Belo Horizonte foi reconhecida internacionalmente pelo seu alto poder: o sabor de sua comida. A Unesco divulgou nesta quarta-feira a lista com 66 cidades que integram a Rede de Cidades Criativas, e a capital mineira passa a fazer parte na área da gastronomia.
BH concorria com Aracaju (SE), na área de música; Cataguases (MG), em cinema; e Fortaleza (CE), em design. Apenas 21 cidades no mundo haviam sido reconhecidas por sua culinária pela Unesco, como Parma, na Itália, e San Antonio, nos Estados Unidos. No Brasil, agora são quatro: Belém, Florianópolis, Paraty e Belo Horizonte.
“Em todo o mundo, essas cidades, cada uma a seu modo, fazem da cultura o pilar, e não um acessório, de sua estratégia”, diz a diretora geral da Unesco, Audrey Azoulay. “Isso favorece a inovação política e social e é particularmente importante para as gerações jovens”.
A outra cidade brasileira que foi nomeada nesta quarta-feira, é Fortaleza (CE), no quesito design. Com o anúncio, as 66 cidades declaradas como criativas assumem o compromisso de defender ações de desenvolvimento sustentável que beneficiam diretamente as comunidades no nível urbano.
Em conversa, o dono do tradicional Bar do Júlio no Mercado Central, Júlio Palhares, afirmou, ao tomar conhecimento da premiação, que BH é a escolha certa para receber o título de Cidade Criativa da Gastronomia. “Minas Gerais é tradicionalmente é um lugar de culinária boa. EM qualquer lugar que você vai, a culinária vai ser uma das melhores, então, dá para diversificar vários pratos. Você vê, aqui no Mercado, você compra um fígado com jiló e o povo acha isso incrível, em outros lugares eles não têm”, disse. “Cada local tem sua prioridade. Quando é para falar de comida, a gente pensa logo em Minas. Em Belo Horizonte”, finalizou.
Ao ser questionado sobre a popularidade da comida mineira entre os turistas, Júlio disse que todos os dias seu bar recebe várias pessoas. “Todo dia tem turista. Hoje recebi gente do Sul, do Nordeste. Vem de todos os lugares, até mesmo do exterior”, declarou. “Não fica um dia sem turista aqui. O Mercado é o melhor ponto de Belo Horizonte. Hoje, BH não vive sem o Mercado Central.”
De acordo com o comerciante, o segredo da inovação dos pratos da culinária tradicional está exatamente na renovação do cardápio. “Tem que dar uma ‘inovada, tem pernil, uma linguiça mineira temperada. A nossa culinária não tem igual, não tem jeito”, disse. “Apesar disso, o mais pedido sempre vai ser o figado acebolado e com jiló… é tradição.”
A vendedora de queijos, Marlene Leão, também disse que a culinária mineira é a que mais desperta interesse entre os turistas. “A gente recebe todos os tipos de turistas aqui, do mundo inteiro, quando se fala dos queijos eles ficam loucos”, disse. “Vêm turistas de todos os cantos, até de fora do Brasil… e a gente dá um jeitinho brasileiro para poder vender”, finalizou.
Qual a receita?
No último dia do prazo para que cada cidade postulante ao título de Cidade Criativa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Belo Horizonte enviou a defesa de candidatura à Paris.
Para conquistar o título, a capital mineira apostou na mescla dos mais de 70 festivais que são realizados na cidade anualmente, na “cultura de boteco” e na importância da cadeia produtiva que gera mais de 54 mil postos de trabalho, movimentando algo em torno de R$ 4,5 bilhões por ano.
Outro trunfo é o fato de sintetizar os territórios gastronômicos de Minas. O documento que reúne esses ingredientes foi construído tendo como base a história da cidade e da gastronomia, as políticas públicas do setor, a cadeia produtiva e a governança. A etapa final da disputa envolveu a análise dos dossiês, com as principais características de cada postulante, que foram analisados na capital francesa, sede da Unesco.
Expectativa
O chef Leo Paixão, um dos embaixadores da candidatura belo-horizontina, já colecionava expectativas antes mesmo do anúncio. Em entrevista à Revista Encontro, ele contou a importância da designação. “Além do título e do reconhecimento, faríamos parte de um hall seleto de cidades que colaboram entre si, trocando informações e estratégias”.
Brasil na rede
A Rede de Cidades Criativas reúne mais de 180 municípios em todos os continentes com o objetivo de promover a cooperação entre cidades que têm na criatividade um fator estratégico para o desenvolvimento urbano sustentável. Atualmente, os municípios integrantes da rede estão distribuídos em sete diferentes setores criativos: gastronomia, cinema, música, design, artesanato e artes folclóricas, arte mídia e literatura. Antes, eram oito cidades brasileiras integrantes da Rede, agora são 10:
- Belém (PA) – gastronomia
- Belo Horizonte (MG) – gastronomia
- Brasília (DF) – design
- Curitiba (PR) – design
- Florianópolis (SC) – gastronomia
- Fortaleza (CE) – design
- João Pessoa (PB) – artesanato e artes folclóricas
- Paraty (RJ) – artesanato e artes folclóricas
- Salvador (BA) – música
- Santos (SP) – cinema