O texto da peça é de autoria do próprio ator. A história conta a saga de sua família: imigrantes pobres italianos que vieram ao Brasil em busca de novas oportunidades. Betti conta como foi ser o 15º filho de uma doméstica analfabeta e um assistente de pedreiro, bem como sua infância e adolescência, em um bairro onde a maioria da população era negra, e de seus brinquedos rústicos e criativos.
Ainda de acordo com o texto, a casa em que Betti foi criado tinha o piso de terra batida e quatro pontos de luz. A peça tem como pano de fundo a mudança do Brasil rural para a cidade industrial, a era do rádio, o cancioneiro popular e as antigas brincadeiras infantis, como pião e jogo da amarelinha.
Para criar este espetáculo, o artista reuniu um rico material: documentos, cartas, fotos do álbum da família e os diários de sua adolescência. Assim, ele chegou à conclusão de que, ao longo do tempo, havia se preparado para mostrar as condições que o levaram a sobreviver e a contar como isso aconteceu.
“Minha fixação pela memória da infância e adolescência, passadas num ambiente inóspito e ao mesmo tempo poético, talvez mereça ser compartilhada no intuito de provocar emoção, riso, entretenimento e entendimento”, acredita o ator.
O artista
Paulo Betti, atualmente no elenco da novela global Órfãos da Terra, nasceu em Rafard, interior de São Paulo, em 1952. Com 40 anos de profissão, atuou em inúmeros filmes (entre eles: Lamarca, Infância, Ed Mort, Doida Demais e A Mulher Invisível), novelas e seriados (Império, A Vida da Gente, Os Imigrantes, Os Maias, Tieta, Engraçadinha, Pedra Sobre Pedra e Comédias da Vida Privada), além de peças teatrais (Deus da Carnificina, O Doente Imaginário, O Processo, O Boca de Ouro, Viagem a Forli e Do Fundo do Lago Escuro).
Graduado pela Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (USP), em 1975, Betti foi professor da Escola de Arte Dramática da Universidade de Campinas (Unicamp), entre 1977 e 1984; presidente e um dos fundadores da Associação Cultural Casa da Gávea, no Rio de Janeiro, de 1993 a 2014; e presidente do Instituto Cultural Vila Leão, em São Paulo, durante três anos. Em 1993, ganhou uma bolsa de estudos, Distinguished Artist Fellowship Fulbright, durante um ano em Nova Iorque, nos Estados Unidos, e estudou cinema documental na New York University, com o professor George Stoney.
Ao longa de sua carreira, Paulo Betti recebeu diversos prêmios como ator e diretor. Entre eles: Kikito de Melhor Ator Coadjuvante, em Infância; Prêmio Especial no Festival de Gramado, junto com a atriz Eliane Giardini, em 2017, por A Fera na Selva; 17 prêmios e cinco Kikitos, por Cafundó. E ainda:
– Melhor Diretor São Paulo Governador do Estado, por duas vezes (Na Carreira do Divino e Feliz Ano Velho);
– Melhor Ator São Paulo Governador do Estado, em 1971 (O Pagador de Promessas);
– Melhor Diretor Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), por três vezes;
– Melhor Diretor Mambembe, São Paulo, por três vezes (Cerimônia para Um Negro Assassinado, Na Carreira do Divino e Feliz Ano Velho);
– Prêmio Apetesp Melhor Diretor e Melhor Iluminador (Feliz Ano Velho);
– Melhor Ator Shell, Rio de Janeiro, em 1993 (A Fera na Selva);
– Cinema Prêmio de Melhor Ator Cidade de São Paulo, em 1993 (Lamarca); e
– Prêmio Moliere de Melhor Diretor Teatral de São Paulo, por duas vezes, em 1979 e 1984 (Na Carreira do Divino e Feliz Ano Velho).