Por Agência Brasil* Fortaleza
Segundo a representante da Opas no Brasil, a especialista em imunizações Lely Guzman, as doses já entregues vieram do Serum Institute of India e estão passando pelos trâmites regulatórios previstos na legislação brasileira para o controle de qualidade.
“O Brasil, neste momento, está fazendo muitas ações para dar resposta a esse surto”, disse Lely, referindo-se aos casos de sarampo registrados no país. “O Brasil é muito importante na região, e tudo o que acontece no Brasil rapidamente impacta os outros países”, acrescentou.
De acordo com Lely, não existem atualmente dificuldades de fornecimento de vacina contra o sarampo para países do continente sul-americano. Surtos da doença também estão sendo registrados em outras partes do mundo, como a Europa e a África, e a demanda pela vacina deve aumentar. “Os laboratórios neste momento estão sendo chamados a produzir mais porque espera-se que, no próximo ano, a demanda será muito maior nesse processo de eliminação [do sarampo] das regiões comprometidas.” Lely informou que a coordenação internacional do processo será da Organização Mundial da Saúde (OMS) e suas entidades regionais, como a Opas.
Certificado ameaçado
Conquistado em 2016, o certificado de eliminação do sarampo das Américas pode estar ameaçado pelos surtos registrados desde 2017 em parte de seus países. Se os Estados Unidos não contiverem até o fim deste mês o surto da doença, iniciado em 30 de setembro do ano passado no estado de Nova York, será o terceiro país da região a perder o certificado de erradicação.
Brasil e Venezuela já perderam esse reconhecimento por não terem conseguido quebrar a cadeia de transmissão do vírus no período de 12 meses após o início de um surto. Caso o mesmo ocorra com os Estados Unidos, país mais populoso do continente, as chances de o certificado continental ser revisto são maiores, destacou Lely Guzman, que fez nesta sexta-feira (6) palestra na Jornada Nacional de Imunizações, em Fortaleza.
O continente americano é o mais avançado no cumprimento dos objetivos do Plano de Ação Vacional Global da OMS. Os 35 países do continente conseguiram erradicar a rubéola, a poliomielite, o tétano materno e neonatal e, até 2017, também haviam zerado os casos de sarampo. Apesar disso, os países não conseguiram cumprir de forma conjunta as metas de cobertura vacinal, o que permitiu que a doença voltasse a circular.
A Venezuela foi o primeiro país a perder o certificado de eliminação do sarampo, em julho de 2017 – no ano passado, o país teve 5,7 mil casos de sarampo e agora, em 2019, já registrou 417.
Segundo a Opas, as taxas de imunização aquém do necessário na população brasileira fizeram com que o vírus circulasse na Região Norte desde o ano passado após a chegada de pessoas que foram infectadas na Venezuela. Em 2018, o Brasil teve 10 mil casos de sarampo, e o surto iniciado no Norte não foi totalmente controlado em 12 meses, o que fez com que o país perdesse o certificado de erradicação neste ano.
Em 2019, já são mais de 2,7 mil casos, conforme o último balanço do Ministério da Saúde. A maioria dos casos (98%) está concentrada em São Paulo, onde teve início outro surto, também por causa das baixas taxas de imunização, que permitiram que o vírus circulasse após a chegada de pessoas infectadas na Europa e na Ásia.
A Colômbia também tenta conter um surto antes de se completar o período de 12 meses. No caso dos colombianos, ações de imunização na fronteira com a Venezuela e uma cobertura vacinal maior permitiram que o certificado fosse mantido até o momento, mas a circulação do vírus continua. A Colômbia teve 208 casos no ano passado e 189 neste ano.
Segundo a Opas, o caso dos Estados Unidos é diferente e se iniciou com a chegada de imigrantes de fora do continente americano. No estado de Nova York, onde ocorre o surto mais duradouro, o vírus se espalhou em comunidades religiosas que não estavam com a vacinação em dia, e ainda não foi inteiramente contido. Outros surtos, no entanto, ocorrem simultaneamente no país, que teve 372 casos em 2018 e 1,2 mil em 2019.
Dos 35 países do continente americano, apenas 16 vacinaram mais de 95% do público-alvo com a primeira dose da vacina contra o sarampo em 2018, e somente oito cumpriram a meta para a segunda dose: Antigua e Barbuda, Costa Rica, Cuba, México, Nicarágua, Panamá, São Cristóvão e Neves e São Vicente e Granadinas. No caso da segunda dose, 19 países não atingiram sequer 80% do público-alvo, incluindo Brasil e Venezuela.