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Falha no controle dos vetores, baixa cobertura vacinal, desinteresse da população e dificuldade de registrar as notificações. Esses são alguns dos fatores que contribuíram para Minas Gerais ter nove epidemias de três doenças desde 2009 (veja quadro). O avanço das enfermidades, algumas conhecidas, como a dengue, e outras que estavam há um tempo sumidas, como febre amarela, deixou milhares de pessoas doentes, chegando até a provocar caos na saúde pública, com unidades lotadas e necessidade de acionamento de planos de contingência desde 2009. Quase 1,5 mil moradores perderam a vida. Vivemos, ainda, a explosão de casos de enfermidades silenciosas, como a sífilis.
Em 2019, não está sendo diferente. O estado passa por um aumento de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, e ainda tem um surto ativo de sarampo. O risco de novas moléstias atingirem o território mineiro e provocar mortes permanece. Especialistas apontam que tanto moradores quanto o poder público devem fazer sua parte. No caso da população, é necessário que cada pessoa tome medidas de prevenção e adote a cultura de vacinação. Ao governo cabe fazer campanhas e investir na área.
O principal desafio desde 2009 tem sido a dengue. Houve epidemia no estado em cinco anos de lá para cá. Em 2010, foram 212.539 casos prováveis – que englobam os confirmados e os suspeitos – e 96 mortes. Em 2013, a situação foi pior, com 414.748 notificações e 107 óbitos. O ano de 2015 ficou com 194.112 registros, que resultaram em 78 mortes. A pior fase da enfermidade ocorreu em 2016, quando foram registrados 517.830 casos prováveis e 208 mortes. Neste ano, a situação também é crítica. Até 7 de outubro, as notificações chegavam a 481.294, com 144 óbitos. Ainda estão sendo investigadas as mortes de 110 pessoas.
Outros vírus transmitidos pelo Aedes aegypti também provocaram problemas de saúde e mortes no estado. Entre 2014 e 2019, foram registrados 31.333 casos prováveis de chikungunya. De 2017 para cá, são 18 óbitos em decorrência da doença. A zika deixou a população amedrontada, principalmente as gestantes, devido ao risco de microcefalia no bebê. De 2016 até 2019, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) registrou 15.171 casos prováveis.
A transmissão do vírus Influenza – da gripe –, que pode causar a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), muitas vezes fatal, é outro grande desafio para as autoridades de saúde. Em 2009, foram registrados no território mineiro 1.270 casos de SRAG ocasionada por Influenza e 214 mortes. Muitos dos doentes foram infectados pelo subtipo do vírus H1N1, que provocou uma pandemia naquele ano. Em 2016, foram 1.059 registros, mas com o aumento no número de óbitos, sendo 291 no total. O último boletim epidemiológico de gripe divulgado pela SES foi em 5 de agosto. Até aquela data, tinham sido notificados 2.712 casos SRAG. Desse total, foram confirmados 251 casos por Influenza e 306 provocados por outros vírus respiratórios. Entre os casos de Influenza, a síndrome provocada pelo H1N1 foi predominante, com um total de 201 registros desde janeiro. O H3N2 vem na sequência, com 18 casos, seguido do tipo A não subtipável, com 15 registros. O boletim registra 53 mortes em decorrência do Influenza.
As duas epidemias de febre amarela que atingiram Minas Gerais provocaram centenas de mortes e infectaram milhares de pessoas. Somente no território mineiro, 340 moradores perderam a vida em decorrência da enfermidade.
Na temporada 2017/2018, foram 178 óbitos. Ela foi considerada a pior epidemia da doença já registrada no país desde 1980, segundo o Ministério da Saúde. Um dos principais motivos para a infecção é a baixa cobertura vacinal. Em 2019, não houve registro de casos da doença em Minas.
Em contrapartida, uma doença que já tinha sido erradicada no Brasil voltou a se manifestar. Altamente contagioso, o sarampo já infectou 51 pessoas em Minas Gerais neste ano. Ainda estão sendo investigadas 368 notificações de suspeitas da enfermidade. Belo Horizonte é a cidade com o maior número de casos confirmados, segundo a SES. Ao todo, foram 16 pessoas com diagnósticos positivos até ontem. Como ocorreu com a febre amarela, a baixa cobertura vacinal é apontada como um dos fatores para o avanço do vírus.
União de forças para prevenir
Os sintomas e as formas de prevenção de todas essas doenças são conhecidos. Mesmo assim, as ações de combate se mostraram ineficientes. Especialistas apontam diversos fatores que podem ter contribuído para o avanço das moléstias até virarem epidemia. Entre eles estão falhas no registro das enfermidades, que, tanto no caso da febre amarela quanto da dengue, da SRAG e do sarampo, que assombra o estado no momento, é compulsório, ou seja, de notificação imediata. Além disso, falta mobilização da população, a adesão à vacinação é baixa, e as ações do poder público são insuficientes. A solução para evitar passar por mais um período de preocupação e evitar perdas de vidas é só uma: a união entre os moradores e o governo.
“As epidemias ocorrem por uma série de coisas. Por exemplo, no caso da dengue, não se consegue controlar adequadamente o vetor, há a multiplicação do Aedes.Temos que ter políticas públicas mais fortes nesse aspecto. Mas também falta, não podemos negar, uma maior participação social, seja por insuficiência de trabalhos de conscientização por parte dos órgãos públicos, seja em função dos maus hábitos dos brasileiros”, afirmou Estêvão Urbano Silva, infectologista e presidente da Sociedade Mineira de Infectologia.
A união entre o poder público e a população também é ressaltada pela superintendente de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Jordana Costa Lima. “Na verdade, a saúde em si não depende só da esfera pública. São vários fatores que interferem. Quando se fala da saúde da população, o que está em jogo são as pessoas, o autocuidado, a questão de prevenção e educação de saúde, toda uma cultura para combater as doenças”, afirmou.
Das doenças que provocaram epidemias em Minas Gerais nos últimos 10 anos, todas têm vacina. Os imunizantes da febre amarela e da Influenza são distribuídos gratuitamente nas unidades básicas de saúde. Já no caso da dengue, as doses podem ser acessadas em laboratórios particulares. Em relação à febre amarela, a Influenza e o sarampo, um dos fatores que contribuíram para o rápido avanço dos vírus foi a baixa cobertura vacinal. Para Estêvão Urbano, a falta de interesse da população ajuda no retorno das moléstias. “Não há a mobilização de vacinação. Isso provoca o retorno daquelas doenças que estavam controladas”, ressaltou.
A baixa cobertura vacinal é uma das preocupações do poder público. Tanto que algumas medidas estão sendo tomadas para tentar mobilizar a população. “O Ministério da Saúde está incentivando aumentar a carga horária dos postos, das unidades básicas de saúde, para que as pessoas possam procurar a vacinação. Temos que inovar e adequar a saúde a uma cultura diferente. Um ajuste é necessário neste momento para a população aderir às novas metodologias”, comentou Jordana Lima.