A cada 24 horas, pelo menos oito ocorrências de abuso sexual contra crianças e adolescentes de até 14 anos e pessoas mentalmente ou fisicamente incapazes de oferecer resistência a esse tipo de violência são registradas em Minas Gerais. De janeiro a agosto, 1.949 casos chegaram às autoridades.
Os números, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), também chamam a atenção porque representam, no mesmo período, mais do que o dobro do total de estupros de adultos registrados no território: 807. E as estatísticas ainda vão aumentar.
Na última sexta-feira, um homem de 36 anos foi preso suspeito de estuprar e engravidar a própria filha, de 13, em Patrocínio, no Alto Paranaíba. Em 16 de setembro, outra história chocante: uma menina de apenas 1 ano e seis meses foi estuprada e teve o hímen rompido. O crime teria ocorrido na capital, mas a família da criança mora em Lagoa Santa, na Grande BH, onde o caso foi registrado. O autor da violência não foi identificado.
Mesmo com as ocorrências em alta, as denúncias são subnotificadas. “É um crime de características específicas, em que o silêncio da vítima, seja por ameaça ou vergonha, impede a polícia de agir”, frisa a capitão Layla Brunela, chefe da Sala de Imprensa da PM.
Diálogo
Quebrar o tabu do debate sobre a sexualidade é justamente o caminho indicado pela psicóloga Enylda Mattos, especialista em psicoterapia da família, para que os crimes sejam denunciados pelas próprias crianças. “É preciso conversar, mas não de forma pejorativa ou que cause medo, à medida que elas fizerem perguntas relacionadas a esse assunto”, diz.
Psicóloga e psicopedagoga, Sylvia Flores afirma que, a partir dos 2 anos, já é possível orientar, por exemplo, sobre a inadequação de ter os órgãos genitais tocados por outras pessoas.
A especialista destaca que crianças pequenas devem ser instruídas a não sentarem no colo de adultos.
A psicóloga lembrou que os estupros de vulneráveis, muitas vezes, são cometidos por pessoas próximas. “Os suspeitos geralmente têm uma máscara de bondade e são respeitados pela sociedade. Em geral, são homens, que podem trabalhar com religião, educação e esportes, por exemplo.
Por isso, não se pode confiar cegamente nem nos conhecidos”, aconselha.
O especialista em segurança pública e ex-delegado Islande Batista endossa o alerta e ressalta que casos de abuso sexual em escolas são comuns. “É um ambiente onde muitas vezes o autor consegue a confiança da vítima, pela relação estabelecida entre o funcionário e o aluno”.
Mais casos
Os relatos de abuso sexual contra pessoas extremamente indefesas não param de chegar às autoridades. No último dia 29, um rapaz de 25 anos foi preso em flagrante suspeito de estuprar a prima, de mesma idade e com doença mental, em Caeté, na Grande BH. O homem sofreu tentativa de linchamento por parte dos vizinhos.
De acordo com a PM, a mulher relatou à mãe que estava dormindo durante a tarde quando foi acordada pelo parente e forçada a manter relação sexual. Ela reclamou de dores e, na cama, havia marcas de sangue.
Outro caso que chamou a atenção foi em Baldim, na região Central de Minas, em 26 de setembro. Um homem, de 39 anos, foi detido por abusar sexualmente de três sobrinhos, com idades de 10 a 14 anos.
O caso veio à tona após a vítima mais velha tentar o suicídio. Aos policiais, ela contou que os estupros começaram quando ela tinha 5 anos.