Até mesmo um relógio quebrado está certo, pelo menos, duas vezes ao dia. Não sei dizer quem é o(a) autor(a) desta frase, mas posso informar que faz todo sentido. Ainda mais se levarmos em consideração o cenário político federal atual.
Nosso atual Presidente recebe inúmeras queixas quanto ao seu temperamento intempestivo, sua fala muitas vezes pobre, desarticulada e imprópria. Ataques pessoais são rotineiros em redes sociais. Ataques estes entabulados especialmente por aqueles que votaram em outros candidatos. É a Democracia. E ainda bem que assim o é.
Estamos em um momento social e político muito complexo. Por vezes não se verifica o conteúdo da fala ou da conduta, mas sim o seu(ua) autor(a). Desta forma, passando a ser ignorado totalmente o seu conteúdo. Em outras oportunidades, levamos em conta o discurso adotado e não o histórico da pessoa. Tudo varia ao sabor do vento de convicções que realmente não são nossas.
Lembra-se de quando Barack Obama disse que Lula era “O cara”? Ficamos radiantes com este “reconhecimento” da maior potência mundial. Porém, nos esquecemos que o presidente estadunidense sofreu graves crises nunca experimentadas por qualquer outro daquele país. São exemplos: vazamento de dados sigilosos (WikiLeaks e Snowden), tensão nas relações internacionais (Rússia e mundo árabe), quebra das boas relações entre Republicanos e Democratas no congresso, aumento da dívida pública (19,9 trilhões de dólares), déficit comercial americano (regulações econômicas, ambientais, etc…) aumento de impostos (para custear o ObamaCare – saúde americana), dentre outras medidas desastrosas. Diante destas situações, Obama seria um dos piores Presidentes americanos.
Porém, e se eu te disser que Obama conseguiu frear e mudar os rumos do país frente à segunda maior recessão econômica americana, que a reforma da saúde americana (ObamaCare) garantiu a 32 milhões de pessoas acesso à saúde, que ele fomentou o direito ao casamento gay, que conseguiu reaproximar as relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos, que propôs controles de emissão de gases poluentes, que buscou promover reforma judicial oportunizando recuperação social de condenados por crimes não violentos e que ainda apoiou medidas de acolhimento aos imigrantes ilegais. Diante destas situações, Obama seria um dos melhores Presidentes americanos.
Considerando que a mesma pessoa pode obter bons e maus julgamentos, às vezes me pergunto: onde foi que deixamos nossa criticidade? Aparentemente perdemos o senso de racionalidade por mero apego à figura “A” ou “B”, bem como seus discursos. Prestamos nosso apoio a determinados discursos pelo seu simples conteúdo, não verificando o que aquela ideia afeta OU pior: prestamos apoio irrestrito a alguém pela pessoa que simplesmente é.
Augusto dos Anjos, poeta brasileiro parnasiano, dizia: A mão que afaga é a mesma que apedreja. Por isso, sempre haverá quem noticie o mesmo fato sobre ótica diversa. Apenas para exemplificar, vamos mudar o foco de política para futebol (paixões nacionais). Em 04/07/2018 A Fox Sports Brasil assim noticiou: “Negociação avança e Santos pode contar com atacante de gigante alemão”. Ocorre que as negociações não avançaram com o time do Santos. O jogador supracitado foi contratado pelo Clube Atlético Mineiro recentemente. O mesmo veículo de comunicação em 01/08/2019 anunciou: “Atlético-MG acerta com atacante argentino ex-Chelsea que não marca desde fevereiro.” O jogador era o mesmo: Franco Di Santo. Focos totalmente diferentes sobre o assunto: contratação de atleta.
Voltando à política: em 02/08/2019 “O Globo” noticiou: “País pode perder R$ 50 milhões com proposta de Bolsonaro de cortar impostos de videogames”. Ocorre que tal jornal partiu do pressuposto que nos próximos 3 anos o consumo nesta área se manteria o mesmo. Desconsiderando que o Brasil é um dos maiores mercados do mundo neste setor e possui franca ascensão. Ignorando, ainda, que os impostos são causadores da alta taxa de pirataria envolvida neste nicho que acaba por diminuir os números que refletem a realidade.
Se por um lado perdemos arrecadação em IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), por outro lado fomentamos o consumo, industrialização, geração de emprego e renda. Ou seja, existindo melhores condições de consumo, automaticamente, o mercado passará a absorver essa nova realidade.
Outro Augusto, o Licks, nos ensinou: “Nas grandes cidades de um país tão violento / Os muros e as grades nos protegem de quase tudo / mas o quase tudo quase sempre é quase nada / e nada nos protege de uma vida sem sentido.”.
A pergunta de um milhão de reais é:
- Por que as raramente nos são apresentados ambos os lados da moeda?
Proponho que sejamos poetas como Augusto dos Anjos. Que ninguém dome nosso coração. Que ninguém dome nossos pensamentos. Sejamos livres para pensar e agir de acordo com o bem comum.
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