Superesportes
A passagem do técnico Rogério Ceni pelo Cruzeiro durou exatos 44 dias. Apresentado no dia 13 de agosto, ele deixa o comando da equipe nesta quinta-feira (26/09) após desentendimento com os jogadores do elenco.
O estopim dessa relação ocorreu após o empate entre Cruzeiro e Ceará (0 a 0), nessa quarta-feira, no Castelão, em Fortaleza. No vestiário, Dedé falou sobre a importância de Thiago Neves, questionando a ausência do meia no time. O posicionamento do defensor teve o apoio de outros atletas. Na partida, TN10 foi preterido e não entrou em campo. Rogério Ceni não gostou do que ouviu e saiu do vestiário. O episódio gerou forte crise que acabou resultando na demissão do treinador.
Substituto do técnico Mano Menezes, Ceni comandou o time celeste em oito partidas, com quatro derrotas, duas vitórias e dois empates. Ele começou de forma promissora, com duas vitórias e um empate. Depois, o time perdeu quatro vezes seguidas, sendo, inclusive, eliminado da Copa do Brasil com direito a goleada do Internacional por 3 a 0. Nessa quarta, a equipe interrompeu a sequência negativa com um empate com o Ceará.
Um grupo de 15 torcedores recepcionou o elenco celeste no desembarque no aeroporto de Confins, nessa quinta-feira, com gritos de apoio a Rogério Ceni. O treinador fez um gesto positivo, cumprimentando os cruzeirenses e entrou no ônibus do clube. Mais tarde, ele se reuniu com a diretoria na Toca da Raposa II e foi demitido.
Em Confins, os torcedores pediram a saída de Thiago Neves, um dos pivôs do rompimento de parte do grupo com o técnico. “Ei, Thiago Neves, pede para sair!”. Vários jogadores deixaram o aeroporto em carros particulares, assim como o vice de futebol Itair Machado.
Itair, inclusive, foi duramente criticado pelos torcedores. Ele ouviu gritos de “safado” e “volta para o Ipatinga”.
Início positivo
Rogério Ceni iniciou sua trajetória no Cruzeiro com bons resultados. A Raposa vinha de uma sequência de uma vitória em 18 jogos com o técnico Mano Menezes. Logo na estreia de Ceni, o time venceu o Santos por 2 a 0, no Mineirão. Depois, empatou com o CSA por 1 a 1, no Rei Pelé, em Maceió. Na sequência, bateu o Vasco, no Gigante da Pampulha, por 1 a 0. O futebol não era brilhante, mas, enfim, o time voltava a somar pontos no Campeonato Brasileiro.
Desentendimentos
A primeira derrota também trouxe a público o descontentamento de um dos principais atletas do elenco.
Thiago Neves expôs o treinador após a goleada sofrida pelo Internacional por 3 a 0, no Beira-Rio, pela semifinal da Copa do Brasil, no dia 4 de setembro. O armador disparou contra as mudanças promovidas pelo técnico Rogério Ceni na escalação do time.
Ceni improvisou Jadson na lateral direita, preterindo Edilson, substituto imediato de Orejuela, que estava com a Seleção Colombiana. Ainda na linha de defesa, optou por manter Fabrício Bruno, deixando Leo no banco de reservas. Na etapa final, ao perder Dedé, por lesão, o treinador chamou Ariel Cabral e deslocou Henrique para a defesa.
“É um jogo diferente, a gente precisou se adaptar. Na minha opinião, você mudar três ou quatro jogadores em uma decisão fora de casa é muita coisa, em um time que já vem formado. Improvisar jogadores é difícil, ainda mais jogadores que não vêm jogando. Ficou um pouco complicado, mas mesmo assim a gente conseguiu fazer um bom primeiro tempo. E aí o primeiro gol complicou”, disse o meia.
Thiago Neves também criticou a revelação da escalação para o elenco poucas horas antes da partida decisiva. “A gente ficou sabendo na preleção, sei lá, duas ou três horas antes do jogo. Na minha opinião, achei muito em cima da hora. Você improvisar três ou quatro jogadores numa linha que já vinha formada há dois anos. Nada contra, óbvio que queremos ganhar, jogadores que entraram jogaram bem, mas é muita coisa para um segundo jogo de semifinal”, complementou.
Resposta de Ceni
Ceni respondeu Thiago Neves na entrevista após a goleada sofrida pelo Grêmio, por 4 a 1, no Independência, no dia 8 de setembro. Na opinião do treinador, o meia usou aquelas palavras pelo fato de Edilson, um de seus grandes amigos no elenco, ter ficado no banco de reservas.
“Não estamos aqui para crucificar o Thiago, algo assim. Muito pelo contrário, é um jogador que tem uma história no clube. Dentro de suas melhores condições e com a cabeça boa, é um jogador importante para a gente. Acredito muito que a declaração do Thiago foi porque viu um amigo no banco de reservas, que, no caso, foi o Edilson. Houve a improvisação do Jadson na lateral direita. De resto, se você pegar o time que jogou contra o Internacional, é o mesmo que jogou contra Vasco e CSA, todos conhecedores de sua posição”.
Na sequência da entrevista, Rogério foi categórico ao dizer que os jogadores já tinham conhecimento da opção por Jadson, diferentemente do alegado por Thiago Neves. O comandante cruzeirense esclareceu também a tomada de decisões por questões profissionais, e não baseado em amizades. Segundo ele, se não for desse jeito, precisa “passar a vez” a outro profissional.
“A escalação nunca é divulgada só três horas antes do jogo. Quero deixar isso bem claro. Mas tenho o maior respeito. E mais do que amigo ou emocional, sou profissional. Entendo o nervosismo na saída do jogo, é um momento difícil, você quer tentar uma explicação. Mas não temos um ou outro jogador culpado. Só tenho que, de alguma maneira como treinador, se for para ficar no Cruzeiro, preciso fazer alguma coisa diferente. Se não, preciso passar a vez a outra pessoa que tenha uma mentalidade diferente para continuar no Cruzeiro”.
Dedé cobrou confiança em veteranos
Em entrevista no dia 23 de setembro, Dedé destacou a história dos jogadores do elenco. Disse que muitos, como ele, Fábio, Rafael, Henrique, Leo e Egídio, foram bicampeões pelo clube em 2013 e 2014. Justamente por isso, o zagueiro afirmou que o clube precisava reerguer os veteranos mentalmente. Ele chegou a citar Edilson, um dos atletas preteridos por Rogério Ceni, como um dos melhores da posição no Brasil.
“Não posso perder um Thiago Neves, que deu um título para o Cruzeiro, um título não, que foi importante nos dois títulos da Copa do Brasil, fora os dois Mineiros. Não posso perder o Edilson, que, pra mim, é um dos melhores da posição. Não vive boa fase hoje, como ninguém no Cruzeiro vive boa fase. Mas, do grupo do Cruzeiro, da instituição, foi o cara mais próximo de ter ganhado a Libertadores, também foi campeão da Copa do Brasil e do Mineiro com a gente. (…) Não posso deixar de citar esses jogadores que são muito importantes, como Sassá”, frisou Dedé.