Moradores do Bairro Pires, em Congonhas, Região Central de Minas, que tiveram o abastecimento de água afetado após a extravasão de rejeitos de minério da Barragem do Josino, na última sexta-feira, que contaminaram uma das nascentes da região, seguem sua via-crúcis. Ontem, reunião entre prefeitura municipal, Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), representantes da empresa Ferro+Mineração e demais órgãos competentes definiu medidas para atenuar o problema, sendo a principal delas a abertura de um poço artesiano. A questão é que o poço deve ser construído somente após 10 dias.
Como a captação de água foi cortada e, por precaução, a prefeitura orienta não ingerir qualquer líquido das torneiras, a comunidade de cerca de dois mil habitantes está sendo abastecida via caminhões-pipa e galões de água, mas os moradores relatam problemas. “No Natal, tive que correr atrás de caminhão, porque eles não param. Meio que você tem que solicitar. Escutei e corri atrás, dei sorte de poder encher minha caixa d’água. Fica somente nessa parte de vistoria, mas nada oficial ainda, nem uma data”, relatou o auxiliar de topografia Luís Monteiro, de 22 anos, ressaltando que a água está sendo distribuída sem uma ordem definida.
Ouvida pela reportagem na última segunda-feira, a dona de casa Diana Monteiro, de 46, confirmou que aconteceu o que ela temia: passou o Natal sem água limpa na torneira. “Tem uma água que vem e ainda está só o barro. Eles cortaram a água, mas em algumas casas ainda chega. Não está vindo minério vermelho, está vindo preto. Estamos preocupados, pois temos criança pequena em casa. Já faz uns bons dias que está assim, e a tendência é seguir”, contou.
Estudante de um curso técnico em mineração, Michael Douglas, de 22, reclamou da espécie de “aula prática” que teve sobre como não proceder diante dos imprevistos do setor. Ele também passou o Natal sem água limpa, já que foi abastecido por um caminhão-pipa somente ontem. “Acabei de ser atendido por um caminhão, mas tive que ir atrás dele. O pessoal só vem e abastece, e não falam até quando vai durar ou quando a água vai voltar. Está atrapalhando todo mundo. Pessoal está na apreensão, e não podemos ficar assim”.
A prefeitura informou que a água emergencial do poço artesiano não será cobrada, já que será de responsabilidade da Ferro Mi- neração. A compensação deve perdurar por três anos e completamente custeada pela empresa. A ideia é que, depois disso, a nascente já esteja limpa. Em nota, a Ferro Mineração informa que o dique do Josino “não tem correlação com o abastecimento de água do Bairro do Pires em Congonhas, na Região Central. Conforme a empresa, órgãos competentes (ANM, Feam, Defesa Civil, Ministério Público, Polícia Militar de Meio Ambiente e Prefeitura de Congonhas) fiscalizaram o dique, responsável por captação de água pluvial e contenção de sedimentos, e confirmaram a integridade da estrutura, que está operante e intacta, sem registro de rompimento”.
A nota diz ainda que a comunidade do Pires é abastecida por nascentes a céu aberto, sendo prejudicadas continuamente pelas chuvas que atingem a região. “A empresa, historicamente parceira da comunidade do Pires, buscou soluções imediatas para suprir a falta de água das casas, oferecendo caminhões-pipa e melhorias nos canais de condução das águas”.