EM
O atraso na chegada de chuvas mais expressivas na temporada 2019 espalha o drama da escassez hídrica e da limitação de consumo por Minas Gerais, provocando problemas especialmente pelo interior, mas deixando em alerta também a capital e seus vizinhos da região metropolitana.
Com precipitações insuficientes para recuperar reservatórios, apenas neste semestre a Copasa já comunicou a adoção de rodízio de fornecimento ou outras medidas de racionamento nada menos do que 288 vezes, atingindo bairros, distritos ou municípios inteiros. O maior deles é Montes Claros, com 404,8 mil habitantes, que começam a receber água em dias alternados a partir de domingo (17/11).
Contando a cidade-polo do Norte mineiro, onde a situação é mais grave, são 35 comunidades atualmente enfrentando o consumo racionado no estado – isso considerando apenas aquelas atendidas pela concessionária estadual de água e esgoto.
O Norte de Minas enfrenta um dos quadros mais críticos, e lá se destaca negativamente Francisco Sá, onde parte dos moradores da área urbana está sendo atendida por caminhões-pipa. Devido à estiagem prolongada, a população de 26,27 mil habitantes já vinha recebendo água nas torneiras em dias alternados. Agora o quadro se agravou, pois a Barragem do Rio São Domingos, construída na década de 1980 para abastecer a cidade, está quase vazia – acumula apenas 3% de sua capacidade.
Belo Horizonte e as vizinhas da Grande BH estão longe de enfrentar situação tão crítica, mas o alerta já soou no complexo de reservatórios do Sistema Paraopeba. As represas de Rio Manso, Serra Azul e Vargem das Flores, que respondem pelo abastecimento de 28% da capital e 47,2% da região metropolitana, caíram a 44,1% de sua capacidade total.
O nível do complexo é o menor desde dezembro de 2017, quando a Copasa ainda podia contar com a adutora instalada em 2015 no Rio Paraopeba. Porém, a captação foi suspensa em janeiro deste ano, depois do desastre com a barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, que contaminou o curso d’água. Com isso, a Grande BH passou a contar com as três represas e com a água captada diretamente no Rio das Velhas, que não conta com reservatórios e abastece 64,2% da população de Belo Horizonte e 43,4% da Grande BH.
Além da perda da captação, a quantidade de chuva em ambos os sistemas, que são interligados, tem sido baixo, prejudicando a recuperação do volume armazenado (veja arte). O volume de precipitação, como a que voltou à região metropolitana ontem, não foi capaz de aliviar a situação. A Copasa, porém, evita falar em risco de racionamento na região, diferentemente do que faz em cidades como Montes Claros e outras do Norte Mineiro.
Economizar e rezar
Na Região Norte, a restrição no uso da água por causa da estiagem prolongada é realidade também em cidades como Taiobeiras, Curral de Dentro, Lontra e Capitão Enéas, entre as abastecidas pela Copasa. Entre as muitas que contam com serviços próprios de saneamento, Francisco Sá enfrenta quadro crítico. O diretor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), Roberto Miranda, anunciou que, a partir de segunda-feira vai interromper a captação na Barragem de São Domingos, porque, além de o nível do reservatório estar muito baixo, a água está muito barrenta, dificultando e encarecendo o tratamento.
Com interrupção da operação na barragem, a população passa a ser suprida somente por água retirada de oito poços tubulares do município. O problema é que, mesmo com o racionamento, a captação subterrâneas não dá conta da demanda. A água já não chega as torneiras das casas situadas nas partes mais altas da cidade, onde os moradores são abastecidos com três caminhões-pipa da prefeitura. Alguns reclamam que estão sendo obrigados a comprar água.
Roberto Miranda afirma que, mesmo com a suspensão da captação na Barragem de São Domingos, o Saae vai garantir o fornecimento para todos os moradores, mantendo a situação “sob controle”. Para isso, orienta a população a economizar e a fazer uso racional do recurso hídrico, evitando lavar carros, por exemplo. Mas solução, mesmo, só virá do céu, ele admite. “Temos que rezar para chover”, afirma o diretor do Saae de Francisco Sá.
Água na torneira dia sim, dia não
Montes Claros, maior cidade do Norte de Minas, começa neste fim de semana a enfrentar rodízio no abastecimento. A água será fornecida com intervalos de 24 horas, ou seja: os moradores serão abastecidos em dias alternados. Para isso, a cidade será dividida pela Copasa em cinco regiões. O principal motivo para adoção do racionamento é a redução do nível da Barragem do Rio Juramento (Sistema Rio Verde Grande), responsável por 60% do abastecimento da cidade que, devido à estiagem prolongada, está com apenas 13,3% de sua capacidade.
O superintendente de Operação Norte da Copasa, Roberto Botelho, disse que Montes Claros recebe uma oferta de 950 litros de água por segundo. Com o rodízio, o fornecimento será reduzido para 650 litros por segundo. Ele acrescenta que não há data estipulada para o término da restrição. A previsão é de que o racionamento continue até que o volume do reservatório Rio Juramento ultrapasse 50% da capacidade.
O superintendente informou que a meteorologia indica que chuvas intensas na região só deverão ocorrer em dezembro e janeiro, mas ainda não é possível estimar a qual índice pluviométrico será suficiente para recuperação do volume do reservatório de Juramento. Enquanto isso, a Copasa orienta os moradores a economizar. “A população precisa se conscientizar da necessidade do uso racional da água”, afirmou Botelho.