A UnB, Universidade de Brasilia, começou a fazer uma pesquisa pioneira para tratar dependentes de crack e procura voluntários para os testes com o novo remédio.
A professora e pesquisadora Andrea Gallassi está usando óleo de cannabis no tratamento da dependência da droga e os primeiros resultados são animadores.
De acordo com pesquisadora, a substância tem potencial para amenizar praticamente todos os sintomas da abstinência, como ansiedade, insônia, falta de apetite e o desejo intenso pelo consumo da droga.
Pelo menos 15 voluntários já estão fazendo o tratamento experimental, gratuitamente, informou a equipe da professora ao SóNotíciaBoa.
“Eles estão dormindo melhor, estão mais calmos e com um bom apetite. É uma análise bem inicial, mas já é animadora”, disse Andrea Gallassi ao G1.
A intenção da pesquisadora é resumir o tratamento em uma única substância 100% natural, que é o canabidiol.
“Seria um medicamento único e não um coquetel. O grande desafio é desenvolver medicamentos que, de fato, ataquem os principais sintomas de pessoas que têm dependência de crack, de cocaína e álcool.”, conta.
A pesquisa propõe que o tratamento seja feito sem internações, para que os pacientes consigam abandonar o uso do crack sem abrir mão da própria rotina.
“O máximo que [o canabidiol] pode fazer é dar sonolência. Ele ainda tem uma toxicidade muito baixa, pro fígado e pros rins, por exemplo”, diz.
Antes de começar o processo terapêutico, Andrea informa aos pacientes sobre a substância usada, seus efeitos e mitos. “A gente explica pros pacientes que é um medicamento derivado da maconha, mas que não tem o princípio ativo, que é o THC.”
“É também uma forma de combater a desinformação com informações correta, baseadas em evidências científicas.”
A pesquisa
Há cerca de três anos, Andrea Gallassi pediu à Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, para importar o extrato e testá-lo em dependentes da droga sintética.
O estudo começou no mês passado, depois que o primeiro carregamento de canabidiol chegou do exterior.
“Foi a primeira importação para fins de pesquisa. Até então, a Anvisa só havia autorizado a compra por pessoas físicas”, explicou Gallassi.
Para custear as importações, a pesquisa conta com financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa do DF (FAP-DF) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
A pesquisa é desenvolvida em parceria com o Centro de Atenção Psicossocial (CAPs) de Ceilândia.
Testes
Ao todo, 80 pessoas com dependência de crack passarão pela experiência até outubro – metade receberá o canabidiol e a outra metade, o tratamento convencional.
Nenhuma delas será informada sobre os medicamentos ingeridos.
“Não existe o grupo que toma pílula de placebo, todo mundo vai ser tratado. Só que os pacientes não vão saber em qual grupo estão. Eles apenas sabem que a pesquisa envolve o canabidiol e assinam um termo em que declaram não saber o que vão tomar”, explica Andrea Gallassi.
“Recebemos muito contato de familiares, mas a premissa é que a pessoa tem que querer participar da pesquisa e ela mesma deve fazer esse contato”, afirma.
Voluntários
O tratamento terá duração de dois meses e meio, com encontros presenciais uma vez por semana.
O atendimento é feito sempre no CAPs AD 3 de Ceilândia, a 25 km de Brasília.
“Como qualquer pessoa que tem dependência de drogas, o dependente de crack também pode ter dificuldade para manter o tratamento. É esperado que tenha abandono, recaída, mas estamos preparados.”
Para participar da pesquisa bastar ligar, ou mandar Whatsapp para o número (61) 9.9996-7060.