Nem os riscos de tragédias, multas de R$ 293 e a perda de até sete pontos na carteira são suficientes para frear o uso do celular ao volante em Minas. As infrações neste ano, até setembro, subiram mais de 10% se comparado ao mesmo período de 2018. A cada 24 horas, 408 ocorrências foram registradas, totalizando 124.069 em 2019, conforme estatísticas do Departamento de Trânsito (Detran).
Os números somam flagrantes em vias urbanas e rodovias, onde a ameaça é ainda mais fatal. Nas estradas, os perigos são potencializados por conta das altas velocidades, já que os condutores podem trafegar de 80 quilômetros por hora (km/h) a 110 km/h.
Diretor de Comunicação da Associação Mineira de Medicina de Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra Carvalho explica que numa colisão entre um carro a 60 km/h e um objeto fixo é como se a vítima caísse de um prédio de quatro andares, de cerca de 14 metros. “Se a velocidade for de 80 km/h (comum em rodovias), é como se a pessoa estivesse em queda livre de uma altura de 25 metros”.
O especialista frisa que o corpo humano tem pouca resistência a impactos. “Assim, a chance de um pedestre sobreviver ao ser atingido por um automóvel trafegando a 60 km/h é de 30%. Por aí já é possível imaginar um caso com a velocidade bem maior”, observa.
Tecnologia contra
A popularidade dos aplicativos de transporte de passageiros e entrega de comida pode ter contribuído para o crescimento do uso do celular ao volante, avalia o professor Márcio Aguiar, da Fumec. Somadas, as infrações por segurar e manusear o aparelho chegam a 93,7 mil. Outras 29,4 mil são de condutores falando ao telefone.
Nem mesmo o viva-voz é seguro, alerta o especialista em transporte e trânsito. “Ao ouvir música no carro, não há interação. Mas no viva-voz há uma comunicação com uma outra pessoa, e o motorista tem a atenção desviada”.
Redes sociais
Chefe do setor de Comunicação Organizacional da Polícia Militar Rodoviária (PMRv), responsável pelas estradas estaduais mineiras, o tenente André Muniz afirma que o uso do celular está no topo das infrações cometidas pelos condutores.
Até mesmo a internet contribui para o desrespeito ao Código de Trânsito Brasileiro (CTB). “Há quem, na condução do automóvel, tire o telefone para fazer imagens de acidentes e postar nas redes sociais. Mas esses também estão sendo multados pelos nossos agentes”, garante o policial.
Além disso
A conscientização é o grande desafio para reduzir o uso do celular ao volante. Campanhas são feitas todos os anos. Mesmo assim, a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) aponta que no país, por dia, 150 motoristas sofrem acidentes por causa da infração. Lançado no início deste mês, o aplicativo Modo Trânsito Dpvat quer incentivar comportamentos mais seguros no tráfego. A ferramenta responde mensagens e ligações recebidas enquanto a pessoa está na condução do veículo.
Até agora, quase 30 mil downloads foram feitos e 395 mil alertas de retorno disparados, informou Juliana Rocha, gerente de Marketing da Seguradora Líder, responsável pela plataforma. “Acreditamos que contribui para conscientizar a população sobre os riscos, já que auxilia motoristas a manter o foco somente na direção”.
O app, no entanto, não resolve o problema sozinho, destaca o especialista Márcio Aguiar. “É mais um fator que ajuda, mas é urgente a reeducação do condutor, a decisão é ele que tem que tomar. Entrou no carro? Desligue o aparelho. Tem ligação urgente? Pare o veículo, atenda e, ao terminar a ligação, volte a dirigir”.