Nos últimos anos criou-se uma terminologia: cidadão de bem. E, assim como nosso Raulzito, eu não posso entender tanta gente aceitando a mentira.
Acredito que tal nomenclatura (adoto tal indicação uma vez que busca identificar pessoas) passou a ser adotada por então candidatos políticos para identificar seus possíveis eleitores nos últimos anos.
Partindo dessa ideia, temos claro que o “cidadão de bem” passou a figurar como um verdadeiro produto comercial na política e pela população geral. Ou seja, quem se enquadraria na qualificação “cidadão de bem” jurava amor a um candidato e, automaticamente, deixaria de participar de uma outra camada de eleitores que tem visão diversa e, simplesmente por tal situação, se verificaram como seres piores.
Raul Seixas cantou: Porque quando jurei meu amor / Eu traí a mim mesmo. E buscando nos integrar a um grupo social, deixamos de ser indivíduos dotados de características próprias.
Quem gosta de ser vinculado a pontos negativos? Ninguém. Toda e qualquer pessoa deseja ser vinculada a situações que elevam sua moral e estima pessoal. Ou seja, se você se unir aos “cidadãos de bem” será um deles. Se você apoiar corruptos, será um deles.
Essa polarização gerou um efeito muito grave em nossa sociedade. Quem se considera um “cidadão de bem” (já que não há algum ato público que assim declare e/ou reconheça tal classificação) passou a agir com prepotência e arrogância julgando os demais.
Desta forma o “cidadão de bem” acaba por fomentar discurso de ódio e separação. Como se estivessem tais cidadãos acima do bem e do mal; não fossem capazes de praticar crimes; não pudessem ser verificados como maus-exemplos por suas condutas.
Os simples xingamentos (injúrias) e fofocas (difamação) rotineiramente cometidos por estes cidadãos por si só já caracterizam crimes. Ocorre que o conceito do cidadão qual tratamos aqui vem sendo alargado. Passando a conferir o “bem” também àquele que ofende aqueles que não são de seu grupo.
Por este motivo entendo, com todo respeito, que o conceito do cidadão de bem não pode ser confundido com “cidadão médio”. Cidadão médio é aquele que cumpre seus deveres sociais. Já o tal “de bem” se coloca acima de tais deveres.
Lado outro, aqueles que não se identificam com o “cidadão de bem” também se entendem no direito de ofender aqueles que não se verificam em identidade com suas ideias e princípios. E a história se repete diuturnamente como um reflexo de ações num jogo Newtoniano (3ª Lei de Newton: A toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade).
Sempre haverá quem discorde de nossas ideias. Sempre haverá quem concorde totalmente ou em parte. Sempre haverá aqueles que concordando ou não… guardam silencio e, por fim, sempre haverá aqueles que não prestam a mínima atenção à sua tentativa de incutir ideias na cabeça alheia.
Reclamar e realizar postagens em sua rede social não vai te tornar uma pessoa melhor, seja em prol do cidadão de bem ou ao seu revés. Tampouco vai fazer a diferença no mundo. Perca seu medo. Raulzito reconheceu que sentia medo e cantou: Eu perdi o meu medo / o meu medo, o meu medo da chuva / Pois a chuva voltando pra terra / traz coisas do ar.
O melhor a se fazer é ser um CIDADÃO DO BEM. Aquele que cuida de sua vida, é prestativo, atencioso, que faz o melhor para o coletivo independentemente de convicções pessoais. É aquele que apesar de não concordar com suas ideias, luta para que você possa dizê-las. É difícil… mas não impossível. É questão de postura.
Que neste ano que se aproxima você e eu possamos ser do bem.