020, a festa do esporte vai ser em Tóquio, no Japão. Pensando nisso, o GloboEsporte.com analisa cada medalha de ouro da delegação verde-amarela em Lima 2019 dando o peso que cada uma delas tem no cenário mundial. Em caso de esporte ou prova não olímpica, o atleta fica sem avaliação.
Revezamento 4x100m rasos masculino – atletismo
Campeão mundial em maio, o quarteto brasileiro conquistou, na sexta-feira, o título do 4x100m masculino no Pan de Lima. O tempo para o ouro do Pan foi de 38s27, que o Brasil já fez melhor essa temporada. Mas vale lembrar que a pista de Lima não está tão propícia para marcas rápidas.
O time brasileiro, formado por Paulo André, Rodrigo Nascimento, Derick Silva e Jorge Vides vem se consolidando como uma força mundial. Atualmente a equipe é quarta colocada do ranking de 2019, mas com muita perspectiva de melhora.
No Pan de Lima, Trinidad Tobago ficou em segundo com o tempo de 48s46. Os Estados Unidos, com um time que não é o titular, foi terceiro e ficou um pouco para trás. A equipe americana contava com dois atletas que já correram os 100m rasos abaixo dos 10 segundos, enquanto o Brasil não tem ninguém ainda.
Pensando em Tóquio 2020, o Brasil aparece como grande candidato ao pódio. Mas, para isso, o quarteto precisa correr na casa de 37s80, que seria recorde sul-americano. O melhor tempo do time atual é de 38s01, enquanto a marca nacional é de 37s90, feita em 2000.
Individualmente, os atletas estão melhorando e os quatro vivem a melhor fase da carreira. Portanto, a tendência é que a equipe melhore o tempo até os Jogos de Tóquio. A primeira seletiva será o Mundial do Catar, em outubro.
Bruno Fratus – 50m livre na natação
Ouro nos 50m livre nos Jogos de Lima nesta sexta-feira, seu primeiro individual no evento continental, Bruno Fratus tem se convertido em um dos nadadores mais regulares e respeitados de todo o cenário internacional. Foi ao pódio nas últimas três edições de Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos (bronze em Kazan 2015 e prata em Budapeste 2017 e Gwangju 2019) e detém como melhor marca pessoal na prova fortíssimos 21s27.
A marca que garantiu a vitória em Lima é forte, mas não suficiente para medalhas nos dois últimos Mundiais e na Rio 2016. Ainda assim, o colocaria na elite internacional. Daria a Fratus, por exemplo, a sexta posição na final do Mundial de Gwangju, encerrado no dia 28 de julho.
Neste ano, ele ficou próximo do melhor tempo pessoal ao nadar 21s31 em junho, registro inferior apenas ao do norte-americano Caeleb Dressel, que cravou 21s04 para levar o ouro em Gwangju.
Diferentemente do final do ciclo olímpico dos Jogos do Rio, quando sofreu com uma lesão em sua lombar, Fratus está saudável e tem feito economias para chegar a Tóquio 2020 em sua melhor forma. No segundo semestre do ano passado, ele passou por uma cirurgia no ombro esquerdo e ficou ausente de competições – voltou a competir em um grande torneio apenas no Troféu Brasil/Maria Lenk, em abril. O físico em dia pode ser um importante aliado na luta por sua primeira medalha olímpica.
Rafaela Silva – categoria até 57kg do judô
Campeã mundial em 2013 e ouro na Olimpíada de 2016, Rafaela conquistou o título que lhe faltava no currículo. Atual número 5 do ranking mundial, a judoca “passou o carro” nas três lutas. Venceu a americana Amelia Fulgentes após a rival ter punida três vezes, passou pela cubana Anailys Dorvigny com um Ippon em menos de um minuto e, por fim, liquidou a final contra a dominicana Ana Rosa antes da metade do duelo.
O ouro tem quer ser muito comemorado, afinal, ela tinha uma prata e um bronze no currículo. Mas, pensando na comparação com as melhores do mundo, as adversárias não eram tão bem ranqueadas. Ana Rosa, por exemplo, é a 66º do ranking, enquanto a cubana derrotada na semi era 64ª. A panamenha Myriam Ropper, número 17 do ranking, não chegou nem a decisão.
Apesar de estar atrás no ranking, Anailys já tinha vencido a brasileira duas vezes, então não era uma luta tão fácil de ser vencida.
A judoca brasileira é, atualmente, quinta colocada do ranking mundial. Depois de dois anos de altos e baixos, em que ficou sem ir ao pódio nas principais competições, nos últimos meses ela engatou seis pódios seguidos em torneios importantes. Para Tóquio, aparecerá como uma das favoritas ao título.
Revezamento 4x100m rasos feminino
Depois do quarto lugar conquistado nos Jogos de Toronto 2015, a equipe feminina do revezamento 4x100m conquistou a medalha de ouro em Lima 2019. O quarteto formado por Andressa Fidelis, Vitória Rosa, Lorraine Martins e Rosangela Santos terminou a prova em 43s04.
O tempo é bom, seria medalha de ouro, por exemplo no Campeonato Mundial de revezamento, disputado em maio. Ali, as americanas venceram com 43s27. Mas vale lembrar que, no Mundial de 2017, o ouro das americanas veio com 41s82.
Apesar da vitória, ficou claro que as brasileiras ainda podem melhorar, e muito, as passagens de bastão, onde as atletas ganham centésimos importantes. Principalmente a passagem de Vitória para Lorraine foi visto um probleminha que fez com que a marca não fosse tão boa.
A medalha de ouro tem que ser valorizada e comemorada pois foi uma vitória super importante. Mas vale lembrar que a Jamaica não correu com seu time principal, enquanto as americanas, apesar de alguns bons nomes, não estavam com as titulares.
A classificação para Tóquio virá caso o time chegue à final do Campeonato Mundial, que será em Doha, em outubro. A equipe tem totais condições de pegar a vaga. Para brigar pelo pódio precisa correr perto dos 42s00, o que faz com que precise melhorar para chegar a tal patamar
Marlon Zanotelli – Hipismo individual
Marlon Zanotelli se tornou o primeiro brasileiro a ser campeão individual na história dos Jogos Pan-Americanos. O país já tinha tido as pratas do lendário Nelson Pessoa e de seu filho, Rodrigo Pessoa, que seria campeão olímpico em 2004. Por isso, é um título importante para a carreira de Marlon.
O brasileiro apareceu muito bem no Mundial de 2014, quando foi um dos principais nomes do país na quarta colocação por equipes. Ficou entre os melhores no individual também, Mas, nos últimos anos, teve dificuldades de conseguir um bom cavalo de nível e ficou fora da Olimpíada.
Para conseguir uma medalha olímpica, é necessário o cavaleiro ter uma montaria muito boa. É bem complicado ir ao pódio individual sem ter um dos melhores cavalos do mundo. A montaria de Marlon, Sierene de La Motte é boa, como foi visto na final do Pan, mas não está entre o top 10 cavalos do mundo.
Um pódio olímpico para Marlon seria muito mais provável em uma disputa por equipes do que no individual. Mas é importante ressaltar que, em Lima, ele deixou para trás nomes como a medalhista olímpica Bezzie Madden.
Revezamento 4x200m livre masculino na natação
O revezamento brasileiro, que foi ao topo do pódio do Pan de Lima, está em ascensão. Campeão e recordista mundial em piscina curta (25m) na China, em dezembro do ano passado, já está classificado para os Jogos Olímpicos de Tóquio e tem uma base sólida com Fernando Scheffer, Breno Correia, Luiz Altamir e João de Lucca – além do emergente Murilo Sartori, de 17 anos, como pretendente à vaga.
Porém, a marca registrada para vencer a prova na capital peruana (7min10s66) ficou bem aquém do potencial da equipe. Ela não seria suficiente para classificar o time nacional para a final do Mundial de Gwangju, no mês passado, e foi três segundos mais lenta do que o recorde sul-americano.
Em Gwangju, o time foi finalista e bateu por dois segundos o recorde continental da prova, embora lá também houvesse expectativa de nadar melhor. É preciso nadar na casa de 7min02s para se começar a vislumbrar um lugar no top 5 da distância nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
Etiene Medeiros – 50m livre na natação
A pernambucana conquistou sua segunda medalha de ouro individual em participações nos Jogos Pan-Americanos nesta sexta-feira, o que prova seu valor em nível internacional. Etiene foi finalista olímpica da distância mais rápida das piscinas e também levou uma medalha de bronze no Mundial em piscina curta de Hangzhou, na China, em dezembro.
A marca que ela obteve para triunfar em Lima, porém, está bem aquém de seu recorde sul-americano (24s45) e não bastaria para se garantir em uma final olímpica ou de mundial. Para se ter uma ideia, os 24s88 de Etiene desta sexta-feira até a fariam avançar das eliminatórias para a semifinal no Mundial de Gwangju, realizado no mês passado, mas nas semifinais a deixariam apenas na 11ª posição.
De qualquer maneira, trata-se de um título importante para a carreira da nadadora, que anunciou no primeiro semestre deste ano que se concentraria mais nos 50m livre de olho em uma nova boa campanha nos Jogos Olímpicos de Tóquio – a prova que lhe rendeu mais títulos e reconhecimento internacional, os 50m costas, não estão no programa da Olimpíada.
Patrícia Freitas – vela
A brasileira conquistou, com muitos méritos, o tricampeonato pan-americano da classe RS:X. O início foi complicado, com uma desclassificação de regata no primeiro dia, mas na sequência ela se recuperou com uma série de vitórias.
Patrícia ainda precisa conquistar a vaga na Olimpíada, que deve vir com tranquilidade ou no Campeonato Mundial deste ano ou, em última instância, no Sul-Americano de 2020, que ela deve vencer com tranquilidade. No Mundial do ano passado, ela, que se recuperava de uma lesão, ficou em 13º lugar.
Nenhuma das atletas das Américas está entre as melhores do mundo, por isso já era esperada a superioridade de Patrícia. Ela tem chegado constantemente entre as dez primeiras colocadas nas principais regatas do mundo, mas ainda precisa dar um salto para brigar pelo pódio.
Gabriel Borges e Marco Grael – vela
A medalha de ouro da dupla brasileira na classe 49er precisa ser muito comemorada, não só pelo título, mas como também pela vaga olímpica, conquistada com a vitória sobre o barco argentino. É a primeira vez que a categoria é disputada em Jogos Pan-Americanos.
Outro ponto importante da vitória no Pan foi ter conseguido deixar para trás o time argentino formado por Yago e Klaus Lange, que ficaram em sétimo na Olimpíada do Rio.
Gabriel e Marco fizeram a parceria que representou o Brasil na Olimpíada do Rio, terminando em 11º lugar, muito perto da classificação para a Regata da Medalha. Mas, durante o ciclo, o time se desfez, com Marco participando do Mundial de 2018 ao lado do espanhol naturalizado brasileiro Carlos Robles. Mas, para 2019, o antigo time voltou a atuar junto.
Pensando na Olimpíada de Tóquio, ainda é difícil sonhar com uma medalha para Gabriel e Marco. Nas competições que fizeram juntos, a briga tem sido muito mais para ficar entre os dez primeiros, do que pelo pódio. Os principais países na categoria são Nova Zelândia, Austrália, Alemanha e França.
Ederson Vilela – 10000m no atletismo
Talvez a mais surpreendente das medalhas de ouro do Brasil nesta sexta-feira veio com Ederson Vivela nos 10000m. Ele fez a melhor marca da carreira, com 28m27s47, com uma prova muito inteligente. Começou lá trás, cresceu as poucos, e nas últimas voltas arriscou e disparou para a vitória.
No Pan de Lima, não havia nenhum atleta de nenhum país que está entre os principais competidores do planeta. Mas Ederson “não tem culpa” disso e levou o título deixando todos os rivais para trás. Ele chegou na prova como apenas o quinto melhor tempo entre os atletas inscritos.
Pensando em Jogos Olímpicos, o tempo de Ederson ainda está distante de brigar pelas primeiras posições. Na Rio 2016, por exemplo, a medalha saiu na casa do 27m10s. No Campeonato Mundial de 2017, a prova foi ainda mais forte, abaixo dos 27 minutos. Agora o objetivo dele é buscar o índice olímpico que, pela Federação Internacional, é de 27m28s00, ou tentar a qualificação via ranking.