EM
Áudios vazados de um grupo de WhatsApp dos vereadores mostram parlamentares discutindo a melhor maneira de votar projeto de lei que aumenta os salários do Legislativo e do Executivo de Cambuí, no Sul de Minas. Nas conversas entre dois vereadores e um ex-vereador que está no grupo, os políticos desdenham da opinião pública sobre o tema. Dizem que quanto menos gente comparecer na sessão no dia da votação melhor (ouça os áudios no fim da matéria). O conteúdo dos áudios revoltou a população da cidade de 30 mil habitantes e obrigou a Câmara a arquivar a proposta.
De acordo com o projeto de lei protocolado na Câmara, o salário de cada vereador passaria de R$ 3.043 para R$ 4.900, um aumento de 61%. O novo valor começaria a vigorar na próxima legislatura, a partir de 2021.
Com o vazamento das conversas, ocorridas no último fim de semana, e a repercussão após a divulgação nas redes sociais, a Mesa Diretora da Câmara recuou e comunicou, nesta terça-feira (17/09), a retirada de pauta e arquivamento do projeto que estava para ser votado nesta semana.
A conversa
O vereador Luiz Paulo Nepomucenia (PV), o Paulinho Nepomucenia, teria sido o primeiro a tocar no assunto do aumento de salário na conversa no grupo com os demais vereadores. O político conta que tirou o dia para visitar bares, que foi a cinco lugares, foi à feira e ninguém comentou nada (sobre o projeto de aumento de salários).
O vereador ainda pede aos colegas que não convidem pessoas para acompanhar a sessão da Câmara que votaria o projeto. “Quanta menas (sic) gente ir é melhor. Aí o ‘Feio’ fica sem força para falar”, diz Paulinho. Feio é o apelido de um ex-vereador contrário ao projeto.
Em resposta ao áudio do vereador Paulinho, o presidente da Câmara, Rafael Santos Lambert (PSDB), diz que monitorou as redes sociais e afirma que acabou o “bafafá”. “As pessoas que tavam inflamando já colocaram o rabinho entre a perna e tão dormindo em cima dele (sic)”, diz o vereador, que continuou falando dos trabalhos desenvolvidos pelo Legislativo.
Os áudios não foram editados. O de Lambert tem 2min40. O trecho que ele fala do projeto está logo no início. O de de Paulinho tem 1min30. Durante todo esse tempo ele fala das visitas que fez bares e também defende uma sessão esvaziada.
Presidente confirma áudio e retira projeto
Procurado pela reportagem, o presidente da Câmara confirma o áudio enviado no grupo de vereadores e diz que foi um desabafo. Ele afirma que mandou o áudio se referindo, sem citar nomes, a um grupo de pessoas que estava difamando o caráter dos vereadores e incitando a violência.
O presidente disse também que o projeto está tramitando com total transparência e que está dentro da legalidade. Segundo Rafael Lambert, “o salário dos vereadores de Cambuí poderia chegar a 30% dos salários dos deputados estaduais e está bem abaixo do limite constitucional”. E completou: “Então não tem nada inconstitucional. A validade seria a partir de 2021, para a próxima legislatura”.
Depois da polêmica dos áudios vazados, o presidente da Câmara anunciou a retirada do projeto de tramitação e o arquivamento da proposta. A reportagem não conseguiu falar com o vereador Luiz Paulo Nepomucenia.
Cidade mobilizada
Mesmo após o comunicado do arquivamento da proposta, os moradores de Cambuí mantêm a mobilização para ir à sessão ordinária para certificar que o aumento não será votado. A reunião ocorre nesta terça-feira (17), às 19h.
Íntegra da nova divulgada pela Câmara
“A Câmara Municipal de Cambuí vem a público informar que, atendendo aos anseios populares e reafirmando compromisso de sempre atender melhor os interesse do município, após deliberação dos vereadores e acatamento da Mesa Diretora, os projetos de Lei 057/2019 e 058/2019, que fixavam os subsídios dos vereadores, prefeito, vice-prefeito, secretários e procurador para a próxima legislatura foram retirados de pauta e foram definitivamente arquivados, sendo que não há nenhum outro projeto tramitando com o mesmo conteúdo.”
Ouça o presidente da Câmara
Ouça o vereador Paulinho Nepomucenia
(Magson Gomes, especial para o EM)
1 comentário
Que toda a população de todas as cidades façam isso!
Isso é democracia.