Imagine uma pessoa que, do sofá de casa, use a televisão para informar à máquina de lavar que determinada roupa deixada de molho por causa de uma mancha precisa de lavagem diferenciada. A máquina reage e ativa o programa adequado. Além disso, por ser apenas uma peça, a operação demanda menos água.
Essa história, porém, tem prazo para mudar: em pouco mais de um ano, as pessoas poderão começar a, finalmente, conviver com ambientes conectados e interativos, partindo do lar, passando por escolas e hospitais e chegando às indústrias e fazendas.
A responsável por operacionalizar tudo é a tecnologia 5G de telefonia móvel e transmissão de dados, rede testada por operadoras no Brasil e já em funcionamento em 23 cidades no exterior. Por aqui, a expectativa de início na maior parte do país é para o fim de 2020 ou início de 2021.
No entanto, as perspectivas para Belo Horizonte não são tão otimistas. Como o município ainda não se adequou à Lei Geral das Antenas, as operadoras não podem instalar na cidade os equipamentos necessários (entenda o caso na página ao lado).
As políticas e medidas para implantação da tecnologia estão disponíveis para consulta pública no site da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) até 18 de outubro. O documento traz as propostas de regulação de incentivo à “Internet das Coisas” (IdC, ou IoT na sigla em inglês).
É justamente o IoT que está no foco do 5G. Ele significará que não apenas as pessoas estarão conectadas como também os dispositivos estarão ligados entre si, com usuários e sistemas complexos de coleta, processamento de dados e aplicações de diversos tipos.
“Os benefícios são gigantescos. O 5G é muito mais estratégico do que simplesmente mais um G. Não é só o clipe da Beyoncé que ficará mais rápido. Não é isso”, explicou Leonardo Capdeville, Chief Technology Officer (CTIO) da TIM Brasil, durante ativação dessa tecnologia em rede real no Instituto Nacional das Telecomunicações (Inatel), no início de setembro, em Santa Rita do Sapucaí (Sul de Minas), numa parceria que inclui a Ericsson.
A TIM, operadora com 55 milhões de clientes da rede móvel no Brasil, sai na frente em estudos e implantação da frequência de quinta geração no país. A operadora montou três pontos de desenvolvimento e testes da rede no Brasil: Campina Grande (PB), Florianópolis (SC) e Santa Rita do Sapucaí, pólo tecnológico considerado o Vale do Silício brasileiro.
O 5G não pode operar, mas pode ser testado a partir de autorização específica para esse fim concedida pela Anatel. De acordo com a entidade, a licitação para concessão de faixas de 3,5 GHz e de 26 GHz está prevista para 2020. A previsão é de que o leilão ocorra em março do ano que vem.
Implantação demanda investimentos de R$ 40 bilhões
A operação do 5G demandará, na próxima década, investimentos no setor de telecomunicações brasileiro na ordem de R$ 40 bilhões, sendo 40% desse montante destinado a redes de banda larga móvel. A estimativa é da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
O dinheiro, de acordo com a agência, irá para investimentos em infraestrutura, tanto no núcleo da rede quanto no acesso. Por ser prestado por meio de faixas de frequência mais altas (acima de 3GHz), o 5G precisará de uma quantidade muito maior de antenas de telefonia móvel.
Além disso, serão necessários investimentos em massa em redes fixas de fibra óptica para escoamento do tráfego das redes 5G.
“O Brasil será um dos líderes da região na implementação do 5G. Além das faixas de frequências que já serão disponibilizadas no próximo leilão, a Anatel já trabalha para disponibilizar outras faixas, tanto acima quanto abaixo de 6 GHz”, afirmou a agência, por meio de nota.
Estudos feitos pela TIM vão no mesmo caminho e mostram que, entre 2018 e 2022, a demanda por internet vai crescer cinco vezes. Por essa razão, até que o 5G vire uma realidade, o 4G também precisará passar por um ciclo de investimentos nos próximos anos. “Vamos investir no 4G para que ele suporte todo esse crescimento de tráfego que teremos”, afirmou o executivo da TIM Leonardo Capdeville.
A rede de quinta geração é baseada em três pilares técnico-estruturais que revolucionam a forma de trocar dados. Em síntese, além de até 20 vezes mais rápida que o 4G, o 5G permite menos atraso de entrega (o “delay” é pequeno) e mais densidade, permitindo conexões simultâneas.
O primeiro pilar é a baixa latência, tempo entre a solicitação e o retorno de uma informação. No 5G, a latência é baixa (quase instantânea), característica importante, por exemplo, para a telemedicina e o funcionamento de um carro autônomo.
O segundo é a confiabilidade/densidade. O 5G permite grande número de conexões simultâneas com confiabilidade. Essa densidade de gerenciamento é essencial para a Internet das Coisas. Por último, há a velocidade, que é a taxa de dados em si. O tráfego de informações via 5G pode ser até 20 vezes maior do que no 4G.
ALÉM DISSO
Em Belo Horizonte, a tecnologia 5G está longe de poder operar, e nem mesmo o 4G funciona em sua totalidade, conforme mostrou o Hoje em Dia em edição de 18 de novembro de 2018. Isso porque a atual legislação, de acordo com as operadoras de telefonia, é muito restritiva quanto à instalação de novos equipamentos. Para solucionar o problema, o município precisa se adequar à Lei Federal 13.116, a Lei Geral das Antenas, mas ainda não há previsão para isso acontecer. O 5G precisa de muitas antenas, as chamadas de small cells, que cobrem entre 500 metros e 1 km. As utilizadas no 4G abrangem raios de 5 km a 10 km.