Por G1
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, anunciou nesta quarta-feira (09/10) que suas tropas deram início a uma ofensiva militar no nordeste da Síria.
Ele afirmou que os alvos da operação Fonte de Paz são a milícia curda Unidades de Proteção do Povo (YPG), acusada de ter vínculo com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), e o Estado Islâmico. Forças lideradas pela YPG foram aliadas dos Estados Unidos no combate ao grupo terrorista durante a guerra na Síria.
De acordo com as Forças Democráticas Sírias (FDS), constituídas por uma aliança de combatentes curdos e árabes, aviões bombardearam áreas com civis e provocaram “enorme pânico entre as pessoas”. As FDS, que estão no controle da região, informaram que dois civis morreram.
A mídia estatal síria e uma autoridade curda disseram que o ataque atingiu a cidade de Ras al-Ain, perto da fronteira com a Turquia.
O objetivo da ação, segundo Erdogan, é estabelecer uma “zona de segurança” no nordeste da Síria. Turquia pretende criar uma “zona livre” na fronteira com a Síria, onde se concentram as forças curdas. O governo de Erdogan alega que a milícia curda YPG, presente nessa região, atua de forma terrorista e está por trás de ataques em território turco ligados ao PKK.
O diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman, informou que milhares de pessoas deixaram a região das aldeias de Ras al-Ain e Tal Abyad. Eles se deslocaram para áreas adjacentes poupadas pelos ataques.
Temor da volta do Estado Islâmico
A retirada das tropas americanas de posições importantes, como Ras al Ain e Tal Abyad, e o compromisso de não se envolver no confronto evidenciam uma mudança de estratégia por parte dos Estados Unidos, que abandona os curdos -os principais aliados de Washington na luta contra o grupo extremista.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sinaliza com isso um desejo de se reaproximar da Turquia, país integrante da Otan e que tem o segundo maior exército da aliança. Trump também cumpre, assim, promessa de campanha de que retiraria o seu país de conflitos antigos.
As FDS, também integradas pelos curdos, lutaram durante anos contra o Estado Islâmico e conquistaram em março seu último reduto na Síria, em Baguz.
Ancara rejeita esta hipótese, mas a ofensiva pode criar condições para o ressurgimento do grupo jihadista na região. Com os curdos enfraquecidos, sem apoio, e sob ataque turco, os terroristas remanescentes poderiam se aproveitar da situação e voltar a conquistar território.
Já a Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou anteriormente que se prepara para o pior no norte da Síria.
A guerra da Síria, que começou com a repressão aos protestos pró-democracia em 2011, já deixou mais de 370 mil mortos e milhões de refugiados.
Reações
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, pediu à Turquia, membro da Aliança, moderação em sua operação e que não comprometa a luta contra os terroristas do Estado Islâmico. Ele disse que discutirá a ofensiva na sexta-feira com o presidente turco em Istambul.
“Conto com a Turquia para agir com moderação e garantir que o progresso que fizemos na luta contra o Estado Islâmico não seja comprometido”, tuitou Stoltenberg.
A França disse que irá solicitar um encontro do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para discutir a ação militar.
Curdos
Os curdos são um povo sem pátria e com um histórico de repressão e perseguições. Estima-se que cerca de 30 milhões vivam no território entre Turquia, Síria, Iraque, Irã e em uma pequena parte da Armênia. Mesmo tão populosa, a área conhecida historicamente como Curdistão não possui uma unidade territorial ou um governo único autônomo.
Os governos do Oriente Médio opõem-se à criação de um território autônomo para os curdos, pois temem que isso influencie movimentos separatistas em outros países.