Do ponto de vista político, a volta do ex-combatente do Vietnã John Rambo às telas é muito simbólica sobre a posição dos Estados Unidos no cenário internacional, não muito diferente do que acontecia no início dos anos 80, quando o primeiro filme da franquia foi lançado.
A desconfiança em relação aos “forasteiros” está no cerne de “Rambo – Até o Fim”, estreia de hoje nos cinemas. Num momento em que Donald Trump ergue muros na fronteira com o México, os vizinhos são apresentados como o “mal” a ser eliminado nesta continuação.
Apesar de mais velho (Sylvester Stallone, que vive o personagem há mais de três décadas, tem hoje 72 anos), Rambo segue fiel ao pensamento conservador republicano – o perigo, parece dizer a todo mundo, está lá fora, criando um bunker na própria fazenda.
O personagem antevê, desta forma, que precisará reforçar todas as suas defesas diante da guerra iminente contra o estrangeiro, que já ganhou a feição de vietnamitas, russos e árabes nos quatro longas-metragens anteriores.
Olho por olho
A violência que toma conta do filme principalmente nos 30 minutos finais é justificada a partir do “olho por olho, dente por dente” (Lei de Talião). Não há qualquer questionamento para tamanho banho de sangue, a não ser impor um sofrimento maior ainda.
Como em vários filmes deste naipe, as mulheres são caracterizadas como indefesas, dependentes do homem para protegê-las. É o papel que Rambo cumpre, vivendo para a sobrinha. Nas primeiras cenas, pede para ela desistir de fazer faculdade e continuar no rancho, treinando cavalos.
O roteiro tenta, porém, mostrar mais do que a desconfiança de Rambo em relação ao que o rodeia, exibindo laços familiares. Logo esse viés é abandonado para vermos à batalha de um homem só contra um exército inteiro. Nada mais anos 80.