“Pensamento crítico foi algo que aprendi com João Batista Libânio, com Henrique de Lima Vaz, Ignacio Perez e muitos outros jesuítas ex-professores no @colegioloyolabh”, disse Chico.
O cancelamento da prova se deu a pedido de um grupo de pais, indignados com o fato de o exame trazer questões baseadas em textos do escritor Gregório Duvivier e do cientista político Mathias Alencastro.
Divulgada na manhã desta quinta-feira (10), a nota de repúdio reúne 410 assinaturas e contesta as alegações dos pais – acatadas pela escola jesuíta -, de que conteúdo da avaliação é “partidário” e inadequado para adolescentes.
“Algumas famílias da comunidade Loyola parecem ver na pluralidade uma ameaça à qualidade de ensino, tão prezada pela instituição, e aos valores pessoais dos alunos, aparentemente frágeis e manipuláveis. Esse tipo de pensamento, retrógrado e conservador, foi uma alavanca para o episódio que ocorreu no começo da semana”, diz o documento.
Repúdio
Na visão dos estudantes que assinam a carta, a adoção do texto de Gregório Duvivier – que é crítico ao governo Bolsonaro -, não visou à doutrinação ou à propaganda política . “O texto apresentado ia de acordo às diretrizes da disciplina de Língua Portuguesa, que, ao longo de todo o ano letivo, trabalhou, em sala de aula, os diferentes gêneros textuais, como artigos de opinião, crônicas e resenhas. No terceiro trimestre, inclusive, as aulas foram destinadas aos textos humorísticos e aos recursos utilizados pelos autores para o desenvolvimento do humor. Ademais, é importante destacar que, das quatro questões referentes ao texto, uma é relacionada à colocação pronominal, e as outras três à estrutura característica dos textos de humor.”, afirma a carta.
O documento faz ainda uma defesa da liberdade de expressão, além de denunciar o que classifica como ataques direcionados ao corpo docente. “Urge destacar que a diversidade de ideias é característica fundamental do Estado Democrático de Direito, e, portanto, deve ser defendida. Dessa forma, repudiamos os ataques direcionados ao corpo docente do Colégio, assim como a propagação de informações equivocadas a respeito do ocorrido. Contestamos, também, o posicionamento adotado pelo Colégio ao anular a avaliação e, assim, ameaçar a autonomia dos professores em sala de aula”, diz o texto.
Na percepção de Maria Fernanda Paixão Lages, aluna do 2º ano do Ensino Médio, o clima entre os professores após o polêmico episódio é de certo receio. “A professora de Português responsável pela prova apenas nos comunicou sobre a anulação do exame, sem comentar muito a respeito. Os outros professores só falam sobre o assunto quando nós questionamos. Nós fizemos isso e eles se posicionaram todos a favor da professora, assim como nós”, diz a adolescente.
“Decisão técnica”
Após o anúncio do cancelamento da prova, a direção do colégio Loyla afirmou que a realização do novo exame será facultativa. “Quem não quiser fazer a nova avaliação terá a nota obtida na prova anterior mantida”, informa o diretor acadêmico Carlos Alberto de Freitas.
De acordo com Freitas, a decisão de anular a avaliação não configura endosso às críticas feitas pelos pais dos estudantes ao texto de Duvivier – a mãe de um aluno (que pediu anonimato para preservar o filho) escreveu uma carta endereçada à direção classificando a obra de panfletária, além de “mal escrita”, “rasa”, salpicado por termos chulos e com abordagem inadequada sobre suicídio.
“Não atendemos a interesses a esquerda ou à direita de personagens sociais. Nosso compromisso é com a formação dos estudantes. A anulação da prova, portanto, atende a um critério técnico, que consta em uma de nossas principais diretrizes, que é a ‘Abordagem de Temas Transversais para formação integral inaciana na escola básica’. Esse documento orienta sobre a inclusão de questões sociais no currículo escolar e preconiza que isso seja feito com o devido cuidado. Em tempos de polarização política, entendemos que esse cuidado deve ser intensificado. Anulamos a prova justamente porque, após a polêmica com os pais, avaliamos que nos faltou um pouco mais prudência no trato com essas questões. Por isso, vamos oferecer uma nova versão do exame de Português, que incluirá também textos com visões divergentes do Gregório Duvivier e do Mathias Alencastro”, explica Freitas.
Questionado sobre o clima de receio de retaliação e perseguição denunciado por estudantes e outros membros da comunidade escolar, o diretor nega que o espisódio vá gerar qualquer tipo de punição e exalta a iniciativa dos autores da nota de repúdio. “Nós não esperávamos outra outra coisa dos nossos alunos. Se eles não se posicionassem, não seriam alunos do colégio Loyola, pois a formação de seres humanos críticos é uma de nossas premissas”.
Gregório Duvivier também se manifestou sobre o episódio por meio de sua conta no Twitter. “Sinto muito pelos professores e alunos da escola. Dia 1º, estou indo a BH, se quiserem encontrar pra debater a crônica e a censura”, convidou o roteirista. Ele também elogiou ainiciativa dos jovens do Loyola de se posicionar sobre o caso.