As mulheres foram as que mais se beneficiaram com a presença internacional desde a queda dos talibãs em 2001 e são as que mais poderão ser prejudicadas com o que sair do projeto de acordo entre os Estados Unidos e o movimento Talibã.
Durante 18 anos, salvo nos setores rurais, as mulheres puderam voltar a estudar, trabalhar e se emancipar.
Agora, temem voltar ao zero se os insurgentes chegarem ao poder.
O medo se mistura com a esperança de ver o fim da violência.
– Sem repetição –
“Não sabemos o que eles têm em mente para nós”, diz Suraya Pakzad, 48 anos, fundadora da ONG The Voice of Women.
“Nossos direitos foram sacrificados pela paz com o Talibã”, acrescenta.
“Os insurgentes não mudaram. Eles querem uma interpretação rígida da sharia”, diz ela, referindo-se à lei islâmica.
Até agora, o Talibã permaneceu muito discreto sobre o papel previsto para as mulheres se retornarem ao poder.
Quando eles estavam no comando do Afeganistão, entre 1996 e 2001, “todas as vozes foram reduzidas ao silêncio”, explica.
“Não queremos ver isso se repetir”, afirma Suraya Pakzad, apontada em 2009 pela revista americana Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo.
Algumas afegãs são bem-sucedidas na vida civil e política desde 2001, lembra ela.
“Receio que serão as primeiras vítimas de um mau acordo”.
– Zahra: “As mulheres sofrerão”
“Se o Talibã voltar, as mulheres sofrerão muito”, prevê Zahra, artista plástica de Cabul.
“A maioria, ou mesmo todas que trabalham, perderão o emprego”, afirma, temorosa.
Zahra pinta afrescos nas paredes à prova de explosão construídas na capital.
Ela se sente orgulhosa e feliz por exercer a profissão de que gosta, apesar das provocações de que já foi vítima.
“Algumas pessoas me disseram: por que uma mulher tem que trabalhar? Ela deve ficar em casa”, recorda.
Em uma sociedade afegã profundamente patriarcal, com péssimos índices na classificação da ONU sobre igualdade entre homens e mulheres, “a opinião da população sobre os direitos das mulheres até que melhorou”, comenta, no entanto, a a artista.
Uma paz com o Talibã que traga a privação de liberdade para as mulheres “não vale a pena”, destaca ainda.
“Lutamos muito para obter nossos direitos. Não podemos nos dar ao luxo de perder isso”
– Haida: “Uma geração diferente” –
“O Afeganistão de 1990 é radicalmente diferente do de 2019”, diz Haida Essazada, 23 anos, diretora da Rede Afegã de Jovens.
“Minha geração é uma geração completamente diferente”, diz ainda.
“As mulheres trabalham duro todos os dias para mudar essa sociedade e se o Talibã não aceitar isso, nós também não aceitaremos”, enfatiza a jovem.
“Este é o grande desafio dos talibãs”, diz ela. “Eles terão que fazer grandes concessões para entrar neste governo e serem aceitos por esta geração”.
– Marghuba: “Vá trabalhar” –
Marghuba Safi, 40 anos, administra desde 2016 uma empresa que fabrica sabonetes, cremes e bolsas.
Está feliz pelas perspectivas de paz, mas, ao mesmo tempo, elas são uma fonte de preocupação.
“Sou mãe solteira, chefe de família e a única que ganha dinheiro. Minha grande preocupação é que o Talibã não permita que mulheres como eu, mulheres de negócios, trabalhem”.
Para montar a empresa, seu sonho, a empresária teve que superar muitas dificuldades.
“No começo, eles me diziam que não era bom uma mulher sair e conversar com homens”.
Isso era algo impensável quando o Talibã governou o país.
Atualmente, Marghuba Safi emprega 20 pessoas, todas ex-viciadas em drogas.
“Se eles não me deixarem continuar, será como uma explosão na minha família”, lamenta.