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Quase um ano depois do desastre em Córrego do Feijão, em Brumadinho, os mais de 7 milhões de metros cúbicos (m3) de rejeito de minério despejados na Bacia do Rio Paraopeba devido ao rompimento da barragem da Vale começam a ganhar destino definitivo. A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) autorizou ontem a mineradora a depositar os resíduos na cava da mina, próximo ao local da tragédia. O transporte do material vai começar imediatamente.
Desde outubro a empresa pleiteava a autorização. Como o Estado de Minas antecipou na edição de ontem, estudos indicavam que o destino confinado representaria menores impactos e mais segurança na remoção dos rejeitos espalhados pelos 9,6 quilômetros de extensão do Ribeirão Ferro-Carvão. Os resíduos serão depositados na antiga cava da Mina Córrego do Feijão, uma depressão rochosa aberta na serra com capacidade para receber até 27 milhões de m3 de material, dentro do próprio complexo minerário.
Atualmente, cerca de 1,3 milhão de rejeitos já vistoriados pelo Corpo de Bombeiros, que continua as buscas pelos 13 desaparecidos, ficam em pilhas na área da empresa. A expectativa é que o novo destino dos resíduos facilite o trabalho da corporação em áreas ainda não exploradas. “A retirada do material para outro local de descarte vai liberar mais áreas para fazermos a secagem de rejeito, necessária dependendo da qualidade do material”, explica o capitão Acácio Tristão Gouvea, chefe de operações da base dos Bombeiros em Brumadinho. Atualmente, 80 militares trabalham nas buscas. Os trabalhos seguem ininterruptamente, inclusive no réveillon.
Para a concessão da autorização, a secretaria solicitou da Vale estudos hidrogeológicos, procedimentos de gestão de resíduos e monitoramento da cava. Entre as condições para a licença, válida por 10 anos, estão uma série de medidas de controle sobre a caracterização dos resíduos, o monitoramento das águas superficiais e subterrâneas, dos ruídos e de vibração.
“A disposição na cava é considerada ambientalmente correta, pois, além de ser realizada em uma área tecnicamente segura, sem a necessidade de construção de barramentos, diques ou novas estruturas de contenção, é uma área antropizada (já descaracterizada pela ação humana), o que reduz o impacto ambiental, visual e facilita a recuperação da área, quando do seu descomissionamento (desativação, com recuperação ambiental”, informa a Semad.
Atualmente, depois de removidos do curso d’água os rejeitos são vistoriados e liberados pelas equipes de bombeiros que ainda realizam as buscas pelos desaparecidos, 13 de um total de 270 vítimas do rompimento. Em seguida, o material é transportado por uma estrada de terra de 3,6 quilômetros que foi criada a partir da antiga estrada de ferro operada no complexo. As primeiras casas do Bairro Parque do Lago, de Brumadinho, ficam a apenas a 130 metros dessa via. A estrada de ligação com o Bairro Córrego do Feijão fica a menos de 100 metros. Os caminhões que saem da zona quente de buscas por vítimas carregados com rejeitos removidos da área atingida sobem toda a estrada, passando pelas antigas estruturas de beneficiamento, que foram destruídas e desmobilizadas.
A Mina Córrego do Feijão ainda estava em operação em dezembro de 2018, antes do rompimento da barragem B1, em 25 de janeiro. Um projeto de integração com as operações da mina vizinha, de Jangada, estava em andamento, aguardando autorização dos órgãos ambientais. Mesmo com a cava contendo minério de ferro não explorado, a Vale se comprometeu a não mais ativar as atividades no local, o que deixaria o espaço aberto para a destinação de rejeitos se assim for aprovado pelos órgãos ambientais. A usina de tratamento do complexo minerário também está desativada, mas ainda não se sabe se há planos para seu aproveitamento futuro.
Em nota, a Vale informou que “o uso do local é a solução definitiva e mais segura para acomodar o rejeito, uma vez que a cava é uma escavação realizada em rocha resistente, controlada e monitorada em termos ambientais, geotécnicos e operacionais”. Segundo o texto, a cava tem capacidade para receber o rejeito que precisa ser armazenado e o transporte será feito em caminhões, usando exclusivamente vias internas do complexo da mineradora.
Em Mariana, o destino dos rejeitos é um drama que já representa mais de quatro anos de atrasos, depois do rompimento da Barragem do Fundão, da Samarco, em novembro de 2015. Até hoje não há destino definido para os cerca de 40 milhões de metros cúbicos de resíduos de minério de ferro que vazaram após o desastre, e inundaram o Vale do Rio Doce.
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