Auto Esporte
Os conselhos da montadora francesa PSA, dona da Peugeot, e da Fiat Chrysler (FCA) aprovaram nesta quarta-feira (18/12) um acordo para uma fusão, concretizando a negociação que foi anunciada em outubro passado.
Juntas, as empresas formarão a quarta maior montadora do mundo, cujo nome ainda não foi divulgado. Ela terá marcas como Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën.
A fusão deverá ser completada em aproximadamente 1 ano e meio, a partir deste anúncio, e as propostas estão sujeitas às aprovações de acionistas. Cada uma das duas companhias terá metade das ações deste novo grupo.
As fabricantes não divulgaram de imediato se haverá algum impacto nas operações brasileiras. O G1 procurou a PSA e FCA para que comentassem, mas não teve retorno até a última atualização da reportagem.
A Fiat Chrysler tem duas fábricas no país, uma em Betim (MG) – a maior do Brasil – e outra em Goiana (PE). A PSA produz carros em Porto Real (RJ).
Detalhes sobre a fusão:
- Fusão criará a 4ª maior fabricante de veículos do mundo, com 8,7 milhões de unidades vendidas;
- A FCA teria acesso às plataformas de veículos mais modernas da PSA, ajudando-a a cumprir regras rígidas de novas emissões;
- Todos os segmentos serão considerados, de carros de luxo, a SUVs, picapes e comerciais leves;
- Foco será em duas plataformas: uma pequena e uma compacta/média;
- Total de 3,7 bilhões de euros em economias anuais;
- Custo total para alcançar essas economias é estimado em 2,8 bilhões de euros;
- Fusão terá proporção 50/50;
- Empresa controladora do grupo será sediada na Holanda;
- Não são considerados fechamentos de fábricas;
- O atual executivo-chefe da Peugeot, Carlos Tavares, será o CEO e membro do conselho em um mandato inicial de 5 anos;
- O atual presidente da FCA, John Elkann, será o presidente do novo grupo;
- Nome do grupo ainda não foi definido.
O executivo-chefe da Peugeot comemorou a união e afirmou que a empresa criada na fusão será ainda mais competitiva.
“É importante enfatizar que esta é uma fusão entre duas empresas saudáveis, lucrativas, que estão fazendo grandes coisas em seus mercados”, disse Carlos Tavares.
“É melhor estarmos juntos do que como duas empresas sozinhas, para enfrentar os desafios que temos à frente”, completou. Tavares afirmou que FCA e PSA são “complementares”.
Com isso, as fabricantes se beneficiarão pela força de cada uma em diferentes mercados. Enquanto a FCA utilizará da força da PSA na Europa, a PSA buscará oportunidades pela sólida posição da FCA nos Estados Unidos e América Latina.
De acordo com um comunicado conjunto das marcas, a fusão vai ajudar a nova montadora a lidar com os grandes desafios do setor, incluindo a desaceleração global da demanda e a necessidade de desenvolver carros que poluam menos, para atender às regras de emissões de gases.
“Queremos entregar mobilidade limpa, mas também segura e acessível aos nossos clientes”, resumiu Tavares.
Ao todo, o grupo será composto pelas marcas Abarth, Fiat, Jeep, Dodge, Lancia, Ram, Chrysler, Alfa Romeo, Maserati, Peugeot, Citroën, DS, Opel e Vauxhall, permitindo atender mercados de massa e carros premium, bem como para caminhões e veículos comerciais leves.
O conselho do novo grupo será formado por 11 membros, com a maioria independente. Cinco membros serão nomeados pela FCA, enquanto outros cinco serão indicados pela PSA. Carlos Tavares, o CEO, será o 11º membro.
Antes da conclusão do negócio, a FCA distribuirá um dividendo de 5,5 bilhões de euros aos seus acionistas, enquanto a PSA fará a distribuição aos seus acionistas a sua participação de 46% na Faurecia, fabricante de autopeças.
Sem fechar fábricas
Carlos Tavares, executivo-chefe da Peugeot, disse que espera que as companhias não tenham que fazer amplas concessões para verem a fusão ser aprovada por autoridades de defesa da concorrência, mas acrescentou que elas estão preparadas para isso. Ele não deu detalhes.
Um dos pontos mais críticos do acordo são as potenciais demissões. O grupo combinado tem atualmente cerca de 400 mil funcionários e governos da Itália e de Paris estão preocupados com as potenciais implicações da operação na força de trabalho local.
Tavares reafirmou que as montadoras poderão alcançar bilhões de euros em economias anuais de custos sem ser preciso fechar fábricas. Mas ele não excluiu a possibilidade de demissões ao ser questionado a respeito: “Trata-se da indústria de veículos, não da PSA.”
“As margens continuam pressionadas e você tem que ficar constantemente buscando ganhos de produtividade”, acrescentou.
Não é a primeira vez que o Grupo FCA, fundado em 2014, busca formar alianças com outras empresas do setor automotivo. Em 2015, apresentou propostas para uma fusão com a General Motors, que recusou de imediato por e-mail.
Na época, o então presidente-executivo da FCA, Sergio Marchionne, morto em 2018, disse que a indústria automobilística precisa de outra rodada de consolidação para repartir os custos de desenvolvimento de carros mais ecológicos e inteligentes, além de reduzir o número de montadoras.
Em 2017, Marchionne também apresentou o desejo de uma fusão entre a FCA e a Volkswagen — e recebeu mais uma resposta negativa.
Porém, mesmo com a morte de Marchionne, o grupo ítalo-americano não deixou de lado a vontade do ex-chefão e, no início de 2019, procurou a Renault para propor uma fusão. A ação gerou atritos na aliança Renault-Nissan e a japonesa chegou a dizer que iria rever a aliança caso a francesa aceitasse a proposta.
Pouco tempo depois, a própria FCA desistiu de concretizar o negócio, culpando o governo francês por suas condições políticas, e agradecendo à Renault, Nissan e Mitsubishi.